Quarenta e oito

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Killian

Assim que saio da água, uma multidão vem me receber. Alguns dizem palavras encorajadoras e elogios, outros apenas sorriam cautelosos. Era compreensível que achassem que eu poderia ser até pior com eles do que Logan, sua índole era no mínimo canalha e seus costumes questionáveis, para não dizer incompetentes. Eu podia não ter experiência alguma em ser líder de uma comunidade inteira, mas certamente estavam melhores agora. Eu colocaria um fim aos conflitos violentos que assolavam essas pessoas, forçadas a travarem batalhas apenas porque seu Alfa teve um desentendimento com outro.

— Foi uma bela luta, senhor — alguém diz, mas não presto atenção.

Ao meu redor alguns fazem reverências curtas e os outros em volta copiam o gesto de forma estranha, como se não soubessem como agir.

— Não precisam fazer isso pra mim — olho para cima no lugar onde tinha visto Alana.

Ela não estava mais lá. Abro caminho entre eles e começo a subir os degraus mas não havia nenhum sinal dela naquela arena. De repente a multidão faz menos barulho, aguardando ordens minhas. Eu olho para trás, para a arena onde Logan tentava tirar o filho da água sozinho.

— Senhor, o que devemos fazer com os derrotados? — um homem de aparece jovem pergunta.

Penso por alguns segundos. Se eles estivessem no meu lugar, eu poderia esperar pela morte nos próximos minutos. Jamais me perdoariam caso eu perdesse, e embora eu estivesse com raiva, eu realmente não queria matá-los, não seria justo.

— Ajudem-os, levem-os para casa e garantam que recebem cuidados médicos. Eles podem ficar aqui pelo o tempo que quiserem, mas não tem mais autoridade sobre ninguém aqui. — digo alto o suficiente para que eles ouçam.

Vejo o antigo Alfa olhar para mim, mas ele não responde nada. Eu volto na direção oposta, descendo as escadas, não ligando para o chão de pedra que eu estava molhando. Tenho um pressentimento estranho. Sentia uma pressão nos ouvidos como se ainda estivesse em baixo d'água, um arrepio percorre todo o meu corpo, fazendo o cabelo na minha nuca levantar. Um cheiro metálico vinha da sala de onde vim para a luta. Antes mesmo de abrir a porta eu me sinto mais lento, e para o meu alívio e espanto, minha companheira estava realmente lá dentro, mas não sozinha.

— Killian, me desculpa, eu tentei achar você — Alana choraminga enquanto uma longa adaga pressionava seu pescoço.

A feiticeira que a havia ameaçado antes da luta estava de volta. Reconheço a arma, Azriel trouxe duas adagas de seu clã e elas haviam desaparecido logo após terem sido usadas contra Crane. Eram as únicas armas conhecidas que poderiam ferí-lo.

— Fica calma, está tudo bem — tento tranquilizá-la, mas eu mesmo não estava.

— Não minta pra ela, garoto. Sua fadinha não vai sair daqui com vida se não devolver os poderes que roubou do senhor dos sonhos — a bruxa ousa falar comigo.

Minha companheira estava entre a parede e a lâmina. Um filete de sangue escorre por sua pele onde a adaga ameaça perfurar. Tento usar qualquer poder que tinha dentro de mim mas não funciona. Uma sensação de letargia me invade e até mesmo o simples ato de permanecer de olhos abertos exige um grande esforço. Sei o que está acontecendo, sei o que ela está fazendo comigo mas eu não podia ceder, tinha que permanecer forte para a minha companheira.

— Aparentemente Angélica não lhe ensinou tudo... Foi bem fácil te desestabilizar, afinal você mal sabe como usar o dom que recebeu — a bruxa percebe meu estado — Há anos ela não liga pra nós, e nem ao menos sabe que quase todas as bruxas não a seguem mais. Agora vocês estão sozinhos, e ninguém vai vir salvar vocês desta vez.

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