Letícia 0.10 (Parte 2)

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Boa leitura

— Com licença! — Gritei entre os convidados e notei que minha voz saiu mais esganiçada que o normal. Assustei as pessoas em volta, mas não me importava. Comecei a atravessar o salão entre as pessoas e cadeiras. Bati em alguns e criei uma pequena bagunça entre os convidados. Agradeci mentalmente por minha bagunça só ter começado após Vitória dar seu último passo na passarela.

O cara do Crepúsculo percebeu na hora que eu queria chegar até ele e se despediu das pessoas que estava conversando. Ele saiu de seu lugar e começou andar a passos rápidos na direção de um dos corredores. Eu sabia que aquele corredor era exclusivo para funcionários e que obviamente ele estava fugindo de mim. Idiota! Você não vai escapar!

Quando alcancei a entrada do corredor, fiquei presa por uma equipe de fotógrafos tentando pegar cada flash do desfile. Os paparazzis deixaram minha visão delimitada e vi ele correndo no fim do corredor tirando seu blazer. Estava tentando se disfarçar como se fosse um funcionário normal, mas não me escapou sua falha tentativa de disfarce. Me estressei com os malditos fotógrafos e empurrei um sentindo raiva. Ele caiu em cima de outro e assim criou-se uma confusão de câmeras e pessoas caindo ao mesmo tempo. Desviei da massa caída no chão e avancei pelo corredor da forma mais rápida que já imaginei meu corpinho correndo. Virei a esquerda ao fim do corredor, seguindo o último rastro do homem de cabelos vermelhos. Depois de algumas portas, me deparei com a cozinha aonde cuidaram dos quitutes da recepção e agora se arrumavam para o jantar surpresa que os convidados teriam ao fim da noite.

Os cozinheiros gritavam com pressa e tentavam se organizar em busca de um serviço mais rápido. A cozinha parecia um estado de guerra. Panelas esquentando a comida. Uma mulher passando o esfregão no chão, perdida.  Um cozinheiro gritando com o chefe sobre molho estar salgado e que ele cuspiria nos pratos se não fosse feito o que desejava. Estava um completo caos.

Mesmo com tudo isso, ao fim da grande guerra de panelas, pias e talheres, meu olhar alcançou o fugitivo saindo por uma porta, empurrando-a. Quase passei por cima da comida que estava pronta. Senti que a bagunça instalada entre os cozinheiros parou para acompanhar minha corrida acalorada. Com os olhares sobre mim, alcancei a porta do fundo, bufando e passei por ela. Olhei em volta e não vi nada do cara do crepúsculo.

Atrás da cozinha, tinham três caminhos a se seguir. O corredor da frente, o da esquerda e o da direita. Orei pela sorte e segui pelo da frente. Segundo a minha lógica, aquele caminho daria nos fundos do salão e o cara teria sua rota alternativa por lá. Continuei indo com pressa e desconfiada do que viria. Desde que vi aqueles cabelos vermelhos nem hesitei por persegui-lo, porém no fundo, meu coração e mente gritavam PERIGO em letras VERMELHAS.

— Eu preciso sair daqui agora! Eu estou mandando! — Escutei uma voz a minha frente. Nunca tinha escutado a voz daquele homem, só que a intuição dizia que era ele.

Entrei em um salão semiescuro e percebi que a perseguição estava dando certo.

O fim do salão era composto por um depósito cheio de coisas largadas. Vi a sombra do homem correndo para a última porta. A porta que entregaria a saída do local. Comecei a correr mais rápido. Ele estava ferrado na minha mão. Perdeu aquele jogo. Alcançaria aquele idiota e o mataria se fosse necessário para achar cada um dos meus amigos. Era para isso que eu tinha atravessado o país. Aquela viagem não seria em vão!

Passei por algumas caixas de papelão e logo estaria fora do salão. Mais perto da verdade. Quando eu contar isso ao Samuel, ele vai...

Meus pensamentos foram interrompidos e quando percebi não estava mais correndo. Tropecei e cai no chão. Cambaleei e alguns segundos depois meu rosto acertou o carpete do chão em cheio. Senti meu rosto raspando contra o tecido e meus joelhos também. A batida na minha cabeça foi desorientadora.

Nós Odiamos O Amor (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora