A Little Piece Of Heaven.

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Juliette Freire Point Of View.

Sabe quando você se sente tristemente feliz? Então, é assim que estou me sentindo desde a terça-feira. Meus motivos para a felicidade são, certamente, maiores do que os que me deixam triste. Para ser mais exata e sincera há apenas um motivo para me fazer ficar triste: Sarah.

Eu não queria ter ficado tão abalada com a nossa discussão, afinal é isso o que mais fazemos desde sempre. Seja por causa da escolha de um filme ou por causa de nossa situação indefinida.

Você já deve ter notado que eu costumo fingir que nunca brigamos e sempre evito deixar uma nuvem cinza e carregada ficar sobre nós. Mas antes eu podia fazer isso porque sabia que a veria, de um jeito ou de outro, no colégio ou em algum encontrinho. E agora como eu posso fazer isso? As aulas acabaram e eu não ter aquelas duas íris verdes analisando-me a cada passo. Eu acho que ela não sabe disso, mas eu sempre reparei quando ela parava e ficava a me observar. Nunca entendi o porque, mas ela tinha esse costume. Às vezes parecia me analisar, outras vezes parecia me vigiar e em outras eu tinha a impressão de que ela estava me olhando sem um motivo específico.

Sarah nunca foi muito específica, não é mesmo? Ela nunca usou palavras que explicassem minhas dúvidas, nunca agiu de forma que esclarecesse as coisas entre nós e quase nunca tomou qualquer atitude por vontade própria.

Já eu, em todo momento, fiz tudo o que senti e tive vontade. Se eu a beijei algumas vezes foi porque quis, se insisti em nossa coisa não especificada foi porque eu queria que virasse algo maior! Eu tinha esperanças de arrancá-la daquele mundo particular e trazê-la pro meu e então criaríamos o nosso! Mas ela estragou tudo!

Eu demonstrei de todas as maneiras que pude o quanto eu a queria e o tanto que eu gosto dela, mas ela nunca entendeu os meus sinais! Tudo bem que nunca disse diretamente "Oi, Sarah. Eu sou apaixonada por você e quero muito tentar um relacionamento com você.". Mas, caramba! Aposto que até você conseguiu entender tudo o que fiz durante todo esse tempo.

Eu só queria que ela gostasse de mim muito mais do que uma colega gosta de outra.

Certo. Eu sei o que você está pensando e eu confirmo: tudo o que eu mais quis durante todo esse ano foi namorar a Sarah.

Eu confesso que nunca imaginei-me gostando de uma garota, mas não me incomodei muito quando isso aconteceu. Afinal, eu jamais tinha beijado alguém antes e nem me apaixonado, então eu podia ser qualquer coisa. E cá entre nós, quando eu descobri que o meu coração batia muito mais forte por ela do que por qualquer outra pessoa que já pensei gostar, eu me senti feliz porque, acima de tudo, erámos amigas.

Na discordância nós sempre concordamos. Nas brigas sempre nos confundimos. E na confusão nos indefinimos.

Agora eu estou aqui, às 09h:37 assistindo Madagascar com a minha irmã. Sim. Fui eu que implorei para que Clara viesse assistir comigo, pois de um jeito bobo e feliz esse filme consegue me fazer voltar aos poucos dias em que eu estava descobrindo meus sentimentos pela Sarah.

Uma zebra jamais será um simples quadrúpede listrado depois que eu conheci a Sarah.

Eu acho que preciso aprender a me desapegar das memórias construídas por nós duas, já que agora não vamos mais estar uma na vida da outra.

— Juju.

— Hum? — Perguntei concentrada na tela da TV, enquanto mantinha meu cotovelo apoiado do braço do sofá e meu polegar quase sem unha, entre meus dentes.

— Você está animada pro baile? — Assenti sem entusiasmo para minha irmã. — Não parece.

— É que não tem nada de muito interessante em um baile... — Expliquei ainda olhando para a televisão.

Parece Mais Fácil Nos Filmes | Sariette.Onde histórias criam vida. Descubra agora