Poetically Pathetic.

1.2K 132 154
                                    

Sexta-feira.

Sexta feira. Octogésimo oitavo dia. Hoje não me opus a ir para o colégio. Mesmo que eu quisesse ficar em casa não poderia. Hoje eu teria que matar dois coelhos com uma só cajadada. O primeiro era fugir da Queiroz e o segundo — e o pior — era conversar com Juliette. Fiquei a madrugada inteira criando e recriando os nossos possíveis diálogos. As coisas tinham que dar certo dessa vez. Mas não posso ser uma sonhadora e dizer que não penso no lado ruins das coisas. Eu não sou como Juliette. Eu não consigo ver um ponto mínimo de luz no meio da escuridão e é por isso que preciso considerar a possibilidade de tudo dar errado. Você sabe muito bem que não sou o tipo de pessoa que consegue zerar um jogo sem antes tentar umas 20 vezes. Não sou o tipo de pessoa que consegue completar uma fase, do jogo, com sucesso ou sem ter trapaceado em alguma parte. Acho que no fim das contas eu não sou o tipo de pessoa certa para Juliette, não sei se ela é para mim também, mas e daí? Eu posso trapacear um pouco e fazer a coisa do jeito certo. Eu consigo. Claro que consigo, só preciso que Juliette fique quieta e não me irrite!

— Você manda eu não me atrasar só pra ficar esperando?

— Calma, Thaís. Espera só um pouco. Eu sei que você vai querer falar com elas e eu não quero ter que fugir. Seria humilhante.

— Ok. Hoje eu vou relevar.

— Obrigada.

Outra vez ficamos paradas em frente a casa da Thaís. Hoje tudo precisa sair como calculei, caso contrário nada dará certo. Aguardamos até o relógio marcar, exatamente, 7h:25. Seguimos nosso habitual caminho para o colégio. Era bom fazer algo normal depois de 4 dias, faz-me pensar sobre tudo o que passou ser apenas um pesadelo. Eu preferia que fosse um pesadelo.

— Quer saber de uma coisa? — Thaís perguntou.

— Não.

— Que seja. É que eu senti falta de trilhar para o colégio com você. Na volta eu ainda tinha a Carla e a Ju...

— Hum... Pra mim tanto faz. Eu poderia ir e vir sozinha todos os dias sem sentir sua falta. — Thaís parou de andar, ficando um pouco pra trás. Fiz o mesmo e girei para olhá-la. — O que foi?

— Isso que você falou é verdade? — Perguntou um tanto melancólica.

— O quê? Que eu não sentiria falta. — Ela assentiu. — Oh, Deus! — Ergui meus braços, não acreditando naquilo — Você se magoou?

— Eu praticamente declarei sentimentos à nossa amizade aqui e você me diz um coisa dessas!

— Foi mal, Thaís... Achei que você não me levasse a sério...

— Você fala tão séria as coisas que não são sérias... Às vezes fico em dúvida. — Deu 4 passos até chegar perto de mim.

— Vamos. — Continuei a andar. — Sem sentimentalismo.

— Você nunca quer sentimentalismo entre nós duas.

— Você também nunca cobrou. Vai cobrar agora? Por favor, não.

— Não vou cobrar hoje, mas depois possa ser que queira cobrar. — Surgiu ao meu lado, acompanhando meus passos.

— Eu agradeço. — Dei uma tapinha em suas costas e seguimos sem mais sentimentalismos.

Ao chegarmos no colégio levamos uma bronca bem feia da inspetora, por pouco ela não nos deixou ficar de fora da primeira aula.

— É o segundo atraso das duas neste ano. Sem contar as suas faltas individuais, Andrade. Sua situação não está nada boa com a escola!

Parece Mais Fácil Nos Filmes | Sariette.Onde histórias criam vida. Descubra agora