Since That Clocks First Tick.

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Sábado.

Não sei qual é o problema do universo, mas há algo muito errado que ele fez: colocar nós cinco para nascermos em datas próximas. Eu mal respiro e já iniciamos o ano com o aniversário de Juliette, inspiro um pouco e aí temos o aniversário de Thaís. Penso um pouco e sou atacada pelo aniversário de Carla. Tenho algum tempo de paz e recebo um auto bombardeio.

Um ano pode ter passado, mas em minha mente os aniversários ainda são datas que não deveriam ser comemoradas.

Um ano a mais é um ano a menos.

Por isso, nesta manhã, decidi comemorar meu aniversário do meu próprio jeito.

— Aonde você está indo? — Escutei a voz de Carla me chamar.

— Vou lá no terraço. — Avisei.

Eu havia acordado cedo, como de praxe. Mas ao invés de jogar-me no sofá e ficar vendo TV até Juliette acordar ou ir para a Columbia, eu preferi fazer aquilo que há tempos não fazia. Meditar. Refletir. Pensar. E, se tiver sorte, poderei concluir algo.

— Vai fazer o quê lá a essa hora? — Carla perguntou.

Ela não iria me desejar um feliz aniversário?

— Refletir, Diaz. — Falei emburrada. Como ela ousa esquecer do meu aniversário?

— Legal. Vou voltar a dormir, acordei apenas para tomar um pouco de água. — Carla disse seguindo para o corredor, despreocupadamente.

— Você sabe que dia é hoje? — Perguntei colocando a mão na maçaneta.

— Sábado?

— Esquece... — Bufei abrindo a porta.

— Ei! — Ela chamou, me fazendo parar e virar para vê-la. — Eu sei! — Carla disse vindo até mim e me envolvendo em seus braços. — É o seu aniversário! Feliz aniversário, Zangada!

— Obrigada. — Falei afastando-a de mim, mas por dentro eu estava sorrindo.

— Agora, falando sério. Vai fazer o quê no terraço a essa hora?

— Comemorar o meu aniversário.

— Será que nem mesmo com um ano tendo passado você continua estranha? — Perguntou fazendo uma careta.

— Diaz, dias são dias. Os dias passam, mas nós continuamos. Mesmo quando morremos, nós ficamos no tempo, os dias não. Eles são eles sempre. — Terminei de falar e pude ver Carla simular um cochilo.

— Ops! — Abriu os olhos rindo. — Acho que seu papo chato me fez dormir.

Revirei os olhos para ela e fui até a porta. Subi pelas escadas, mas eu nunca antes havia ido lá em cima, apenas comentei uma vez com o Arthur e ele disse que lá não tinha nada de especial. Que era apenas um terraço como qualquer outro Terraço e, até hoje, eu não tive interesse algum.

Empurrei a grande porta com alguma dificuldade, mas assim que senti a luz do sol de uma manhã recém nascida me tocar, sorri.

Eu estava ficando mais velha e, sinceramente, acho que lidar com a idade já começa a se tornar difícil quando você começa a ter consciência de sua velhice.

É triste.

É normal.

Somos nós.

Estendi a toalha, que havia trazido comigo, sobre o chão e sentei-me, cruzando minhas pernas em posição de lótus. Suspirei satisfeita com o ambiente e consertei minha coluna, deixando-a ereta. Pigarreei e fechei os olhos.

Parece Mais Fácil Nos Filmes | Sariette.Onde histórias criam vida. Descubra agora