Samuel 0.13

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Boa leitura!

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Boa leitura!

Ps: Se esse capítulo tiver alguns errinhos, me perdoem, mas é porque meu word tá dando problema pra revisar e tenho que ver como vou arrumar isso.

Sua gargalhada era uma melodia para meus ouvidos. Eu não entendia o porquê exatamente, mas estávamos muito sorridentes naquela manhã. Não que eu reclamasse da visão de seu intenso sorriso. Um sorriso que eu via em poucas pessoas da minha vida, porque era sincero.

Enquanto ríamos, ela me beijava. As vezes eu gostava de ter a iniciativa, porém quando vinha por parte dela tudo parecia mais interessante. Naquele momento, estávamos sentados em cima de uma caixa de madeira. Ela na verdade, estava sentada em cima de mim e aquilo me excitava muito.

Tudo era excitante. Eu me sentia fora do ar.

- Você está sentindo o mesmo que eu? - Ela tentava formular palavras sérias, mas tudo acabava convergindo em mais uma crise de riso. - Eu estou me sentindo estranha. Tonta. Tá tudo muito relaxado e minha vontade é só rir.

- Eu até te acharia estranha porque eu com certeza sou o mais feliz da relação e você é a mais ranzinza. Mas eu te entendo... Eu tô querendo sorrir o tempo todo também. - Ri enquanto ela me repreendia socando meu peito e em seguida trazia seu rosto para perto do meu com a melhor posição sexy que eu poderia querer. Seu nariz se aproximou do meu e por um minuto ficou séria novamente, mas logo riu bem na minha cara. Uma risada escandalosa e que voou até cuspe no meu rosto.

- Me desculpe, - ela ria muito e agora com uma cara envergonhada. - Eu sou muito otária...

- Ah que legal, - Limpei o cuspe que estava na minha bochecha, mas não consegui suportar a carranca por muito tempo e cai na gargalhada novamente. - Porra, Letícia. Você consegue ser tão ser sexy que no primeiro momento, já cuspe na minha bochecha. Que brilhante!

Ela ainda ria enquanto eu arrumava meus cotovelos que apoiavam meu corpo e o dela.

- Você quer dar aula de como ser uma pessoa sexy? - Ela zoou da minha cara. - O menino que se masturba com revistas que ficam no carro destruído...

Ela arrumou os cabelos enquanto abria um sorriso extravagante. Eu estava começando a achar que tinha algo de errado conosco. No começo do dia estávamos muito bem, tomamos café e viemos para o fundo do hotel bem sérios comparado ao que estamos agora, mas não parei para refletir com cuidado acerca de nossos acessos de risos. Não são normais... Ou será que são?

- Olha... Eu não vou mentir pra você. É gostoso, eu faço e pronto. E tenho certeza que mesmo assim sou muito sexy. - Garanti mordendo os lábios. Aquilo não tinha bem a intenção de ser um convite, mas acabou virando. Letícia avançou sobre mim me imobilizando e beijando minha boca do jeito mais gostoso possível. Segurei sua cintura com força de forma que ela se ajustasse em meu colo. Poderia jurar que vi estrelas de prazer assim que ela se arrumou, mas por algum motivo que eu também desconhecia, me sentia anestesiado a ponto de só sorrir. Meu corpo ainda não tinha estremecido de prazer como como sempre faz quando pego alguém . Eu com certeza incluiria aquela manhã a uma das mais estranhas que já tinha vivido.

Ela foi subindo sua mão em um toque delicado pelo meu corpo até que alcançasse meus braços e descesse por eles em um carinho extasiante. Ela alcançou minha mão direita e por mais que eu imaginei que ela não fosse fazer isso, entrelaçou nossas mãos com força e mesmo que eu estivesse risonho por fora, nunca imaginei que ela seguraria minha mão daquela forma. Não liguei. Afinal, era insignificante. Eu só queria beijá-la e apenas isso. Fosse ela segurando minha mão, puxando meu cabelo ou tirando minha camiseta.

Alguns minutos se seguiram e não falamos mais nada, só agimos com nossas bocas incontroláveis. E quem seria eu pra reclamar não é?

- Eu acho que quando conheci vocês, disse para não transarem no corredor do hotel, mas isso vale pra toda a propriedade, okay? - Escutamos uma voz que não me passou despercebida. Letícia finalizou o beijo, lenta e eu demorei pra entender. Abri espaço para que nos arrumássemos e ela saiu de cima de mim, mas não conseguimos manter pose nenhuma. Rimos de novo.

- Vocês dois estão de brincadeira com minha cara? - Cidalice que usava um macacão verde neon não perdeu a pose de adulta, apesar de sua vestimenta adolescente. Tentei segurar a risada, mas tudo virou um sorrisinho contido e Cida percebeu que não a levamos a sério. - Tá certo, eu não vou ser má com vocês. Eu sei porque estão risonhos. Estão drogados. Comeram bolo com maconha.

De primeiro momento, Letícia fez cara de surpresa, depois começou a rir de novo.

- Você está dizendo que o Superman também vai aparecer aqui em Manaus? - Ela brincou. - Não comemos bolonha, só estamos... Felizes!

A mesma se desequilibrou em seguida e caiu no chão. Soltou um suspiro derrotada demais para se levantar...

- Mas como exatamente... Você sabe que comemos... - Quis saber tentando completar a pergunta, mas a leveza me impediu.

