All We Are Is All We've Left Behind.

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Sarah Andrade Point Of View.

Sábado.

O dia de Natal.

Acordei tão cedo quanto a minha realidade e invés de abrir presentes, só desejei que o meu tempo presente se tornasse logo um passado.

Desci até a cozinha, preparei uma xícara com café e fiquei sentada à mesa por um tempo que não calculei. Ter noção do tempo naquele momento era o mesmo que arremessar a noite anterior contra a parede da memória.

— Deixe-me preparar seu café da manhã!

Escutei a voz da minha mãe e ergui a cabeça para vê-la. Ela parecia feliz e eu precisava não ver isso.

— Não estou sentindo fome, mãe. Só preciso de um pouco de água. Obrigada. — Falei, levantando-me, deixando a xícara já vazia na pia e pegando um copo com água.

— Querida, é Natal! Posso fazer panquecas. Há quanto tempo você não come panquecas?

Engoli a saliva com dificuldade, assim como foi difícil engolir a alegria da minha mãe.

— Mãe, não estou com fome. Vou subir.

Ela parou em minha frente, impedindo que eu continuasse.

— Você está sentindo alguma coisa? — Perguntou pousando uma mão em minha testa. — Está se sentindo bem?

Abaixei a cabeça e ri em descrença.

— Não estou me sentindo bem. A senhora sabe.

Não fiquei esperando por alguma outra resposta, apenas desviei dela, saí da cozinha e fui para o meu quarto. Ao fechar a porta caminhei até à minha escrivaninha, onde estava o meu celular. Deixei o copo com água em cima da superfície quase vazia, já que todas as minhas coisas importantes estavam no apartamento, e peguei meu celular. Desbloqueei a tela na esperança de ver alguma mensagem não lida ou ligação perdida.

Não havia nada ali.

Suspirei e inconscientemente naveguei até a galeria de fotos, local que, infelizmente, deu acesso direto ao que eu não precisava lembrar: uma vida feliz compartilhada com mais 5 pessoas, incluindo a minha antiga namorada. Fotos que eu provavelmente não havia tirado. Todas foram Juliette, já que ela agora sabia a senha de bloqueio.

Uma série de fotos iguais dela fingindo dormir com o rosto colado ao Sparky evidenciava como Juliette gastava a memória do celular com... coisas lindas. Ainda passando as imagens, encontrei uma outra série que mostrava Carla cozinhando, Carla posando em frente à geladeira, Carla e Juliette, Carla, Juliette e Kerline. Vitória parecendo brigar com o Sparky por ele estar em cima de um livro dela, Thaís e eu sentadas ao chão da sala, Thaís e Carla posando na janela, Kerline parecendo discutir com Carla... Juliette beijando a minha testa enquanto eu dormia.

Fechei os olhos e soltei o celular sobre a mesa, desistindo de qualquer intenção memorativa que meu (in)consciente queria me proporcionar.

Mais tarde naquele mesmo dia, recebi uma mensagem da Thaís, perguntando como estava tudo, mas ignorei.

E o último diálogo que tive no dia foi com a minha mãe.

— É Natal. Você não quer ver os presentes? — Ela perguntou ao entrar no meu quarto e acender a luz quando eu estava no escuro, sentada com as costas à cabeceira da cama, olhando para o vazio.

— Se a senhora não se importa, eu prefiro não comemorar o Natal esse ano. ­— Respondi sem encará-la.

— Você não comeu nada hoje. Quer que eu traga alguma coisa?

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⏰ Última atualização: Dec 20, 2021 ⏰

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