Boa leitura!
É natal. Eu nunca soube direito o que dizer sobre essa data. Antes era a única data que significava paz, apesar da falsidade envolvida, meus pais faziam questão de se juntarem em volta da mesa com a famigerada ceia, o pisca pisca ofuscando a sala pela árvore montada com carinho e por último, tinham as fotos com sorriso exagerado.
Sendo esse o primeiro natal com meus pais separados, eu esperava que o feriado assumisse uma felicidade mais genuína e uma comemoração mais leve. Minha mãe amamentava minha irmã na poltrona do lado oposto na sala, reclamando hora ou outra das mordidas da pirralhinha. Pirralhinha.
Eu a apelidei assim desde que nasceu, já que nunca mais dormi depois de seu nascimento. Após uma pequena reunião, meu pai decidiu que minha mãe poderia passar o natal comigo e com a Alice enquanto ele ficava conosco no Ano Novo. Nos últimos meses, eles tinham se dado muito bem nas decisões de separação e quem passaria o dia com quem. As vezes eu até achava engraçado, porque escolher ficar com as filhas seria a decisão de ter paz ou não.
- Filha, você chamou mais alguém pra passar o natal com a gente? - Ela ajusta Alice que parece ter se acalmado um pouco.
- Sim! - sorri por um instante me lembrando e terminando de organizar a farofa em uma travessa no centro da mesa. Eu estava nervosa, não queria admitir, mas estava.
2 semanas antes eu tinha chamado todos eles. Ísis confirmou cerca de cinco minutos depois e já saiu falando de mil looks que poderia utilizar. Ri bastante das fotos que ela me enviou.
Luana me respondera ainda no mesmo dia dizendo que teria que verificar sua agenda para ver se conseguiria vir. Dias se passaram e ela não falou mais nada.
Bruno e Brian tinham dito que veriam melhor se conseguiriam aparecer já que o natal era uma data importante para suas famílias. Queria muito que eles pudessem vir. A presença de todos era importante.
E tinha ele. Samuel.
Tudo parecia que começava e terminava com ele. Sempre uma confusão.
Sam não respondeu nenhuma mensagem minha referente ao natal. Faziam 14 dias! Tudo bem que ele tinha a visualização desligada no aplicativo, mas eu achava que era um descaso. Era melhor que ele nem viesse. Tínhamos conversado o ano inteiro, por ligações, mensagens bobas, fotos e fora muito incrível. Depois de tudo, ele fazia isso? Pelo menos, poderia ter me falado que não viria.
Samuel se mudou para o interior de São Paulo no fim de janeiro. Dezembro tinha terminado dando fim ao pesadelo do sequestro e tivemos um verão agradável. A tia de Sam deu a ele um mês para se despedir e se organizar, pois indo para uma nova cidade, ele e Erick teriam um recomeço após os traumas.
Apesar de ter sido triste sua mudança, tivemos as melhores férias que poderia pedir. Fomos ao cinema, fizemos guerra de pipoca por lá, montamos piqueniques, passamos tardes deitados na grama dividindo um fone, choramos abraçados ainda pensando nas mortes e acontecimentos que estavam com feridas muito abertas.
Só de pensar em nossos dias juntos, meu sorriso já despontava. Tinha sido muito importante para mim ter dias normais e felizes após o que passamos.
Se eu parasse para pensar demais, a melancolia já me alcançava. Eu sentia falta de seus beijos, de seu sorriso que passei o ano inteiro sem ver. Claro que não foi totalmente triste porque nunca perdemos o contato, mas o seu toque, era único.
Bem, antes de seguirmos separados, transamos muito também. Era importante ressaltar porque foi uma parte do verão excêntrica para dizer o mínimo. Fomos a um motel pela primeira vez para os dois e rimos dos mimos que ganhamos, da pizza de graça e as flores. Também fizemos no quarto dele, no meu quarto, no carro dele e até ao ar livre. Não me peça para explicar mais. Só aconteceu.
Não queria admitir para ninguém, mas depois da ida de Samuel, ainda não tinha ficado com ninguém. O ano fora definido por vestibulares e a despedida do terceirão, fora isso, não vivi nenhum outro amor perdido. Não achava ser um bloqueio emocional de minha parte. Eu só estava com outros objetivos.
Mas no fundo eu assumia que sentia falta daquela sensação. De enlouquecer só de pensar em alguém.
- Eu trouxe PAVÊ! - O grito na frente de casa foi escandaloso e já sabia quem era rindo na direção de minha mãe. Caminhei para a porta de entrada, abrindo-a ansiosa. Ísis sorria para mim com uma regata vermelha de lantejoulas e um shorts preto. Seus cabelos vermelhos estavam no formato chanel com ondulações.
- Não começou a festa sem mim né, querida?
- Não, jamais - Abracei ela tomando cuidado para não derrubar aquele doce que parecia dos deuses. Ela tinha dito que o pavê da mãe era o melhor da face da terra e que eu precisava experimentar.
- E aí flor? Como você tá no primeiro natal depois do fim da escola? - pensei sobre o que responder enquanto Ísis adentrava a sala e seguia até mamãe abraçando e beijando a testa de Alice.
- Eu não sei bem. Ansiosa na verdade. É esquisito pensar que daqui a alguns meses vou para outro país estudar atuação. Parece um sonho fora da caixa - disse pra ela sorrindo e lembrando de todo o processo sobre como fora fazer a inscrição em uma prova seletiva de Los Angeles que estavam contratando atores mirins imigrantes. Eu tinha passado e agora iria para lá.
- Ei, ei, gata. Não me lembre que eu vou ficar longe de você. Sentirei realmente sua falta.
- Também vou sentir - falei dando um sorriso fraco ajudando a colocar o pavê em cima da mesa. Vendo que o clima tinha ficado tenso, minha mãe deu a ideia de colocar um som de umas músicas. Ísis e eu começamos a dançar sorridentes e agitando o cabelo. Ela disse que Rihanna sempre animava ela pra agitar a bunda. Com nossas danças esquisitas quis imortalizar aquele momento.
Por mais que talvez os outros não viessem, não importava mais. Eu amava minha amiga ruiva e nada tiraria aquilo que estávamos vivendo juntas. Suas ondulações vermelhas rodopiavam em volta de sua cabeça e por trás daqueles simples movimentos, tive orgulho no fundo.
Aquele ano fora transformador para Ísis. Seus pais dificultaram bastante para ela no início ao ponto de brigas intensas e o chamado de um padre para abençoar a casa, mas fazia poucas semanas que a mãe dela tinha aceitado sua filha de vez. As duas acabaram chorando em uma sala, entraram em acordo sobre como seria os procedimentos e médicos que ela teria que passar para se sentir confortável como a mulher que era.
O pai dela, infelizmente, saíra de casa sem rumo e não retornara, mas até o momento, já tinha andado um bom caminho. Pelo o que eu sabia, Ísis também tentaria intercâmbio no próximo ano para Nova York.
- Meninas, sei que a música tá boa - interrompeu minha mãe com uma Alice que não chorava e sim encarava a gente de olhos arregalados. - Mas parece que tem alguém na porta.
Abaixei o som da Anita que tocava ao fundo e atendi quem quer que fosse. Brian estava na porta com um estilo diferente do normal. Calça jeans e uma camisa preta compunham seu visual e percebi que fazia um bom tempo que eu não o via. Desde o sequestro, Ísis e Brian construíram um bom relacionamento de meses, mas vieram brigando nos últimos dias quando ela contou que iria para os Estados Unidos.
- Bem, o cheiro da ceia parece bom - ele me cumprimentou e sorri singelamente.
- Pode entrar. Fico feliz que tenha aparecido - Brian era a pessoa mais festeira e cômica que conhecia, mas hoje, não estava como o de sempre. Sabia que era por causa da minha amiga.
- Tinha que aparecer, né pequena Leti? O que seria do seu natal sem o loiro mais bonito de Pelotas? - ri com o humor que regressara mais rápido do que tinha pensado. Ele bagunçou meu cabelo e o levei para a mesa de jantar sem saber como fazer já que Ísis dançava na sala.
- Sente-se e fique a vontade - disse com carinho, mas antes de se organizar na cadeira, ele me estendeu um pacote.
- Resolvi comprar um presente. Pra você. Por tudo que fizemos nesse ano e quanto a porra do sequestro que saímos vivos. Letícia, você é uma das meninas mais daoras que já conheci e nem sei como agradecer - abri a lembrancinha sem saber o que dizer vendo o pequeno pingente brilhante e meu coração palpitou.
- Seu bobo. Tem hora que você é melhor que um brutamontes.
- Não exagere nos elogios. Só consigo manter a pose de fofão por cinco minutos. Meu coração está doendo porque já passou do tempo. Ai! Ai! - ele brincou e acabei rindo. Coloquei o pingente em volta do pescoço e quando olhamos para o outro lado do cômodo. Lá estava ela. Ísis. De braços cruzados.
- Eu acho bom eu ganhar presente também, seu idiota - sua cara brava não disfarçava.
- Meu amor, antes de me cobrar, precisamos conversar não acha?
- Não tem conversa sem mimos antes - eles eram um casal muito fofo e eu sempre ria da situação. Fui me afastando em direção a porta de entrada enquanto os dois interagiam. Não dava nem 10 minutos para que fizessem as pazes.
- E esse mimo? - ele beijou ela calorosamente e pude ver a expressão de ódio da ruiva murchar na mesma hora enquanto degustava da boca de seu namorado, colocando as mãos em volta do pescoço dele e sorrindo ao fim do beijo. - Serve?
- Por hora? Acho que sim. - Saí para fora de casa deixando-os a sós. A noite soprou um vento frio no meu rosto e segurei o pingente. Tentava manter a pose de durona, mas vê-los naquela química tão perfeita me fazia lembrar dele.
A frente da minha casa fazia com que eu lembrasse dele. Lembrasse de quando há mais de um ano ele me convenceu neste mesmo lugar para que fôssemos para o aeroporto. A saudade nunca doeu tanto.
Num movimento involuntário, abri minhas mensagens só para se deparar mais uma vez com nenhuma resposta dele. Aquilo sim doía. Mas então, outra coisa me distraiu dos pensamento, mais especificamente um carro que virou para dentro da rua e aquele carro eu conhecia bem. Era do pai de Bruno.
Meu sorriso inflou e esperei até que ele estacionasse na minha frente. O que me assustou é que dentro daquele Ônix que eu conhecia tão bem, não tinha só o senhor Pereira e seu filho. Duas pessoas estavam no banco passageiro de trás. O pai de Bruno abaixou o vidro e o filho me cumprimentou:
- Parece que alguém me chamou para o natal nessa casa? Não foi? - pulou para fora do banco e correu em minha direção sem se conter no abraço. Eu tinha passado muito mais tempo com Bruno no último ano. Ajudávamos um ao outro nas provas, acompanhei a recuperação dele na fisioterapia depois da explosão de Khalil e agora ajudava ele nos primeiros jogos de futebol que ele voltava devagar.
- Ai, obrigada por ter vindo! Obrigada mesmo! - apertei seus braços com força e fechei os olhos na tentativa de me convencer que aquilo não era um sonho que logo despertaria.
- Letícia, eu nunca te deixaria na mão. Não mais - ele ainda se culpava infelizmente. Por mais que eu já havia dito que nada do que tinha acontecido fora culpa dele e que o perdoava completamente. Enquanto me perdia em um abraço que já durava um tempão, escutei o barulho de duas portas do carro batendo logo em seguida. Sem sair de seu abraço, olhei na direção do carro:
- O quê? - das partes traseiras, duas garotas saíram muito bem arrumadas e perdi o ar ao vê-las. Luana e Cidalice. Cidalice tinha alisado seus cabelos que batiam na cintura e vestia um vestido azul que eu não tinha dúvidas que era da coleção de Luana. E Lu estava de um macacão preto e básico com um delineado vermelho. Me soltei de Bruno para ir ao encontro delas:
- Por que não me disseram que vinham?
- Qual seria a graça desse jeito, monamour? - Cidalice estalou um beijo em minha bochecha e fiquei feliz de ter um contato com ela que não fosse virtual.
- Eu fiquei bem triste que praticamente só a Ísis que confirmou. Quase morri do coração suas doidas.
- Doidas que queriam fazer uma surpresa - respondeu Lu que me atacou de beijos e me avaliou de cima a abaixo com seu olhar crítico que nunca lhe escapava.
- Como foi a viagem? - indaguei e vi que Bruno ria de nós três.
- Bem... - iniciou a faladeira detetive. - Foram dois meses de economia gastos nessa viagem e uma semana fazendo todos os serviços de casa para convencer meus pais a me deixarem vir. Luana me trouxe como responsável e nos hospedamos na casa de Bruno ontem, explicando pra ele da surpresa. Foi assim, incrível pra dizer o mínimo. Tô muito empolgada em conhecer o sul! E o boys daqui!
Notei que Bruno ficou desconfortável diminuindo seu sorriso após a fala dela. Mexi o nariz confusa vendo que Cida também percebeu. Aqueles dois eram estranhos um com o outro desde que Bruno saiu do hospital em Manaus. Tinha sempre algo no ar. Luana tentou cortar a tensão:
- O que acha de entrarmos? - Virou-se na direção de Cida que ainda parecia perdida.