- No café da manhã, uma das funcionárias trocou o bolo de nozes dela com o bolo que estava preparado para os hóspedes. E meio que ela tinha colocado um negócio verde no bolo que tinha feito. Vocês comeram o bolo dessa mulher, não é? - Minha mente voltou para o café da manhã. Nós não estávamos mais dormindo no hotel. Cidalice nos oferecera a casa dela para ficarmos, porque se não a conta do hotel ia ficar cara, nossa, como ela foi gentil... Dá pra focar, Samuel?

Minha mente estava fugindo a cada cinco minutos. Foi então que o momento do café da manhã me veio a mente. Letícia comeu três fatias e eu comi cinco de um bolo de nozes. Comentamos que o bolo estava bom. Aquilo era uma seis e meia... O efeito! Estava começando... Que bacana...

- Vocês precisam parar de fazer vigia. Não vai dar certo vocês esperarem o homem do Crepúsculo se estiverem chapados. Voltem pra minha casa e deitem na cama ou sei lá, só tomem cuidado pro meu pai não ver! Se não, pode ser que dê ruim... - Estávamos esperando o homem dos cabelos vermelhos todos os dias no fundo do hotel das oito as cinco da tarde, tendo apenas uma parada para o almoço. No dia que eu e Letícia fomos ao Burguer King, escutamos um funcionário do hotel comentar ao telefone que conhecia o homem do Crepúsculo e que ele era um dos fornecedores do hotel. Mais tarde, descobrimos que aquele funcionário era o pai de Cidalice e que o Crepúsculo viria nas partes do fundo do hotel caso resolvesse fazer uma visitinha. Contávamos que o sequestrador não quisesse perder seu emprego no hotel. Por cinco dias viemos pontualmente esperar por ele. A gente ficou bem determinado... Uau, determinação. Que coisa linda. É tão lindo que me dá vontade de rir.

Pra onde meu cérebro tá indo?

- Égua! Parece mesmo que vocês estão no mundo da lua... - observou Cidalice finalmente se permitindo rir diante da cena. Letícia tinha se levantado novamente e deitou na caixa de madeira. Ela ficou lá, deitada e sorrindo para o céu como se as nuvens fossem feitas de algodão doce. Talvez elas realmente tenham esse sabor, não sei, nunca comi...

- Vou pedir apenas uma coisa aos dois - prosseguiu ela andando de um lado para outro como uma general. - Fiquem aqui por cinco minutos! Eu vou lá dentro do hotel verificar uma última coisa. Assim que voltar, vocês podem ir pra minha casa e eu fico aqui esperando pelo homem do Crepúsculo, tudo bem?

Como Letícia não falou nada, eu apenas acenei com a cabeça positivamente e de forma lenta. Voltei para a caixa de madeira assim que Cidalice saiu. Deitei ao lado de Letícia e aquilo pareceu espantá-la, já que no segundo seguinte, ela parou de ficar deitada e se sentou abruptamente.

- Tá com nojo de mim, é? - Perguntei com um risinho.

- Acho que depois de ter te beijado umas 70 vezes, não tem como ter nojo. Apenas quis sentar, já que eu não sei o que aconteceria com meu estômago se continuasse deitada. Tá tudo virando, ao mesmo tempo que não está. Você consegue entender?

- Não. Mas finge que sim.

- Tá tudo virando igual nossa vida que virou de cabeça pra baixo uns 10 dias atrás quando resolvemos viajar. Que ironia... Sam! Oh, puta merda!

- Que foi?

- No twitter, diziam que os policiais estavam pra chegar na cidade. Fazendo as contas, eu acho que eles já devem estar aqui. Os nossos pais... Você acha que eles também vieram? - Finalmente Letícia dissera algo que parecia fazer algum sentido. Eu não tinha pensado nisso. Na verdade, eu não pensava na minha mãe e no Erick há uns dias. Como eu era distraído... Mas a minha mãe não ligara mais. Nem meu irmão tentou contato. Não sei, mas devem estar bem.

- Se eles vieram ou não, agora já nos enfiamos demais no que viemos fazer. Não podemos parar o plano, se é que essa parada vai dar certo.

- Já pensou se a gente morre? - Letícia riu com a pergunta por mais estranha que a indagação fosse. Ri também. - Caramba, imagina nós dois no nosso último momento declarando juras de amor um para o outro como se fosse Titanic, mas ai vem um cara e atira na sua cabeça, em seguida eu grito e tento levantar com medo de morrer, mas então atiram na minha cabeça também. - Ela encenou alguém atirando em sua cabeça, colocou a língua pra fora e revirou os olhos ainda dando risada.

- Vou tentar ignorar o quanto isso foi sádico pra caralho, Ti. Esse universo que você criou não seria a gente. Antes que eu levavasse um tiro, eu lutaria contra o cara e daria uma chance de você correr e caso ele tentasse atirar em você eu me jogaria na frente. Pra tentar te salvar. Sem juras de amor porque seria trágico, mas pelo menos teria salvado sua vida.

- Que romântico! Muito obrigada Samuel do universo alternativo! - ela jogou as mãos para cima como se estivesse agrandecendo aos céus. - Mas por favor, só não diga que me ama agora. É óbvio que você não se jogaria na minha frente.

Apenas refleti com sua resposta. Por mais drogado que estivesse, eu não tinha dúvidas sobre o que dissera. Me jogaria na frente de uma bala por qualquer que fosse os meus amigos. Principalmente Letícia. Ela ter acreditado que eu não faria isso me magoou. Mas estou boiando demais pra pensar nisso nesse momento. Que se fodam as juras de amor e os universos alternativos, não é?

