Trinta e um

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Alana

— Está tudo bem, sentir isso tudo é normal — a psicóloga me estende outro lencinho.

Aceito e volto a enxugar o rosto novamente.

— Estou com medo de nunca mais vê-lo, eu sei que todo mundo disse que vou ter permissão pra ver ele porque somos companheiros... Mas não era assim que eu imaginava que ia terminar pra nós — confesso triste.

— Ei, as coisas não vão terminar assim, Killian passou no teste, ele consegue se controlar. Vai dar tudo certo na audiência — Serena me ajuda como pode.

Fazia uma semana desde que levaram Killian. Angélica e Azriel também não voltaram, e hoje seria o julgamento onde os humanos decidiriam o que fazer com ele. Levou um tempo para que eu entendesse o significado de tudo o que estava acontecendo, mas Serena explicou algumas vezes até que eu conseguisse assimilar que Tiordan Crane armou tudo isso para nos separar.

Alguém bate na porta.

— Sim? — a deusa pergunta.

— Está na hora — era Magnus, seu companheiro.

Ela assente e suspira. A presença dela foi solicitada na audiência, como psicóloga de Killian durante muitos anos o depoimento dela seria importante pra sentença. Me levanto para sair, mas sou surpreendida por um abraço.

— Fique bem querida. Magnus vai estar aqui, ele não vai deixar nada acontecer com você.

Aquilo tudo era injusto. Eu não podia deixar a escola. Apesar de ter sido invadido por grifos, ainda era mais seguro aqui do que lá fora. Por isso o tribunal que o julgaria permitiu que eu assistisse a audiência à distância. Felizmente não seria público, apenas eu e um pequeno grupo de professores tinham permissão para ver. Não sabia se queria fazer isso sozinha. Ainda mais hoje, no dia do aniversário dele.

— Faltam duas horas, a audiência vai ser transmitida da sala dos professores. Pode esperar aqui sozinha ou chamar alguém pra ficar com você — ela dá algumas últimas instruções — E tente comer alguma coisa.

— Obrigada. — é tudo o que consigo dizer.

Serena vai embora e após alguns minutos eu ligo a televisão. Passo por canais de esportes, culinárias até achar o de notícias. Uma mulher falava sobre a previsão do tempo. Quero sair da sala mas ao mesmo tempo não quero arriscar encontrar com meu pai. Ele ainda não havia ido embora, e ficava dizendo o tempo todo que se eu quisesse ir embora poderíamos ir. Mas era mentira, Azriel proibiu que ele saísse. Era muito perigoso.

Deito no sofá e descanso a cabeça na almofada. Caio no sono sem perceber. Volto a abrir os olhos com uma batida na porta. Não sei dizer quanto tempo se passou. Levanto e nem me preocupo em ajeitar o vestido amassado, não estava em condições de me importar com qualquer outra coisa. Abro a porta e o deus protetor dos felinos trazia uma sacola, a julgar pelo cheiro era comida recém saída do forno. Minha barriga ronca mas não sei se conseguiria comer agora. Estava nervosa demais.

— Vai começar em trinta minutos. Volto aqui para te chamar em dez minutos. — ele anuncia.

Apenas concordo com a cabeça e agradeço.

— Sei que é um momento difícil, mas tem duas garotas aqui fora que querem ver você. Devo deixar elas entrarem?

Garotas? Então me lembro que só poderiam ser duas pessoas. Eu quase não havia falado com elas durante essa semana. Seria bom me distrair um pouco.

— Sim, claro — mal termino de falar e as duas saem entrando na sala.

— O que significa isso, Naomi? — o deus se assusta com a invasão.

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