- Claro, por favor. Aquela comida não será pra uma pessoa só. Vão indo na frente - os incentivei pelo portão e a passarem pela sala e me despedi do senhor Pereira que me agradeceu por receber o filho naquela noite, apesar de fazer falta na própria ceia familiar. O carro não demorou a sair roncando até o fim da rua.
Sabia que teria que voltar logo para ficar com meus amigos sendo a anfitriã, mas algo naquela noite e na solidão do lado de fora da minha casa, atraiu meu corpo. Talvez fosse paz aquilo. O silêncio. Não completo porque a música estourava do lado de dentro em que Ísis controlava o som pelo fato de ter começado a tocar uma baladinha típica dela.
Olhei para o céu e fiquei assim por não sei quanto tempo sentindo meus outros sentidos e passando a língua nos lábios. Eu era grata, grata por todo mundo estar aqui reunido hoje, vivos e bem. Sabia que nem todos tinham saído ilesos e uma lágrima descia sem demora em meu rosto ao lembrar de uma memória de Manuela maquiando meu rosto. Ela ria porque não era uma boa maquiadora, mas aquela era nossa noite do pijama. Das meninas e ela queria fazer aquilo.
- Você está borrando tudo - criticou Luana naquele dia.
- O importante não é a arte final, mas sim a intenção. E a beleza dessa maquiagem pode ser vista, só depende de quem olha - parecia que Manu tinha respondido aquilo ontem. Me doía pensar nisso todas as manhãs, mas era ela quem tinha feito eu continuar todos os dias e trabalhar na minha autoestima arduamente. Eu pensava naquela frase e em quem ela era.
Aquilo me fazia seguir em frente. Passando a me aceitar a cada dia. Eu tinha até sorrido para o espelho dias atrás sem pretensão nenhuma, só satisfeita. As consultas com a psicóloga Naiara pareceram sem efeito no primeiro mês, mas conforme ela destrinchava meus pensamentos e me fazia enxergar que as vezes eu complicava demais as coisas, eu passei a melhorar.
Agora eu cuidava da minha saúde e alimentação. Não tinha emagrecido tanto, mas também não tinha engordado. E no fim, eu já não olhava para a comida com tanto medo assim. Todos ao meu redor faziam parte do meu processo de cura. Minha mãe, Bruno e até ele. Samuel que me ajudara a ver que precisava de ajuda no início de tudo e muito mais.
Abri os olhos novamente e segurei minhas mãos com força para não olhar o celular. Pra quê olhar? Não teriam mensagens, nem áudios.
- O que faz uma moça tão linda sozinha do lado de fora na noite de natal? - de começo achei que fosse paranoia da minha mente, mas assim que pisquei os olhos, vi claramente quem estava do outro lado da rua.
A pele alva resplandecia a luz amarela do poste, mas eu a reconheceria de qualquer lugar. Seu cabelo estava muito diferente. Ele havia raspado do lado direito e esquerdo deixando os cachos bagunçados apenas no centro. Estava mais lindo do que poderia imaginar. Certamente era coisa da minha cabeça. Pisquei os olhos, mas nada dele sumir e acabei escancarando a boca.
- Pode parando por aí, Letícia? Nem cara de fantasma eu tenho - era mesmo a voz dele. Samuel estava ali em pessoa e meus olhos começaram a chorar. Chorar de felicidade por vê-lo, mas não sabia como me aproximar. Seu sorriso era do jeitinho que me lembrava, tosco e romântico. Ele estava com uma blusa cinza de manga comprida e fina. Ai meu Deus! Os all stars vermelhos que eu mais amava estavam ali em seus pés agora pisando o chão da mesma rua que eu. E só sabia chorar como uma criancinha. Não me movia.
Mas em um tempo que não soube medir, ele já havia me alcançado. Pegou meu queixo com firmeza e fez eu encarar seus olhos. A única coisa que consegui dizer foi:
- Por que não me respondeu, caralho? Por 14 dias, Samuel! Eu achei que você não ligasse mais pra mim e tivesse decidido deixar eu pra trás.
