Igor 0.11

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Aquela cena não saía da minha mente. E não imagino que ela vá sair tão cedo...

O sequestrador pegava sua faca e cortava o pescoço do primeiro inocente. Seguia para a vítima seguinte e passava a lâmina com a mesma facilidade. Ele analisava o sangue sujar todo o chão como se fosse uma obra de arte e seu sorriso chegava a ser perturbador diante dos quatro homicídios cometidos.

Sentia uma grande vontade de vomitar toda vez que lembrava dos assassinatos. É claro que já tinha visto mortes em filmes policiais ou jogos, mas aquilo era outra nível. Eu sabia que já estava há horas na cama, mas minha única reação era querer ficar deitado com os olhos arregalados.

Após o homem de terno branco ter degolado aquelas pessoas e dito que aquilo fora uma consequência de uma brincadeira feita por Luana, fomos levados de volta aos nossos quartos e trancafiados novamente. Eu não tinha um relógio para ter certeza, mas sabia que já deveria estar de noite e que nenhum guarda nos levou para nenhuma outra refeição. Se eu vomitasse seria apenas líquido, já que minha barriga permanece vazia. Ter que me locomover até o vaso para chorar até vomitar tudo era um trabalho que não tinha o mínimo de ânimo para realizar.

Comecei a imaginar que se o vômito vier com tudo, só vai dar tempo de virar a cara para fora da cama. Isso só pioraria a situação. Além de ficar preso em uma cela, seria uma cela fedida. E o cheiro de vômito poderia muito bem ser escalado para um dos piores.

Eu tinha ficado cansado demais emocionalmente para dormir, extasiado demais para chorar também. Eu tinha desenvolvido com o tempo, uma maneira de não chorar por nada. Isso é ótimo. Eu posso me fingir de fodão em qualquer situação segurando uma máscara como a do Batman. A máscara já tinha virado um costume e obviamente não saberia viver sem ela, nem as outras pessoas talvez me suportariam e olha que elas já quase não me suportam.

Para tentar melhorar o tédio, eu tentava me lembrar de memórias felizes. Era dolorido porque constantemente comparava com minha situação presente, mas era um bom jogo da memória. Uma das minhas memórias favoritas sem dúvida era com Letícia. Minha melhor amiga... Junto com Luana! Porque se eu não deixar isso claro, minha amiga gótica me enforca e não digo figurativamente.

Minha mente fugiu por um leve momento para uma realidade alternativa em que Luana me perseguia, me drogava e me enforcava. Eu podia ser tão sombrio as vezes.

Mas a lembrança que tinha voltado era de quando Letícia estava deitada no chão do meu quarto, no meu colo. Eram três da manhã e lá estava eu fazendo trancinhas no cabelo dela. As trancinhas estavam mais para grandes nós malucos porque eu nunca fui um bom cabelereiro. Eu embaracei o cabelo dela inteiro. E quando ela se levantou pra ir embora, olhou no espelho e arregalou os olhos.

- Gostou da minha obra prima? - Indaguei rindo da expressão dela.

- Igor! Eu te mato! Você quer saber se eu gostei desse ninho de rato que tu fez no meu cabelo? - Ela perguntou na época, mas apesar da sua indignação por eu ter destruído seu cabelo, nós dois caímos no riso. Rimos muito. Apesar de meus pais já estarem na cama, nossas risadas subiram a um volume impossível de se conter e com certeza acordamos o resto da vizinhança com aquela palhaçada.

- Igor, cê tá drogado? - Alguém perguntou e me dei conta de que estava rindo de verdade ao me recordar da boba lembrança. Fiquei com raiva de quem tinha interrompido meu momento de descontração, mas sabia perfeitamente que fora o Brunaca que me chamou.

Brunaca. Junção de Bruno com babaca.

- O que você quer, em? As pessoas não podem rir mais?

-É claro que podem, mas nem faz sentido porque nesse momento, você está preso e foi sequestrado. - Bruno lembrou o que eu já estava cansado de saber.

Nós Odiamos O Amor (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora