Parece Mais Fácil Nos Filmes | Sariette.

Dream.

Sarah Andrade Point Of View.

Eu queria poder falar sobre dias bucólicos, sobre vidas bucólicas, sobre o tédio... Queria poder lamentar sobre alguma coisa como qualquer romance inglês, mas hoje eu não tenho nada disso pra fazer... Não! Não se assuste, ainda tenho o rancor no interior da minha alma, só estou deixando-o um pouco de lado porque hoje acordei assim e amanhã posso acordar querendo o fim do mundo... é relativo.

É como o mundo funciona. Um dia pensam assim, outro dia não pensam.

Por exemplo, há uns três séculos atrás podia-se ver pares de rapazes namorando em Roma, até porque as mulheres não eram consideradas dignas para os homens, não é? Mas o que foi que aconteceu com o mundo? O que era pra evoluir, não regrediu, só permaneceu igual. Hoje só mulheres podem ter os homens e só os homens podem ter as mulheres.

É algo relativo! Não deve ser imposto!

Por que o mundo não consegue entrar em um consenso?! O que era certo passa a ser errado e o errado se torna certo, mas sempre tem que ter um errado, um certo...? Por que apenas não temos o "cada um prefere uma coisa diferente"?!

Estava quase enlouquecendo com pensamentos assim quando recorri à internet. Encontrei muita coisa horrível, incluindo um fórum onde mães desabafavam sobre a decepção que era ter um filho gay e, a pior parte, foi ver pessoas concordando!! Muitos respondiam que aquilo era realmente um erro e que o extremo de repressão era necessário sim.

Assustada demais com aquelas reações, fechei o fórum e fui buscar coisas mais... filosóficas, poéticas... coisas que não me aterrorizassem mais!

Foi então que acabei entrando em um outro fórum. Um fórum onde pessoas pediam ajuda sobre sua própria aceitação "Essa sou eu!", minha mente pensou. Continuei rolando a página, lendo cada resposta e até sentindo um conforto por não estar sozinha nessa situação... O que quero dizer é que havia muita gente na mesma situação ou em situação pior.

Estava quase fechando a página quando encontrei uma frase citada que prendeu a minha atenção:

"Enfim não creio que em tempo algum nação civilizada haja lavrado leis contra os próprios costumes."

Mordi meu polegar esquerdo, selecionei toda a frase, copiei e colei na barra de busca. Logo encontrei o texto original, cliquei no link, mas não no primeiro! E descobri o que jamais pensei que aconteceria.

Voltaire salvou a minha vida em um momento de desespero!

Sim!

Voltaire, o falecido, o ignorado por grande maioria na escola, aquele que se envolveu no iluminismo... Sim!

E se quer saber, o que ele fala sobre o Amor é inteiramente interessante, inclusive a parte que ele cita a homossexualidade! Sim! Ele cita isso! Sinto-me tão surpresa quanto você. Então, obrigada, Voltaire. Você me tirou dos fóruns obscuros e iluminou a minha mente, na época errada, mas iluminou.

Minha mente estava no gatilho pra pensar mais alguma coisa quando vi a tela do meu celular acender e o nome da minha amiga surgir.

— Oi. — Atendi.

— O que você está fazendo agora? — Thaís perguntou.

— Estava tendo um surto aqui, mas já passou.

— Passou mesmo?

— Sim, sim. E você? O que está fazendo?

— Estou entediada. Quer ir à praia?

— Não... Mas se você quiser, a gente pode ir.

Qualquer coisa me parecia melhor do que ficar em casa surtando.