- Eu disse que nunca mais te abandonaria. E eu não quebro promessas - e me beijou sem mais delongas. Nossos lábios se encaixaram como se estivessem acostumados a repetir aquele ato todos os dias. Um beijo profundo que não tinha reservas para oxigênio nem tempo para ser registrado. Ao mesmo tempo, a mão dele subia pela minha coluna com força e arrepiando minha nuca até os braços. A outra mão dele se enterrou em meus cabelos não mais tão curtos e fez uma pequena massagem, por ali me extasiando em euforia.
- Não quebra promessas, mas é um grande filha da puta e gostoso - voltei ao beijo que foi em meio a sorrisos e risadas. Eu tinha sentido tanta falta daquele gosto e de misturar o meu com o dele. Ficamos ali naquele momento que valia ouro por um bom tempo, até que a troca de beijos intensos mudou para um abraço confortável em que ele respirava em meu cabelo e eu em seu peito que por estranho que parecesse, eu estava sentindo que tinha definido. Não queria quebrar nunca mais aquele abraço. Nossas peles estavam se tocando novamente. Algo que eu implorara por noites a fio e achei que não teria mais.
- Senti sua falta - ele sussurrou em meu ouvido, beijando-o em seguida.
- Eu também. Mais do que posso dizer em palavras ou mensagens.
- Ninguém me causa, o que você me causa, Letícia. E isso me deixa doido. No primeiro momento que você me chamou pra vir aqui no natal, não hesitei, só organizei para vir, porque eu estava louco para vê-la. Fiquei com medo de você não ter sentido minha falta, não desse jeito.
Ele grudou nossas testas em um carinho duradouro que permaneceu enquanto a ponte de nossos narizes se tocavam.
- Como pode dizer isso? De garoto que eu queira beijar, só existe você - aquilo o incentivou a me beijar com uma mordida leve nos lábios bem sexy. Sua mão que estava em minha coluna desceu para minha bunda.
- Você acha que eu pude pensar em outra garota? Não desde que você apareceu - pensei nas pessoas dentro de casa e que tinha que entrar, se não dariam minha falta. Me desvencilhei de seu aperto excitante e o guiei em direção ao portão. Tínhamos uma noite em amigos pra passar e não queria desperdiçar um minuto sequer por mais que amasse que ele tivesse aparecido.
XXX
A noite do natal foi tranquila. Nos sentamos a mesa com diversas opções de comida e aproveitamos. Cada um aconchegado em cada ponta da mesa e dividindo as novidades do último ano. Samuel decidiu ficar ao meu lado todo o tempo segurando minha mão, o que me fazia sorrir sem parar.
Brian e Ísis estavam em uma visível trégua e foi assim que eles ajudaram a servir a comida. Luana me contou sobre como era viver em Manaus e trabalhar no mundo da moda. Disse que seus pais ainda enviavam a quantia de dinheiro necessária para sua sobrevivência no mês, mas que eles nunca mais falaram com ela. Contudo, sua nova família tinha incluído duas pessoas, Valentina e Cidalice que ajudavam sempre que ela precisava.
Uma outra iniciativa que ela tinha tomado em seu primeiro ano de trabalho foi fazer um projeto inclusivo sobre corpos e chamou de Projeto Tomáz aonde decidiu homenagear o estilo que Manu costumava usar para sair com lilás, rosa e preto, era uma boa paleta de cores em que ela teve que sair da zona de conforto para novos looks. Atletas da ginasta artística já a procuravam para o desenvolvimento de novos collants. Ela amava porque toda vez que dava continuidade aquilo era como se mantivesse o primeiro amor de sua vida ainda com a faísca viva e isso era lindo.
Cida começaria a estudar criminologia após o fim do terceiro ano que viria em breve. Parecia empolgada com a situação e enquanto falava sobre si, percebi que Bruno não tirou os olhos dela um minuto sequer. Sinceramente, aqueles dois estavam me deixando louca, mas após fugir com Luana, ela me explicou que os dois eram a fim um do outro, por mais que nunca dessem o próximo passo e tinham uma relação por mensagens.
Ri diante das novidades e vendo o quanto eu e meus amigos tínhamos mudado. De alguma forma parecíamos mais maduros e fortes para o que tivéssemos que enfrentar pela frente e por isso não estava mais com medo. Eu vinha ficando todos os dias com medo, mas não agora neste momento. Percebia que na verdade eu estava preparada e só tinha que me acalmar para as mudanças que viriam.
Depois de muita comida ser consumida e das barrigas bem cheias, minha mãe levou Alice para o quarto se despedindo de todos e curtindo ao som de várias músicas fomos madrugada adentro conversando sobre diversas coisas desde a vida de famosos até como era bom ir para praia.
