Trinta e cinco

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Alana

O quarto parecia ainda mais escuro do que antes. Me sento na cama e afasto as cortinas apenas o suficiente. Já estava escuro lá fora. Eu havia dormido muito e mesmo sabendo que tínhamos pouco tempo juntos Killian nem havia me acordado. Onde ele estava?

Lembro dele colocando lençóis secos e de nós dois deitados. Ele fazia carinho no meu cabelo e eu simplesmente apaguei. Saio da cama e tento acender a luz. Não funciona, meu companheiro havia destruído algumas coisas nos últimos dias e algumas delas eram as lâmpadas. Mesmo no escuro consigo distinguir um tecido dobrado na cama. Era meu vestido. Vou ao banheiro me arrumar, ao menos lá havia luz. Levo alguns minutos para ajeitar o cabelo embaraçado, mas consigo me deixar como estava antes. Me sinto estranha de repente. Como se algo estivesse errado. Saio às pressas do banheiro e entro em todos os cômodos. Killian não estava em lugar nenhum. Ele só podia estar lá fora. Vou em direção a porta da sala para sair mas estava trancada.

Ah não, Killian...

Bato na porta na esperança dele estar por perto mas não parecia ter ninguém. Olho ao redor procurando outra saída quando lembro: A janela.

Vou até elas mas estavam igualmente trancadas. A sensação ruim só estava aumentando, eu não posso ficar aqui dentro de braços cruzados sem fazer nada. Talvez por aflição ou pura imprudência, eu pego a cadeira mais próxima e a jogo contra a janela. O vidro trinca. Tento novamente e com mais força. Finalmente a janela quebra. Estou com tanta pressa que nem termino de quebrar os vidros pontiagudos que sobraram, apenas abro as asas e saio. Começo a tremer de frio assim que estou do lado de fora. Que porra de vento gelado.

— Killian? — chamo assim que coloco os pés no chão.

Não tive resposta. Mas que saco, por que ele tinha que sumir logo agora? Nosso tempo estava acabando, e não sabia quando teria a chance de vê-lo novamente. Já havia sido difícil o bastante para conseguir vir até aqui, e eu não podia ficar pra dormir, era perigoso sem contar que não seria bem visto por ninguém. Dou a volta na casa e caminho na direção que acho que era a entrada. Ao adentrar as árvores começo a ouvir uma discussão. Corro na direção das vozes, em pouco tempo eu acho onde Killian está.

— CALMA GAROTO, A GENTE SÓ TÁ FAZENDO O NOSSO TRABALHO! — um homem do exército coloca a arma no chão e os outros que estão com ele fazem o mesmo.

Tinha pelo menos uns dez deles. Killian segurava um outro homem pelo pescoço, e pela expressão dele parecia estar prestes a sufocar.

— KILLIAN ME ESCUTA, NÃO PRECISA SER ASSIM! — reconheço a doutora Callahan vindo com mais homens armados.

Apenas fico ali incapaz de me mover, mortificada pela cena péssima que meu companheiro protagonizava. Anda Alana. Você precisa fazer alguma coisa...

— Killian... — eu o chamo com a voz trêmula.

Ele finalmente desvia a atenção do exército e olha pra mim. Killian ainda parecia furioso, mas aos poucos sua expressão se suaviza e ele deixa o soldado cair no chão.

— Não atirem! — ouço Barbara dizer.

Caminho na direção dele. Estava assustada pelo o que o tinha visto fazer, mas não podia culpa-lo pois não sabia o que tinha acontecido.

— O que hou...

Não consigo completar a frase. Um projétil passa próximo a mim e acerta Killian. Cubro o rosto com as mãos ao perceber a gravidade daquilo, mas parece não ter sido nada. Meu companheiro apenas olha o ferimento e retira uma espécie de dardo vermelho.

SelváticoOnde histórias criam vida. Descubra agora