Boa leitura!
— Me solta! — gritava ela. Seus gritos eram agonizantes, mas eu não afrouxava o aperto em seus braços que estavam para trás, presos as costas por minhas mãos como se elas fizessem o papel de algemas.
— Por que você virou essa pessoa?
— Só estou me protegendo... — respondi.
Viramos para a esquerda e logo a escada com a saída deveria aparecer, pelo menos tinha sido o que Khalil dissera.
Quando percebi, a decisão teve que ser tomada o mais rápido possível.
A bomba de fumaça explodira na sala de comando, imprevisivelmente fazendo tudo virar branco, e como se fosse um fio de esperança, a única pessoa que vi em meio a bagunça fora Manuela. Eu previ que o plano do profeta naquele momento, fugira do controle e a forma que pensei de ainda manter alguma vantagem, foi trazendo um refém.
Peguei Manu pelo braço na direção do alcorão e assim saímos pelo túnel. No início, Manuela não me reconhecera, mas desde então viera tentando lutar contra mim. Porém, eu tinha para mim que não falharia. O plano era maior do que eu e era meu dever salvá-lo.
— Eu não quero ter que te ameaçar com uma arma —apertei meus dedos contra seus pulsos.
— Só ameaçar, não é? — riu ela. — Não tem coragem para me matar.
— Manu, se você parar de lutar contra mim, tenho certeza que tudo será mais fácil.
— Como eu não vou parar de lutar? Eu acabei de ser sequestrada dentro de um sequestro! — aquele seu humor ácido eu conhecia como ninguém. Quantas vezes eu tinha visto ela atacar dessa mesma forma em outras discussões, mas aquilo não iria me ferir.
— Engraçadinha você, Manu. Eu tenho pena de você, só enxerga o superficial. Eu sei o que é melhor pra gente.
— Ah sabe, claro que sabe. Você só se se uniu a uma das pessoas piores que já conheci — ela tentou interromper a caminhada mais uma vez, porém forcei seus passos para que seguisse o caminho.
— Pelo menos ele nunca me traiu — fui seco e a desconcertei. — Me deu até mais do que poderia pedir.
— Você sabe que não foi assim. Eu não te contei, porque queria te proteger da dor. E de qualquer forma, você também estava tendo algo com a Luana. Tudo isso nos colocou nesse triângulo amoroso bizarro. Mas acho todo mundo estava confuso demais para entender seus próprios sentimentos e acabamos só machucando uns aos outros.
— Confuso não. Eu estava perdido. — Lembrei de minhas conversas com Khalil e de como ele me fizera enxergar tanta coisa. Só tinha à agradecer. — Só que agora eu vejo as coisas com clareza. Tudo foi uma paixão platônica.
Ao me escutar, Manu baixou a cabeça e continuou caminhando. Parou de lutar e só nossos passos passaram a tirar o silêncio.
— Todo o nosso tempo juntos, foi uma paixão tosca? Tudo aquilo? Quando você estava quase desmoronando na pressão pré jogo e eu te segurei debaixo da água fria e te fiz esquecer do mundo? Todas as vezes que você me beijava na testa quando nos despedíamos? Eu posso ter errado, mas não pode simplesmente deletar nosso relacionamento inteiro. Eu não te reconheço, de verdade — sua frustração se alastrou pelo rosto.
— Nenhuma dessas lembranças te importou quando se atraiu pela Luana. Nenhuma dessas lembranças te apareceu quando provavelmente transou com ela... — eu precisava manter a calma. Aquilo era algo do antigo Bruno.
— Tá bom, eu te traí. Eu não mereço piedade. Mas e sua mãe? Sua irmã? Elas merecem isso? Você está ajudando um assassino!
— Que golpe baixo. Khalil me prometeu grandezas, o melhor para elas. E essas mortes, elas acontecem porque a guerra tem que acontecer para alcançarmos o que sempre almejamos. A guerra nas terras que a fé não perpetua, é válida.
— Você virou um fanático religioso, foi? — Manu lançou na minha cara com repúdio. Ela fazia tanta força nas mãos que em certos momentos, pareciam que iam se envergar.
— Se as palavras dele fizeram sentido até agora, o que diz que não vai continuar fazendo? — argumentei.
— Acorda, Bruno. É uma ilusão tudo isso que você está enxergando. O Khalil vai morrer. A polícia vai atrás dele, de todos nós e o único caminho que existe no fim disso tudo, é a morte. Por favor, me escuta. Você ainda pode mudar isso tudo — lágrimas em seus olhos trilharam um caminho.
— Eu acho bom... — puxei seus cabelos com força, o que a fez gritar. Era isso, se eu fosse frio, ela pararia. Pararia. — Você ficar quieta. Vamos terminar esse caminho em silêncio e você não vai abrir essa porra de boca nem mais uma vez.
Empurrando-a para frente, percorremos o resto de túnel e subimos uma escada ao fim dele. Finalmente a saída havia despontado. Depois de eu tê-la ameaçado, seu rosto chorava copiosamente e tinha sido como silenciador ter puxado seus cabelos.
Eu não queria fazer aquilo. Mas eu precisava. As vezes as coisas não se tratam de apenas de querer e mais de precisar.
Ao mesmo tempo, eu sentia algo se quebrando dentro de mim. Eu só não saberia dizer o que exatamente.
XXX
Khalil pela primeira vez estava com seus cabelos desalinhados e seu maxilar tenso. Eu sentia seu nervosismo de longe e o ódio também. Ele era um cara que simplesmente não aceitava se sentir por baixo. Repugnava.
Tínhamos vindo parar em um hotel beira de estrada. Eu jamais poderia adivinhar a localização exata, mas era aconchegante e discreto. Os guardas que nos acompanharam, eram uma comitiva de apenas cinco para não chamar atenção. Ocupamos o último andar por uma quantia válida paga na recepção. Segundo o que Khalil dissera quando chegamos, iríamos nos reagrupar para contra atacar. Porém a próxima parte do plano ainda não tinha sido revelada e já fazia duas horas. A única coisa que Khalil fizera fora somente uma: Se trancara no quarto com Manu. Dentro de todo esse tempo, eu permaneci no corredor enquanto escutava gritos e choro por parte dela. Ninguém sabia o que estava acontecendo por lá. Eu devia continuar firme...
Mas eu confessava que estava me incomodando. Era um filme de terror. Fiquei do lado de fora do quarto escutando todo o estardalhaço e me sentia péssimo. O tempo todo eu tentava me corrigir dizendo que aquilo era para o bem e que eu só tinha de respeitar, mas era agonizante. O que raios ele estava fazendo com ela?
Quando eu achei que não aguentaria mais aquela tortura, resolvi abrir a porta do quarto:
— Ei! — Um dos guardas entrou na minha frente. — Temos a ordem de não deixar ninguém entrar no quarto.
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Nós Odiamos O Amor (CONCLUÍDO)
Teen FictionEra para ser mais uma festa normal, porém um desaparecimento aconteceu. Em Pelotas, Rio Grande do Sul, um grupo de seis amigos resolvem sair para badalar na cidade vizinha, mas somente dois retornam daquela festa. Samuel e Letícia vieram embora mais...