Confesso que o cansaço já me abatia e Bruno foi o primeiro a se levantar para ir embora. O que tornou tudo mais interessante foi ele ter chamado Cidalice para ir com ele até em casa e ela aceitou rindo e dando a mão para ele. Eu que não julgaria. Luana foi logo depois e disse que tinha algo pra resolver com os pais. Tinha decidido ter uma conversa real com eles. E por último, saíram Ísis e Brian. Ísis bêbada e com sono e Brian a segurando com cuidado pra irem para casa.
O som se tornou opaco e só restou eu e Samuel. Sua mão entrelaçada na minha dava uma sensação de conforto grande e enquanto ríamos, começamos a recolher a louça para levar a pia. Ele contava sobre Erick e que demorou muito para superar o luto, que tinha caído na depressão, mas que nos últimos dois meses vinha se recuperando, principalmente após conhecer um garoto que Samuel tinha dúvida se era só um melhor amigo ou um possível futuro namorado.
Quando a louça ficou limpa, fomos para o quintal de casa, sentamos na mureta da parte de trás e resolvemos olhar as estrelas que por algum motivo despontavam no céu escuro hoje.
- Sabe, você faz muita falta. Eu não queria admitir, mas só essas últimas horas que ficamos juntos já me trouxe uma paz que eu nem lembrava mais como era. Queria que algumas coisas não fossem como são. Eu queria mais. Mais disso - notei que era um desabafo que não assumi por muito tempo e por isso as lágrimas desciam.
- Ei, ei. Eu tô aqui agora - ele me abraçou e meu rosto molhado foi apertado contra seu peito. - Você está apaixonada por mim, não está?
- Samuel! - Bati em seu peito, chateada pela pergunta irônica que nem quis olhar para o seu rosto.
- Não tem problema porque eu também estou por você - levantei meu olhar marejado. Ele nunca falara tão sério na vida.
- Nós temos um problema. Meu Deus, é um grande problema! - saí da mureta para tentar pegar um ar. Um ar que não fosse perto dele.
- Não é um problema. É engraçado. O amor pegou a gente, Letícia.
- Eu odeio, odeio o amor. O que a gente faz agora? Eu nunca cheguei nesse estágio! Nem pensava que chegaria. Tinha que ser sua culpa - sabia que não podia culpá-lo por uma coisa que simplesmente aconteceu sem controle.
- Ti, eu vou ficar mais alguns dias aqui. Vamos aproveitar como nunca aproveitamos. Ainda seremos amigos porque nos preocupamos um com o outro e eu disse que nunca te abandonaria, mas somos jovens e precisamos seguir nossos sonhos. Você é a artista mais bela que eu conheço e tenho certeza que ainda vai aparecer em muitas telas. Vai ter uma carreira gigantesca e eu vou poder ir nos bares com meus colegas de faculdade e dizer: aquela garota foi o amor da minha vida e talvez quem sabe, um dia no futuro, vamos nos reencontrar e mesmo assim vou continuar amando ela.
- Eu acho que essas foram as palavras mais bonitas que alguém já me disse - o abraço foi instantâneo e sincero. - Também nunca te esquecerei, você também será o melhor engenheiro ou qualquer coisa que desejar ser. Saiba que ainda vai poder aparecer em um corredor de hotel e me beijar assim que desejar.
- Mas calma - ele me pegou pelos braços olhando no fundo dos meus olhos - eu só quero que me prometa uma coisa.
- Qualquer coisa - respondi.
- Prometa que odiar o amor é uma coisa só nossa. Prometa que por tudo que aconteça que nós vamos continuar odiando. Nós odiamos o amor? Sim. E foi a melhor coisa que aconteceu. Foi essa ideia louca que nos juntou de novo e que se precisar, um dia vai nos unir novamente.
- Eu prometo, Sam. Com certeza, eu prometo - O beijei com tanta intensidade que senti meu corpo arrepiar quando ele pegou meus cabelos.
Eu sabia que aquela noite e nem nenhuma outra que já tinha passado com ele eu esqueceria, porque amava Samuel.
Muito. Muito.Fimm.
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Nós Odiamos O Amor (CONCLUÍDO)
Teen FictionEra para ser mais uma festa normal, porém um desaparecimento aconteceu. Em Pelotas, Rio Grande do Sul, um grupo de seis amigos resolvem sair para badalar na cidade vizinha, mas somente dois retornam daquela festa. Samuel e Letícia vieram embora mais...