- Caramba, que cabelos vermelhos lindos ele tem... - Escutei Letícia dizer por um segundo e não raciocinei. Espera... Cabelos vermelhos? Me virei para olhar na direção que ela encarava. Bem ali, do outro lado do galpão, um homem de cabelos vermelhos se apoiava em uma camionete, impaciente. Arregalei os olhos quando minha mente carregou. É o homem da festa!

O homem do Crepúsculo parecia ter um ar despreocupado. Aproveitei que ele não tinha nos visto e puxei o braço de Letícia para cairmos atrás da caixa de madeira que estávamos. Assim que ela caiu no chão me olhou com uma cara de dúvida e raiva.

- Como você olha pra ele, diz que tem cabelos bonitos e não percebe que é o sequestrador? - Indaguei indignado e ela finalmente pareceu raciocinar dando uma risadinha.

- Desculpe, maconha na cabeça - ela bateu com o dedo indicador na testa. Revirei os olhos, mas acabei rindo em seguida. Balancei a cabeça para focar no que precisava e espiei os movimentos do sequestrador por cima da caixa.

Ele seguiu para dentro do balcão seguindo o pai de Cidalice que apareceu com uma cara brava e falando.

- O que fazemos agora? Parece que estamos em um filme de ação - Letícia cobriu sua boca com as mãos tentando conter espasmos de riso e euforia.

- Temos que ficar quietos por mais que você queira rir e me faça querer rir também, não devemos abordá-lo porque se ele fugir saberá de vez que estamos aqui e pode tentar nos levar. Precisamos segui-lo. O dia todo. - Tentei formular meus pensamentos de forma coerente. Ela concordou com a cabeça várias vezes.

- Mas e a Cida? Ela pediu para esperarmos.

- Acontece que ela não contava que ele ia aparecer agora. Não podemos perder o rastro dele mais uma vez. Isso seria como se jogar da ponte - continuei de olho no balcão, suspirando.

- Vamos tentar chegar mais perto - sugeriu ela e nos arrastamos para trás de uma outra caixa de madeira que estava mais perto da camionete. - Samuel, ele está de carro. Como vamos persegui-lo se não temos outro?

- Acho que vamos ter que improvisar. - Olhei para a parte de trás do carro.

- Você não pode estar falando sério. Quer que a gente pule na camionete desse doido? - Apesar de drogada lá vinha o pessimismo de Letícia que nunca somia. Já estava esperando o sermão e quantidade de cenários terríveis que poderiam acontecer se tomássemos aquela atitude. - PARTIU! VAMOS! BORA!

- Para de gritar sua louca - repreendi com um olhar feio. A maconha tem efeitos inteiramente, bruscamente, loucamente, futuramente... Por que do nada minha mente começou a rimar palavras com mente? Que loucura... Eu tô é muito doido. - Vamos lá, então?

- Acho que sim, se vamos, precisamos entrar na caçamba antes dele ver. - Terminei minha fala e já me lancei para frente. Andando de forma cambaleante seguimos até o carro e tivemos uma visão melhor da parte de dentro do balcão, onde o sequestrador e o pai de Cida conversavam.

- Temos sorte dessa lona estar aqui. Ela pode nos cobrir... - comentou Letícia analisando o pano preto que servia para ocultar o que estivesse na parte de trás da camionete.

- Eu vou primeiro. - Trepei no carro torcendo para que os dois dentro do balcão não enxergasse dois adolescentes entrando na camionete vermelha.

- Anda logo! - Letícia me empurrou e acabei caindo de forma desajeitada dentro do carro do sequestrador. Minha cabeça que bateu na lataria doeu por alguns segundos e me sentei em seguida olhando para Letícia com raiva. Aquilo deveria ter feito barulho! Ela trepou no carro depois e caiu ao meu lado. - Ah, não fica com essa cara bravinha Sam, precisamos ser rápidos e cautelosos.

- Se cautela é cair de cabeça pra você, eu deveria começar a ter medo - disse passando a mão na testa dolorida.

- Faz o seguinte. Cala a boca, se cobre com essa lona e fica quieto! - Empurrei o pano preto por cima de nós dois e deitamos no chão da caçamba. Era desconfortável, mas era o que tinha. Tentei deixar a lona o mais esticada possível para que não parecesse que tinha dois corpos embaixo dela.

- Você acha que ele vai nos ver? - Perguntei, impaciente.

- Eu não sei, mas parece que injetei adrenalina nas minhas veias! Isso é muito bugado! Estamos escondidos no carro do sequestrador. A chance disso dar é errado é mil, mas eu não ligo. Tô colocando a culpa na maconha. Deve ser culpa dela mesmo, já que eu normal nunca faria isso. - Ela desatou a rir novamente. Tentei segurar o riso.

- Não podemos rir, esqueceu? Parece que somos espiões. Mas devemos parecer os piores.

- Pelo menos não tomamos um tiro em um beco e não estamos correndo contra duas organizações secretas... - Estranhei seu comentário.

- Do que você tá falando?

- Nada. Foi uma fanfic estranha que eu li uma vez na internet. Era sobre espiões...

- Eu já disse! Me dê mais um dia! - Escutamos uma voz. Deveria ser o sequestrador, pois sua voz foi se aproximando do carro. Ficamos em silêncio na hora.

- Stephen, eu já disse que não poderia esperar mais! Eu não sei no que cê tá medido, mas alguma coisa é! Nas últimas semanas você tem estado muito estranho e parou de me fazer entregas. - O pai de Cidalice parecia estar brigando feio com o homem de cabelos vermelhos.

- Você não entenderia... - Agora tínhamos um nome! Meu Deus! O cara do crepúsculo se chama Stephen. Stephen quem levara nossos amigos! Olhei para Letícia que estava tão perto de mim que podia sentir sua testa quase batendo na minha junto com sua respiração. Ela também deveria ter ligado os pontos.

