Thursday.

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Quinta-feira

Quinta-feira. Quarto dia de aula e o meu plano do dia anterior não serviu pra nada. Digo, o meu mantra até que obteve sucesso na parte de tentar recomeçar com o pé direito a minha relação com a Carla, mas na parte de ignorar a outra lá eu falhei. Falhei de uma forma tão ridícula a ponto de sentir vergonha de mim mesma. Se uma eu mais velha surgisse para mim mesma agora, nesse exato momento, eu mais velha me colocaria de castigo. Me reclusaria do mundo. O que não seria má ideia, caso nessa reclusão eu não tivesse acesso a qualquer coisa envolvendo Juliette Freire, a maldita idiota mais encantadora da face da Terra. A propósito, ela poderia mudar o próprio nome para idiota porque apenas pessoas desse gênero fazem o que ela fez ontem. Você tem noção do que é ser ignorada sem motivo aparente por uma pessoa que você mal conversa e que te tratou super bem na primeira vez em que se falaram, mas que depois decidiu se emburrar com você e ainda depois resolve te dar um beijo na bochecha como se fossem amigas há anos? Pois eu não tinha essa noção e se tratando desse cubo-mágico que é Juliette. Eu estou vivendo, quebrando a cara e tentando aprender alguma forma de encaixar as coisas no lugar certo. Só tentando.

— Se você pudesse ser qualquer outra coisa na vida, o que você seria? — Perguntou Thaís enquanto estávamos em nosso caminho de sempre indo à escola.

— Hummm, não sei, e você?

— Ah, eu seria música! — Acho que essa aí enlouqueceu de vez, sinto em ter que dizer, mas já é um caso perdido.

— Impossível você ser música, isso nem ao menos tem vida. Não dá para ser um animal ou algo mais concreto? — Qual é? Eu não acredito que a música tenha vida então ela não tem como ser música. Sejam os racionais.

— Não é impossível e tem vida sim. Deixa eu explicar o porquê. — Ajeitou uma mecha do cabelo atrás da orelha. — Porque você pode ouvir a música por todo o lado. No vento. No ar. Na luz. Está à nossa volta. Para ouvi-la basta deixá-la entrar. Basta ouvir! Todos me ouviriam, as mais diversas pessoas. Pensa que incrível! — Falou sorrindo e eu dei de ombros.

— Nossa, que poético, mas já falei para você parar de assistir filmes?

— Você pode deixar de ser insossa uma vez na vida?

— Não. — Respondi ao mesmo tempo em que atravessávamos a entrada do colégio. — Você é minha amiga e por isso vou te dar um conselho que serve de aviso também. — Nos sentamos em um banco do pátio e ela me encarou esperando que eu continuasse. — Essas coisas que vocês tanto falam, são coisas de filmes. Entendeu? Não existem e nem acontecem.

Thaís respirou fundo e fez sinal de "desisto" com as mãos.

— Me diz o que você seria então.

— Ah, depois dessa ficou fácil demais. Uma pedra, uma preciosa de preferência, porque ela é real e, diferente dos sonhos, ela não está por todos os lugares. — Sorri astuta.

— Esqueceu de falar que não tem sentimentos também, né? Além de ser superficial e com valor apenas comercial. — Quando que você vai acordar pra realidade? Passou da hora já!

— Esquece, Thaís. Esquece!

— Eu hein! Você já era amarga, mas parece que ficou mais ainda depois que a — Semicerrei os olhos. Não ouse falar o que eu acho que você vai falar. — Jul...

— BOM DIA! — Me assustei ao escutar o grito e me virei para ver quem era. Já virou rotina surgir no momento dos assuntos mais delicados, Carla? Ela logo abraçou a minha amiga e bagunçou meu cabelo rindo.

— Oi, garotas! — Como sempre a Braz tem que ser a animada.

— Oi... Sai, Diaz! — Bati de leve em sua mão e ela riu.

Parece Mais Fácil Nos Filmes | Sariette.Onde histórias criam vida. Descubra agora