I Hear Angels Sing.

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Terça-feira.

Terça-feira. Centésimo nonagésimo dia desde que Juliette falou comigo pela primeira vez. Naquele tempo eu reclamava da vida sem saber que a maldita (vida) poderia e conseguiria piorar. E então ela piorou, gradativamente, de dois jeitos. Primeiro piorou para melhor não tão melhor. Foi quando Juliette Freire e eu nos aproximamos e as coisas aconteceram... intensamente, definiremos assim. E em segundo, piorou para pior do que quando estava pior para melhor. É isso mesmo. Se você repetir a frase consegue encontrar o sentido. Enfim, a segunda parte é esse momento que estou vivendo agora.

— Não entendi. Eu devo chamá-lo ou eu devo comentar sobre o baile e esperar ele se convidar?

— Comentar. — Falei.

— Chamar. — Carla e Thaís me contradisseram.

— Vocês estão me deixando confusa. Preciso decidir logo se eu...

— Adivinhem só o que eu ganhei ontem! — Juliette surgiu animada, atrapalhando nossa conversa.

Estávamos eu, Carla, Vitória e Thaís, sentadas à mesa do refeitório, tentando ajudar Vitória a resolver o atual dilema da vida dela: chamar ou não chamar o garoto que ela gostava para ir ao baile. Mas Juliette, que até então não tinha dado as caras, atrapalhou nosso raciocínio.

A propósito, por que ela demorou tanto para aparecer?

— O quê? — Thaís questionou.

Apoiei o queixo em minhas mãos e encarei a cozinha do refeitório.

— Adivinhem.

— Calma! Deixe-nos pensar! — Vitória pediu.

As três realmente caíram na tal adivinhação, mas eu não me sujeitaria a uma brincadeirinha idiota como essa. Continuei ignorando a presença dela. Olhar para a mulher que mexia a comida, com uma enorme colher, na panela gigante parecia-me mais interessante. Interessante de verdade e sabe por que? Porque nunca como essa comida do colégio. Você já notou o tanto que os cozinheiros suam? Céus! E se, por um acaso gosto salgado não for exatamente do sal e sim do suor? Ugh! Prefiro me prevenir.

— Sarah, você está tentando adivinhar? — Perguntou calmamente, sentando-se ao meu lado, mas eu juro que senti ironia na voz dela.

Ela acha mesmo que pode ficar soltando provocações para mim depois do que ela fez ontem? Não! Juliette não pode falar nada comigo depois que aceitou ir ao baile com o babaca!

Sem pudor algum mostrei o meu dedo do meio para ela, mas rapidamente a garota deu um belo tapa em meu pobre dedo.

— Ouch! — Balancei minha mão no ar. — Isso doeu, Juliette!

— Já falei pra você não fazer esse gesto feio para os outros, imagine para mim! — Quê? Por um acaso você é especial? Não, não quero uma resposta.

— E eu já falei que odeio adivinhar! — E que odeio o Matthaus.

— Isso não justifica um gesto feio.

— O gesto feio justifica muita coisa.

— O quê? Que você está se tornando uma pessoa revoltada sem causa?

— Sem causa? Cala a boca! Eu tenho causas para tudo.

— Tem? Então me explica qual foi a do gesto feio.

— Não. — Cruzei os braços e balancei a cabeça, horizontalmente, de um lado para o outro.

— Por quê?

— Porque não é da sua conta. — Falei com uma tranquilidade não condizente à frase.

Juliette abriu a boca surpresa, como se não acreditasse no que escutou. Nem eu acreditava no que falei. Senti-me orgulhosa de mim mesma por conseguir fazer isso. E não, não diga que eu sou a errada e a culpada, ela mereceu isso. ELA VAI COM ELE PARA O BAILE!

Parece Mais Fácil Nos Filmes | Sariette.Onde histórias criam vida. Descubra agora