- Não entenderia? - O pai de Cidalice se aproximou do carro. - Eu te dou 24 horas. Se não aparecer com as coisas, nunca mais olho nessa sua cara.

Escutamos passos se afastando do carro e uma porta batendo. Stephen deveria ter entrado na parte da frente do veículo. Ainda bem que ele não tinha nos percebido... Mas e agora? Para onde ele iria? Apesar de termos nos permitido respirar mais calmamente, livremente, levemente... Por que minha cabeça não para com mente? Eu já não sei de mais nada.

Trememos sob o rugido do motor. O carro avançou e Letícia se segurou em mim para não escorregar.

- Será que ele já vai direto para o esconderijo dos nossos amigos? - Letícia perguntou.

- Eu não sei. Mas não consigo saber se é melhor ou pior ele ir pra lá.

- É claro que é melhor. Vamos saber a localização exata de onde eles estão e poderemos chamar ajuda.

- Ajuda? Letícia, e se não pudermos? E se formos pegos também?

- Não vamos deixar nos pegar... - Ela ficou tão próxima de mim que senti meu coração desacelerar. Seu nariz encostou no meu e pareceu que não estávamos drogados mais, nem em um carro de um desconhecido. Apenas nós. Não pude conter um sorriso. Eu não sabia se ela estava sorrindo também, mas eu já me sentia mais feliz depois dela ter depositado tanta confiança em nós. De que não seríamos pegos e que tudo daria certo.

Me senti um bobo por estar sorrindo igual um idiota no escuro. De repente, escutei risadas dela. Soltei um suspiro de contentamento. Ela claramente não ligava e não entendia que eu estava feliz com aquela situação, por mais estranha que fosse.

Será que eu estava me importando demais e ela nem sentia o que eu estava sentindo? Não.

Estamos em sintonia, não estamos? Ela sente o mesmo que eu quando está comigo, só hoje que está diferente porque comeu aquele bolo... Eu acho.

Mas eu também tinha comido o bolo e ainda entendia o que estava sentindo. Cada pessoa deve ter um efeito diferente. Minha mente está muito anestesiada para pensar... Loucamente, estranhemente, bugadamente. E lá vem o mente de novo.

O carro pulou de repente. Parecia que estava mais acelerado. Por que Stephen estava correndo? Ficou mais difícil de ficar no mesmo lugar com tanta rapidez.

- Ele está tão rápido que deve estar furando todos os sinais vermelhos agora. Saímos de um livro de espiões e entramos no GTA? - Perguntou Letícia de algum lugar mais distante da caçamba.

- Eu só espero muito que um policial não pegue ele agora. Imagina, o que iríamos fazer? Seríamos presos por cúmplices de desaparecimento? Ou então, Stephen ficaria louco por nós estarmos no carro dele e tentaria matar o policial e a gente, juntos?

- Que imaginação fértil a maconha te deu, Sam... - Ela riu de novo e como se para responder nossas perguntas, o veículo freou bruscamente. Stephen desligou o carro e escutamos uma porta batendo. Ele estava saindo.

- O que fazemos agora? Saímos? - Quis saber um pouco desesperado demais.

- Esperamos mais um pouco... - ela ficou quieta e durante os minutos seguintes não se ouviu nada, apenas nossas respirações. - Agora olhamos.

Retiramos a lona que nos cobria com cuidado e espiamos o lado de fora com o maior cuidado que pessoas chapadas teriam ou seja, eu tropecei nela enquanto tirava a lona e ela me empurrou me desequilibrando novamente. Arregalei os olhos em alerta para saber onde estávamos.

- É uma rua normal, com casas normais - observou ela o que me fez fazer uma cara desanimada.

- É sério? Dizer o óbvio é fácil não é, detetive? -Zombei com sua cara e ela pareceu concordar derrotada.

- Não disse o óbvio. Na verdade foi óbvio sim, mas é melhor estar em uma rua de um bairro normal do que dentro de uma instuição do governo ou na nave de aliens.

- Ah, sim Letícia, faria todo sentido se tivéssemos vindo parar em um desses lugares. Para de paranóia, vai ser bom se descobrirmos que bairro é esse e qual rua estamos... - Tentei raciocinar o máximo que consegui apesar da minha mente estar tremendamente lenta. Certeza que se me dessem uma conta de dois mais dois nesse momento, eu teria que tirar uns minutos pra calcular.

- Deve ter uma placa do nome da rua em algum lugar, temos que sair do carro - avaliou Letícia.

- Um vai e outro fica. Só pra garantir.

- Mas e se o tal do Stephen aparecer? Seremos descobertos.

- A questão é que viemos pra investigar. Se nenhum de nós ver onde estamos, não vai adiantar termos vindo.

- Então vai você - ela começou a olhar para as unhas como se fosse minha chefe e esperasse que eu fizesse o trabalho. - Tá esperando o que, bonito? Já foi?

Bufei diante da tarefa que tinha que fazer. Pulei pra fora do carro e averiguei melhor as casas a nossa volta. Não era um lugar de casas muito caras, então devia ser um bairro de classe média ou baixa. O carro de Stephen estava parado em frente uma casa branca descascada e o portão de ferro estava entreaberto. Ele deveria ter entrado ali quando chegou. Olhei em volta, receoso. Comecei a caminhar na direção de uma das pontas da rua sem saber se deveria caminhar rápido ou fingir que era uma pessoa normal.

