Quarenta

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Alana

— Que bom te ver, Alana. — Angélica me cumprimenta.

— Como ele está? — pergunto sem rodeios.

— Killian está bem, ele sente sua falta. Você poderia até visitá-lo mas sua presença lá pode distraí-lo, e ele realmente precisa se concentrar agora. Você entende, não é?

Apenas olho para o outro lado, evitando encarar a deusa da magia. Não era essa a informação que Azriel havia passado pra mim. Pelo o que eu sabia os visitantes do clã dos répteis haviam solicitado que ele não me visse mais até o dia da luta. A ansiedade estava acabando comigo, mas não ouso perguntar mais nada a ela.

— Antes que eu me esqueça, Killian pediu que a entregasse — a deusa me estende um envelope branco.

Ele escreveu uma carta pra mim. Ignoro os olhares curiosos dela e do meu pai e desdobro o papel rapidamente. Era bom e ao mesmo tempo doloroso ler aquilo. A professora de aparceiramento estava certa, afinal. Eu começava a sentir sintomas físicos que a distância estava causando, e aparentemente Killian também. Mal conseguia me concentrar em tarefas simples, me sentia irritada facilmente, não conseguia dormir ou comer direito.

— O que está dizendo aí? — meu intrometidao pai pergunta.

Apenas o encaro sem reagir. O silêncio naquela sala já deveria ser resposta o suficiente.

— O que diz? Você ainda não é casada então tem que me obedecer.

Angélica ri. Era a única na sala que parecia se divertir com o diálogo. Só havia nós três. Estava pensando no jeito mais civilizado de respondê-lo quando a porta abre. Azriel não diz nada ao entrar, nem mesmo se dirige a companheira. Ele passa direto por ela e se senta do outro lado da mesa, mantendo distância. Eles ainda não estão se falando.

— Acredito que já devem ter conversado — o deus diz sério enquanto organiza alguns livros espalhados.

— Azriel, talvez devesse ouvir as ideias antiquadas e machistas que seu subordinado acaba de dizer — Angélica comenta tranquilamente.

— O que foi que você disse? - Ele pergunta ao meu pai com um suspiro irritado.

— Meu senhor eu apenas questionei o conteúdo da carta que seu filho mandou para a minha filha. Isso não é certo, eles não são casados, não podem ter esse tipo de contato.

Os deus supremo dos asas de penas serra os punhos sobre a mesa. Nunca o vi tão nervoso quanto nas últimas semanas. A tensão paira no ar por longos segundos, deixando a atmosfera ainda mais tensa, como se uma nuvem escura e pesada fosse começar a chover em cima de nós. Eu não tinha nada a acrescentar, na verdade, acho que meu pai precisava de um choque de realidade o mais rápido possível.

— Eu não quero mais você se intrometendo na vida de Alana. Está passando de todos os limites e minha paciência está acabando. Também não quero mais ouvir uma palavra do que você acha que é certo ou errado sobre os dois. Eles são companheiros e eu não dou a mínima para o que você acha disso.

O silêncio estranho se segue antes do meu pai responder:

— Sim, senhor. — graças aos céus ele pararia de me incomodar sobre isso.

— Hoje só nós dois iremos visitá-la, Alana. Como eu já havia dito pra você antes, pretendo levar o companheiro dela para conhecê-la, você decide se quer ir amanhã também ou não.

Ainda não sabia quem era o companheiro da minha mãe, mas esperava que fosse um cara legal. Um melhor do que o meu pai, mas tenho certeza de que não seria muito difícil exigir isso de nenhum homem. Por mais que eu quisesse manter contato com ela, acho que seria muito esquisito ficar no meio de dois companheiros se conhecendo.

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