Selvático

Vinte e seis

Alana

O vento sacudia meu cabelo e meu minúsculo vestido. Era impossível não ficar em pânico. Nunca tinha caído de uma altura daquelas, eu sempre mantinha as asas abertas antes de levantar voo. Tento me concentrar em olhar pra cima, eu caía tão rápido que não tinha certeza se tinha visto a mulher maluca atrás de mim. Mas eu não podia esperar mais. Liberto as asas e começo a planar. Meu coração vai desacelerando aos poucos na medida que eu desacelero também, e deixo que o ar me carregue pelo céu.

O sol estava quase tocando a água, se pondo no horizonte daquele mar infinito. Seria uma vista bonita se pelo menos eu soubesse onde estava. Meu momento de alívio dura pouco, minhas asas ficam rígidas e eu não tenho mais controle sobre elas. Me sinto sendo puxada lentamente para baixo por uma força mais forte que a gravidade. Tento bater as asas em vão, não conseguia subir. Estava caindo cada vez mais. Fecho os olhos e só consigo gritar. Era inútil, ninguém me ouviria. Sei que o mar está perto mas ao invés de bater contra a água sinto que cheguei ao chão. Abro os olhos devagar e já sem fôlego. O coração a mil por hora. Eu estava deitada no convés de um barco.

— Ele está vindo em nossa direção — era Penélope, mas ela não estava falando comigo.

A mulher passa direto por mim sem sequer me olhar. Ela se aproxima de alguém que estava a poucos metros mais a frente. O homem olha na minha direção e sorri como se visse algo muito engraçado. Seu olhar era voraz e perverso, e me causava calafrios. Ele era alto, musculoso, pele branca, cabelos pretos. Ele era exatamente igual a Killin, exceto pelos olhos dourados e não verdes.

Eu soube no mesmo momento que não era ele. Mas então quem? Não pode ser...

— Ótimo. — ele a responde. Até a voz era a mesma.

Sinto meu coração batendo forte contra o peito, parecia que a qualquer minuto sairia pela boca.

— Você não é ele... — sussurro. Era impossível pra mim pensar em qualquer outra coisa agora.

— Não, querida — o homem olha pra mim como se me avaliasse — Tiordan Crane.

— O que você quer comigo? O que você fez com Killian? — minha voz saiu chorosa. O deus parecia apenas alguns anos mais velho que Killian.

Seu sorriso aumenta, meu sofrimento parecia diverti-lo.

— Não se preocupe, ele já deve chegar... -
— Tiordan caminha até mim lentamente, e olhava minhas asas com certo fascínio — Sabe, é uma pena, Alana. Eu realmente não queria ter que fazer isso, ainda mais com um ser tão lindo quanto você, mas você não me deixou outra escolha.

— Do que você tá falando? — recuo conforme ele avança.

— Me desculpe pelo grifo, não era pra você ter sentido tanta dor em vão — ele suspira.

O que ele queria dizer com aquilo? Era pra eu estar morta?

— Depois de ontem eu pensei muito. Talvez te matar fosse uma medida drástica demais, tentei te dar uma chance de voltar pra casa mas você insistiu naquilo — ele aponta para o mar.

Nada do que ele dizia fazia o menor sentido. Mas de repente consigo ligar os pontos a respeito de uma coisa.

— Meu pai?! Você mandou ele pra me buscar? — pergunto mais para ganhar tempo. Não sabia se conseguiria sair do barco, mas também não queria ter que pular na água.

Ele estava chegando muito perto. Talvez eu não tivesse escolha. Qualquer lugar parecia melhor do que perto dele.

— Gosto de pensar no clã das asas de penas como meus protegidos, são criaturas magníficas, mas não muito espertas pelo visto — Crane olha pra mim com desdém e então desvia o olhar pra água — Aí está ele.