Será que Stephen sabia quem era eu e Letícia? Provavelmente. No dia que Letícia ajudou no desfile, ela disse ter escutado duas pessoas conversando na festa e falando sobre nós dois. Nossa chegada em Manaus já estava sendo observada por alguém em algum lugar. Certamente seria o próprio sequestrador ou algum contratado...

Parei de ficar pensando e logo encontrei a placa referente a onde estávamos. Rua Crisanto Jobim. Aquilo já deveria ajudar. Peguei meu celular e fiz uma rápida pesquisa. O bairro era Petrópolis. Não era longe do hotel e me deixou mais calmo ter uma ideia do local que viemos parar.

Olhei para trás e Letícia balançava os braços insunuando pra que eu voltasse ao carro. Quis rir da cena. Ela estava em um misto de empolgação e medo que ficou engraçado. Comecei uma corridinha para voltar ao carro e notei que Stephen não tinha voltado.

- Dá pra você ficar mais calma? Normalmente é quando as pessoas ficam nervosas que as coisas dão errado - falei ao retornar para a ponta da camionete onde ela aguardava impaciente.

- Não é quando as pessoas ficam nervosas que as coisas dão errado e sim quando elas relaxam e acham que tá tudo bem.

- Eu não relaxei. Pode ficar calma que eu já vi em que lugar estamos. É um bairro chamado Petrópolis, não muito longe do hotel - disse com tranquilidade e aquilo pareceu irritá-la.

- Você tá muito calmo, e isso me irrita.

- Não foi você que gritou PARTIU, BORA e me empurrou dentro da camionete? Eu achei que você tava tão chapada que não estava nem percebendo o que estamos fazendo.

- E eu não estava percebendo mesmo... - Vi um ar de preocupação no rosto dela. - Mas agora eu percebi. Vamos voltar! Dá pra andar até o fim da rua e fingir que nunca estivemos aqui.

- Tá doida é? Deve ser o efeito da droga. Te deixou bipolar - Letícia ponderou aquela observação reflexiva. Acho que até ela concluiu que fazia sentido.

- Caralho, eu acho que é isso mesmo. Agora eu estou com uma imensa vontade de chupar um picolé ou sei lá. É como se eu não conseguisse segurar minhas vontades. Mano, que louco!

- Você tá tri louca! Isso significa que qualquer coisa que te der vontade, você vai fazer? - Tentei entender. Ela acenou com a cabeça concordando.

- Faz o seguinte. Tenta não pensar em nada. Fica aqui que eu já volto. Vou resolver uma coisa.

- Resolver? Não tem o que resolver. Precisamos esperar! Nossa, que vontade de comer bem aquele picolé de chocolate suculento - ela colocou a língua pra fora como se realmente dependesse de comer o tal picolé.

- Fica aqui - falei por último ignorando o quão louca ela está. Andei escorado pela camionete ignorando ela que começou a gritar várias vezes para que eu voltasse. Por último, disse que se eu fosse pego, ela fingiria que não estava ali e deixaria eu me foder. Foi justamente essas palavras proferidas pela boca dela! Eu vou fingir que a Letícia não é um ser racional mais, talvez seja melhor. Nem eu estou tão racional assim.

Sai na frente da camionete. Meu plano era descobrir onde estava Stephen e o que fazia. Talvez eu pudesse descobrir algo de útil e qual o motivo dele ter parado bem naquele lugar.

Abri o portão da casa clara que paramos em frente. Eu sabia que o que estava cometendo era invasão, mas ao primeiro sinal de alguma coisa que pudesse dar errado, sairia correndo e fingindo que não tinha feito nada. A casa por dentro era simples com o chão de cimento e uma varanda sem decorações. Apurei os ouvidos.

- Eu não sei porque ele cisma com aqueles pirralhos. É a porra de um lunático! - Escutei Stephen vociferando. De quem ele estava falando?

- Amor, vamos fugir juntos! Você vai estar livre desse cara e ainda poderemos rir disso no futuro - escutei uma voz feminina. Namorada dele? Esposa? Alguma mulher tinha realmente gostado desse cara?

- Livre? Eu não nutro esperanças, querida. Esse lunático tem fiéis. Eu não sei onde estão, mas esse doido tem um exército. E acreditam fielmente nele. Podem até acreditar que ele seja capaz de fazer milagres...

- Você está exagerando. Ninguém é tão tolo a ponto de crer que um novo Jesus Cristo apareceu na terra - afirmou certa do que dizia.

- Não acreditam que ele seja um Jesus Cristo, acreditam que ele possa trazer salvação e paz de alguma forma. É o que esse lunático diz pelo menos!

- Eu acho que é mentira. Ele mente pra você. Não tem um bando de fiéis por ai merda nenhuma. Ele acredita que tem, mas não quer dizer que seja verdade.

- É verdade sim. Existe alguém que está ajudando ele - Stephen também pareceu certo sobre o que disse. Mas quem seria o Lunático? O homem da conversa? Pelo o que posso concluir, os dois falam de um cara que as pessoas acreditam, como se fosse um profeta. Que maluquice é essa?

- Uma pessoa deve estar patrocinando ele. Como uma pessoa teria tantos guardas a disposição, um esconderijo e ainda um sequestro arquitetado? Talvez ele seja mais um riquinho, mas não tem cara de ser. Tem cara de quem fez alguém acreditar nas maluquices dele e agora está coordenando todo um plano sádico - Stephen finalmente falara algo que era pertinente e quase quis comemorar. Stephen não era o dono do sequestro e sim um subordinado. Um subordinado de um lunático que se acha um profeta?

