Sábado.
Lembro de quando estava aprendendo a andar de bicicleta sem as rodinhas acopladas na traseira. Foi algo difícil para mim. Meus irmãos, mais novos que eu, já conseguiam dar a volta no quarteirão e por isso sempre caçoavam enquanto meu pai se esforçava para me manter equilibrando sobre aquelas duas rodas por mais de 15 segundos. Finalmente quando consegui girar o pedal duas vezes sozinha, acabei caindo e ralando o joelho esquerdo. Aquilo doeu de uma forma que doía e ao mesmo tempo não doía. Sabe como é? É uma dor agoniante, mas que não se sente tanto assim, é mais como uma coceira irritante, e não se compara à dor de bater, por exemplo, a cintura na quina de algum móvel.
Essa tal dor agoniante é o que está me consumindo no momento. Não preciso, mas ainda assim direi que eu não dormi essa madrugada. Juliette Freire está passeando pelo meu córtex há um bom tempo e isso não é novidade. Mas nas vezes anteriores não havia essa dor que há agora. Isso é normal? Eu não sei e acho que não é.
Sábado. Septuagésimo sexto dia. Caso eu não tivesse ampliando o meu círculo social, ainda teria uns duzentos e poucos outros dias, na escola, perto de Juliette. Agora, além de falar com a garota malditamente adorável, nos vemos quase a semana inteira. Se antes eu tinha medo de nunca mais ter a chance de ver a Freire depois desse último ano, recentemente o meu medo é exatamente continuar tendo contato com ela.
Quando você admira alguém em segredo é possível controlar as emoções e ações, porém quando você passa a ter, constantemente, a pessoa por perto a situação se complica e atos ridículos e quase inexplicáveis são feitos por você. Com isso, quero registrar a minha falta de arrependimento por quase beijar Juliette. Por outro lado dizer que me arrependo por não ter feito aquilo pode vir a ser uma verdade. Um dia. Dois arrependimentos seria demais para alguém como eu.
— É, Viih, ela está aqui coberta até a cabeça dizendo que não vai... Aham. Claro! Espera que vou perguntar a ela.
Thaís ainda tentava me fazer ir para a casa de Juliette. Eu não quero ir, já falei. Quero ver alguém me fazer sair dessa cama !
Já era de tarde e minha amiga passou aqui, mesmo depois de eu dizer que não ia, e agora está reclamando para a Moraes como se eu fosse uma criança.
— Sah, você tem duas opções: Ir de livre e quase espontânea vontade ou esperar Carla e Viih virem aqui te buscar. Qual você escolhe?
Escolho que você suma junto com todas as outras! Você sabe da minha situação com a dona da casa para qual querem me arrastar!
— Anda Andrade, elas estão na linha esperando sua resposta. — Respirei fundo e tirei o cobertor por inteiro de cima de mim.
— Eu vou sozinha. Sou independente. — A morena sorriu para mim e eu praguejei em sussurros.
— Sim, amiga. Chegamos aí em meia-hora. Beijos!
Encerrou a chamada e levantou-se.
— Vai tomar um banho e se arrumar enquanto eu arrumo sua mochila, vai.
— Thaís, não é uma boa ideia eu ir. — Tentei tocar seu coração com um semblante digno de pena. — Ela nem ao menos mandou uma mensagem falando o quão ansiosa estava por eu ir ou por me ver.
Confesso, foi terrível não receber uma mísera mensagem com emoticons idiotas de Juliette. Eu me contentaria até com uma vírgula vinda dela. Qualquer coisa que fosse enviada somente e apenas para mim.
— E daí? Em momento algum ela se opôs ao fato de você ir. — Falou enquanto abria o meu armário e escolhia o que eu levaria. Thaís me conhecia o bastante para saber o que eu uso ou não uso.
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Parece Mais Fácil Nos Filmes | Sariette.
Fanfiction"É óbvio se eu pudesse escolher quem eu gosto, não seria você." todos os direitos e créditos: © sheusedtobeemo