Requiem.

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Segunda-feira.

— Amiga, ele nunca vai me notar! Não adianta... — Thaís reclamou enquanto seguíamos para a estação do metrô.

— Você não tem que implorar para ser notada. — Dei de ombros observando as costas da minha namorada que seguia mais a frente com Vitória e Carla.

— O que devo fazer? — Perguntou.

— Desiste, ué. — Respondi tentando prestar atenção no que ela dizia, mas o barulho de nossos pés tocando a neve estava me distraindo.

— Acho que você tem razão.

— Devo ter.

— Farei isso... — Ela disse e passamos alguns passos em silêncio até ela se pronunciar. — Mas me diz, como vai seu namoro?

— Sei lá... — Pensei um pouco. — Sendo um namoro...

— Está gostando? — Que pergunta complicada!

— Sei lá, sabe? — Ok. Estou gostando. — Eu nunca namorei. Não sei como funciona, mas a gente definiu algumas regras essenciais... E, sei lá, ela é uma namorada legal. — Sorri dando de ombros e sorrindo para as costas de Juliette, mesmo que ela não pudesse ver.

— É. Juliette é legal. — Assenti pensando que as pessoas dizem isso e esquecem que é da minha namorada que estão falando e que eu certamente sei as qualidades dela. — E te atura. — Dessa vez neguei com a cabeça e Thaís riu.

— É... Sei lá...

Eu nunca sabia o que falar sobre minha relação geral com Juliette. Sempre foi difícil eu ter que definir aquilo que significa muito...

— Mas, amiga. Você sente falta de ir e voltar comigo? — Não.

Revirei os olhos para a pergunta boba e sentimental dela.

— Não. — Respondi. — Moramos juntas, dormimos no mesmo quarto... Nem tenho tempo de sentir sua falta.

— Sua insensível! — Rebateu, mas nem a indignação dela me fez tirar os olhos de Juliette que agora tentava empurrar Carla para o lado.

— Sou sincera.

— Um dia você vai querer ser sentimental comigo e aí eu não vou querer. — Thaís, eu repugno o sentimentalismo assim como a retículo endoplasmático repugna as toxinas!

— Não vou, não.

— Quero apenas ver quando sua namorada cobrar isso de você. — Ela disse e eu franzi o cenho parando para pensar naquilo.

Como pude esquecer que namoros têm momentos sentimentais?! Droga!

— Ela não vai. — Respondi. — Ela me entende.

— Aham. Tá. — Desdenhou. — Vai pensando. Pode procurar por mim quando esse dia chegar.

Segunda-feira. 372 dias desde que Juliette falou comigo pela primeira vez. Hoje faz exatamente uma semana desde que começamos a namorar e eu ainda não sei namorar. Gostaria de saber como tudo isso funciona e acho que no mundo animal essa coisa de ter um parceiro é bem mais simples: um macho encontra uma fêmea para acasalarem e perpetuarem a espécie. Não. Não estou dizendo que preferiria ser este tipo de ser vivo, mas que é mais simples quando emoções e definições não estão envolvidas, ah é!

Chegamos à universidade e demos de cara com Kerline logo na entrada nos esperando.

— Oi, gente! — Ela cumprimentou animada.

Parece Mais Fácil Nos Filmes | Sariette.Onde histórias criam vida. Descubra agora