- Você vai seguir com o plano. Roubar esse cara, talvez matar as crianças e... - CRÁS! Quase morri de susto. Enquanto a mulher falava, acabei me distraindo. Eu acabara de quebrar um vaso! Um vaso que me passou despecebido, mas que estava ali o tempo todo! Na varanda! - QUEM ESTÁ AÍ?

A mulher não se demorou para gritar assustada. Eu precisava me esconder! Voltar a camionete não era uma opção. Aquilo demoraria tempo demais e talvez eu fosse pego. Dei alguns passos abaixado na varanda e suando muito. Não de medo e sim de ódio. Como eu deixara aquilo acontecer? Meus passos foram devagar, mas consegui alcançar o outro corredor na extremidade oposta da entrada da casa. Entrei no corredor olhando para o que tinha lá. Muitas tralhas. Não tinha como eu passar! Diversas bibicletas, ferramentas, baldes, tecidos velhos, pedras e mais uma infinidade de coisas que trazia até mesmo um ar abandonado para a casa. Respirei fundo. Não importava as coisas que tinham ali. Eu precisava passar e fugir dos olhos da mulher e de Stephen.

- APARECE SEU IDIOTA! Não somos babacas e sabemos que você está aqui!

Pulei uma bicicleta com cuidado e comecei a passar pelos obstáculos que surgiram aos montes. Aquilo exigiu uma elasticidade do meu corpo que eu não tinha e minha calça jeans não ajudava em nada. Foi quando pulei sobre cavalete que escutei um rasgo. Estava indo muito bem sem fazer barulho, mas aquele rasgo denunciou que eu realmente estava presente. Agora com uma calça rasgada, comecei a correr para o fundo da casa sem me importar com o barulho. Escutei os passos de Stephen e da mulher aumentarem, porém não conseguiram me ver. Ao chegar ao fundo da residência, encontrei uma janela e pulei dentro de um quarto. Era um cômodo rosa com uma cama de solteiro. Me abaixei e passei a andar mais abaixado por dentro da casa. Contava que eles ficassem pelo lado de fora, como já estavam.

- Será que foi um animal? - A mulher levantou a dúvida.

- Para de ser besta, sua estúpida. Tem que ser um rato muito gordo pra derrubar um vaso daqueles...

- Mas não tem pessoa nenhuma aqui! - As vozes ficaram abafadas, contudo escutava de longe rodeando o lugar em busca de um suspeito.

- É melhor eu ir embora. Já chega! Eu sou muito estúpido por estar conversando sobre as coisas do sequestro com você! Se alguém me escutar pode denunciar e assim morreria.

- Para de drama. Ninguém veio aqui.

- Pra garantir eu vou embora e despistar caso uma pessoa ainda esteja por perto - declarou ele e um pânico estalou na minha mente. Se ele fosse embora naquele momento e ligasse a camionete, levaria Letícia e eu ficaria para trás. Eu me sentia responsável por cuidar de Ti, apesar de ela já ter deixado claro uma vez que não é uma princesa pra ser resgatada, eu sei que é culpa minha termos chegado até aqui e se algo acontecer, terá sido por erro meu.

Sem pensar, levantei e pulei três vezes chocando meu pé contra o chão do quarto para que fosse escutado. Encontrei uma bolsa em cima da cama e arremessei no chão para atrair todo o barulho para mim.

- Dentro da casa! Agora! - Escutei Stephen gritar. Sai pela janela novamente e peguei o corredor oposto ao das tralhas. O corredor que eles estavam enquanto conversavam e eu espiava. Andei meio travado até chegar na frente da casa. Eles já tinham saído de lá para investigar o barulho que havia feito no quarto. Me aproximei da camionete correndo e pulei na caçamba.

- Letícia, foi uma loucura! Precisamos nos esconder agora! Eu... Letícia? - No momento que já estava pegando a lona para se encobertar, vi Letícia correndo na direção da camionete. Ela tinha saído! Mas para quê? A resposta veio em suas mãos assim que corria. Ela chupava um picolé e tinha outro nas mãos. Pensei em gritar, mas aquilo criaria alarde. Ela chegou próxima a camionete com os olhos arregalados. Ajudei a mesma com os picolés e auxiliando sua subida no veículo. Sentamos no minuto que Stephen saiu da casa. Paralisei ao perceber que ele quase nos viu. Puxamos a lona e ficamos quietos.

- Você viu! Não tinha ninguém na casa... Temos que considerar que realmente foi um animal... - A mulher continuou falando e já podia imaginar que Ti tentava relacionar quem era a dona da voz. Esperava que não fôssemos descobertos e assim poderia contar a ela mais tarde.

- ONDE VOCÊ TAVA? Eu comecei a desesperar porque escutei coisas estranhas de dentro da casa! Eu tava morrendo de vontade de comer o picolé e meu corpo simplesmente... - Letícia simplesmente não parou de falar um minuto e sabia que Stephen se aproximava do carro e poderia escutá-la. A selei com um beijo. Mesmo no escuro pude ver seus olhos arregalados com raiva e satisfação juntas. Adotei aquela expressão como a minha favorita. Continuei o beijo com vontade. Por mais que a intenção inicial fosse só calá-la, aquilo ficou mais gostoso do que imaginei e os picolés até mancharam nossas camisas conforme ficamos próximos. De repente ela cortou o beijo com uma arfada e colocou as suas mãos contra meu peito indicando que era pra eu escutar o lado de fora.

- Vou sair! Vou para o esconderijo! Preciso informar ao chefe que talvez alguém esteja me perseguindo... Isso é grave - informou o homem de cabelos vermelhos a tal amante. Os passos ficaram próximos. Alguém estava perto da caçamba. Deveria ser ele. Eu e Letícia nos encolhemos ao máximo, temerosos de que ele desconfiasse de uma respiração sequer. Sentimos alguém puxar a lona e depois bater na lataria do veículo. Nosso coração veio para a boca, mas não soltamos um pio.

