Unholy Confessions.

1K 109 217
                                    

Sábado.

Sah! Eu posso ser a mãe e você o pai. — A morena disse pegando duas bonecas de sua enorme coleção.

— Mas somos meninas, Thata. — Avisei mais preocupada com o que eu via pela janela.

Havia uma árvore ali e tinha um ninho vazio também. Eu só queria saber se os passarinhos voltariam porque eu queria entender como funcionava a vida dos passarinhos em um ninho. Já que o ninho era a casa deles, como funcionava a rotina de um ninho? A rotina da minha casa era parecida com a rotina da casa da Thaís e com a da maioria das casas também. Mas como era dentro de um ninho... literalmente?

Passarinhos passeavam?

— O que é que tem? — Ela perguntou.

— Não pode. — Neguei com a cabeça. — Tem que ser um garoto e uma garota.

— Mas a gente só vai fingir!

Bufei e desisti de esperar pelos passarinhos que não voltavam.

— Então eu quero ser a mãe. — Decretei virando-me para ela, mas ainda olhando de soslaio para ver se os passarinhos, por um acaso, apareceriam...

— Tanto faz.

— Mas ainda acho errado nós duas sermos mãe e pai já que somos garotas.

E aquilo era verdade. Na mente de uma garota de 9 anos certas coisas ainda não fazem sentido.

— Existe isso na vida real, sabia? — Ela disse passando a mão pelos falsos cabelos loiros da boneca.

— Como assim? — Virei-me para ela completamente.

— Sabe o Pedro da nossa sala? — Ela perguntou e eu assenti. — Ouvi uma professora comentar que ele tem duas mães.

— Como duas mães?

Ninguém tem duas mães. Às vezes escuto minha mãe dizer que minha avó é como se fosse a minha segunda mãe. Seria isso ter duas mães? Então, se todo mundo tem duas mães porque a professora comentaria somente sobre as do Pedro?

— Não sei, mas ele tem duas e é de verdade!

Assenti e continuei quieta. Eu não queria mais brincar daquilo.

— Thata, poderíamos ver algum filme ao invés de brincar? Eu estou cansada.

A morena concordou e largou as duas bonecas em cima da cama antes de segurar em meu braço e puxar-me até a sala. Colocou um desenho que eu odiava da Hello Kitty e então sentamo-nos no sofá.

Ao final da tarde naquele dia, meu pai foi me buscar e quando estávamos no carro minha mente começou a raciocinar sem parar.

— Pai, como uma pessoa pode ter duas mães? — Perguntei mexendo em meus próprios dedos.

Sim. Aquilo que Thaís disse ficou martelando desde cedo e eu precisava de uma resposta.

— Duas mães?

— É. Thaís disse que um colega nosso tem duas mães.

— Ah... É que às vezes, Sah. Duas mulheres ou dois homens namoram... casam... Mas não podem ter filhos porque... não conseguem. Então eles adotam alguém ou colocam um bebê na barriga de uma das mães...

— Hum... E essa pessoa nunca vai ter um pai nem uma mãe?

— Não sei, querida.

Parece Mais Fácil Nos Filmes | Sariette.Onde histórias criam vida. Descubra agora