- Essa lona idiota nunca serve de nada e esse carro é um lixo - bradou o subordinado do sequestrador. Escutamos uma porta se batendo e ficou óbvio. Ele assumira a direção.

O carro entrou em movimento novamente. Eu estava tenso, mas Letícia se demonstrou desesperada. Ela apertou meu braço com força e a abracei tentando confortá-la. Não era muito legal saber que logo estaríamos no covil da pessoa que sequestrou nossos amigos. E se revistassem por completo o carro e encontrassem a gente de vez? Seria o fim com certeza.

- Desculpa te calar com um beijo - ri com o que disse e ela sorriu suspirando.

- Não que tenha sido ruim... Eu tava falando muito, mas é que quando você entrou naquela casa e não voltou logo, fiquei com medo de ser pega naquela camionete então acabei saindo pra comprar o picolé que tanto queria - respondeu e continuou chupando o picolé de chocolate que derretia. Revirei os olhos tentando afastar a quantidade de pensamentos errados que vieram a minha cabeça.

- E pelo visto você aproveitou pra comprar um pra mim - ela anuiu com a cabeça e comecei a chupar o outro picolé que foi bem vindo no calor que era ficar de baixo daquela lona preta no calor de Manaus.

- Dá pra você me explicar o que ouviu lá dentro? - Contei tudo a ela, inclusive sobre o papo estranho do verdadeiro dono do sequestro ser um alienado que acreditava ser um profeta. Eu não sabia se Stephen conversava em códigos com aquela mulher, mas achei improvável aquela possibilidade. Os dois não pareciam o tipo de dupla que teria um código secreto para se comunicar.

- Você está querendo dizer que nossos amigos fazem parte de um plano de um falso profeta? Que história maluca... - ela não pareceu acreditar nisso, porém levou em conta que eu estava falando sério.

- Em um mundo que tem tanta corrupção e sociopatas, eu já não dúvido de mais nada - afirmei pensando na má sorte dos meus amigos em ter ficado na festa aquela noite.

- Mas qual é o objetivo dele com quatro adolescentes? Ao mesmo tempo que fiquei feliz por saber que eles quatro talvez ainda estejam vivos nem quero pensar no que pode acontece-los.

- O jeito vai ser esperar agora. - O tempo dentro do carro foi surpreendente. O carro estava dirigindo para uma distância maior, já que cronometrando pelo relógio estávamos andando a mais de uma hora e a camionete nunca mais parou. Tentei pensar por um lado otimista de que agora estávamos realmente a caminho do esconderijo do sequestrador.

Quando se completaram duas horas de trajeto, o carro estacionou com um tranco. Levei um susto, pois já tinha até caído no sono. O sono não tinha sido profundo, afinal em todos os momentos senti Letícia sacolejar ao meu lado fosse devido a velocidade da pista ou sua inquietude para o que estávamos prestes a enfrentar.

- Esse lugar tá sempre cheio de turistas. Povo irritante. Até parece que nunca viram uma cachoeirazinha! Talvez eu devesse descontar o mal humor naquele Igor, hoje. - A risada seca de Stephen reverberou nos assustando já que o mesmo tinha dito o nome do nosso amigo bem claramente. O que ele queria dizer com descontar? E se nossos amigos estivessem passando por um destino pior que a morte? Sendo eletrificados, psicógicamente feridos e cortados? Lembrei de um caso no japão que uma menina fora levada por uma gangue de garotos e passou mais de um mês no puro inferno antes de morrer na mão deles.

- Ei, Samuel. Ele já foi, temos que sair. - Letícia puxou a lona, surpreendendo meus pensamentos com a luz clara de fora do veículo. Olhamos em volta e avistamos Stephen caminhando por uma trilha em que vários turistas caminhavam.

- Precisamos acompanhá-lo - disse e pulei pra fora do carro ajudando ela a sair em seguida. Começamos uma caminhada por trás de Stephen. Não demorou para detectarmos o lugar que viemos parar. Presidente Figueiredo. Com uma simples pesquisa, vimos que era uma cidade a 100 quilômetros de Manaus. Ali era conhecido por ter belas cachoeiras e um contato maior com a floresta. Estávamos em um chão de terra batida e troncos flanqueavam a paisagem por toda parte. O verde intenso e a natureza era bonito de se ver.

- Nós temos que nos disfarçar! - pronunciou ela e meneei a cabeça em concordância. Se ele virasse para trás seria o fim.

- Mas como... - Tentei formular minha dúvida, mas quando vi, Letícia me puxou para a frente dela e segurou meus braços como se eu fosse um escudo.

- Não preciso nem te explicar que ele acabou de se virar e quase viu nossos rostos e é por isso que te coloquei na minha frente - murmurou ela bem próxima do meu rosto. Ri com o jeito que ela imaginava que eu fosse um muro e a escondia muito bem.

- E como pretende se disfarçar?

- Abra sua carteira - respondeu. - E é desse jeito que nos disfarçamos.

Ela soltou um tapinha no meu peito e soltei um suspiro. Desde que a viagem tinha começado, tentei balancear os gastos entre o cartão e minha própria grana que economizara durante o ano. Mas agora só restavam três notas de 20 na minha carteira e não queria usar muito o cartão pra não matar minha mãe de infarto mais tarde. Se é que ela já não infartou. O peso de explicações que eu teria que dar quando voltasse pra casa já pesava na minha consciência.

Chegamos perto de alguns turistas como se não quiséssemos nada e perguntamos se eles venderiam um óculos e um chapéu. Tivemos que tentar negociar com três famílias diferentes, até que uma aceitou a barganha. Um óculos verde claro e um chapéu rosa pararam em nossas mãos e Letícia se recusou a usar o chapéu rosa. Tentei discutir, mas com um olhar inquisidor, Letícia me calou e enfiou o chapéu com flores na minha cabeça.

-Tenho certeza de que sua masculinidade não é frágil. Eu amei esses óculos, pode esquecer - Continuamos o caminho e Letícia se sentiu a rainha da Amazônia com aqueles óculos na cara. Não me contive em rir das poses que ela fazia durante o caminho e algumas vezes capturei algumas fotos dela quando se distraía. Sabia que a mesma não me deixaria tirar fotos dela se eu dissesse alguma coisa. Ainda tinha suas inseguranças.

- Você tem noção que quando tudo isso acabar, vou pedir pra Manu, nossa amiga rica, me devolver todo o dinheiro - disse notando que a brisa da maconha ainda voltava em pequenas ondas. É claro que em meu estado normal, não estaria com aquela alma estorquista. Mas sendo verdadeiro, bem que não faria mal uma pequena ajuda de Manu.

- Para de ser idiota, Sam. Foi você quem fez questão de viajar, esqueceu? Se queria seu dinheiro intacto, deveria ter sossegado lá em Pelotas - chegamos próximos a uma parte daquele lugar que tinha uma caverna. Uma caverna ao ar livre. Suas paredes cor de terra com lodo verde pareciam estar ali desde muito tempo. Stephen tentava se disfarçar por mais um mínimo turista no meio de todos, porém ele não nos enganava.

- Você bem que não foi contra em seguir esse gostoso aqui... - apontei para mim fazendo uma pose com o chapéu rosa ridículo.

- Eu que não iria me opor mesmo. Mas não vai se achando esse deus grego que tá na sua imaginação que você nem é tudo isso não, tá?

- Pelo menos eu dou pro gasto! Quem foi mesmo que me agarrou na parede do hotel? - Rimos mais. Não nos importamos com quem passa olhando torto porque realmente não estamos normais. Principalmente a trinta metros atrás quando Letícia se jogou em cima de mim de repente e caímos no chão.

Seguimos mais um pouco a frente até que chegamos perto de uma linda cachoeira. A água estava bem gelada quando toquei com as mãos e parecia ótima para se refrescar, mas não podíamos nos dar esse luxo. De uma forma bem estranha, Stephen de repente se lançou em um ponto da mata, se afastando dos turistas. Fomos ao seu encalço imediatamente. Quase não percebemos que ele se afastara, mas felizmente conseguimos vê-lo.

- Não podemos fazer barulho! - alertei ao avançarmos no mato denso. Aquele caminho não tinha uma trilha exata e por isso Stephen parava de tempos em tempos para averiguar o ponto ao seu redor para ter certeza de que ele mesmo estava certo.

O caminho seguiu-se por uns 15 minutos a frente. E nos surpreendemos no fim da trajetória. Com as reclamações dos pernilongos evidentes de Letícia, avistamos uma enorme clareira. A clareira parecia uma fortaleza, pois em seu centro havia um posto com vários homens armados prontos para atirar. Nas extremidades do local, vários carros estavam estacionados. Em sua maioria, carros pretos, caros e discretos. O posto no centro era cercado por um portão de ferro, aonde Stephen se aproximou e com a confirmação dos guardas, adentrou o local.

- Letícia... Eu acho que encontramos - falei com a voz quase rouca. Eu não sabia se tinha empolgação ou medo. Nossos amigos deveriam estar naquele lugar.

- Sam... - Ela se virou e me abraçou. Afaguei seus cabelos com cuidado. Tínhamos feito um bom trabalho chegando até ali, mas porque parecia que ainda tinha muita coisa pela frente?

- Ti, parece que o sequestrador tem uma base no meio da mata amazônica. E a parte de cima é apenas um posto, eles devem estar no subterrâneo. Não podemos invadir, seria loucura. Morreríamos. Mas precisamos chamar a polícia - olhei no fundo dos olhos dela pra ter certeza de que ela tinha entendido minhas palavras em meio ao seu estado choroso.

- Será que nossos amigos estão bem? - Já tínhamos feito aquela pergunta mais vezes do que podíamos contar naquela viagem, mas daquela vez, a pergunta parecia muito mais séria e importante.

- Eles precisam estar - falei e puxei a mão dela para que saíssemos logo dali antes que fôssemos vistos.

- Eles precisam estar - falei e puxei a mão dela para que saíssemos logo dali antes que fôssemos vistos

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Voltamos ao hotel assustados e pensativos. O efeito da maconha, não tinha passado ainda, mas não conseguimos rir depois do que tínhamos descoberto. O local que nossos amigos estavam presos! Eu queria ter entrado lá e ter tirado eles nem que fosse na marra. Porém sabia que seria uma grande imprudência.

Assim que fizemos o caminho de volta. Fui tirando fotos de partes do caminho para que assim tivéssemos uma referência para explicar o lugar a polícia. Passamos pela entrada do hotel procurando Cidalice e percebemos que tinha algo errado quando vimos o rosto de nossa amiga.

- Samuel! Letícia! Que bom que estão bem! Meu Deus, vocês me deixaram extremamente preocupada. Eu fiquei nos fundos do hotel esperando o Stephen e vocês sumiram. Meu coração não ficaria calmo enquanto não visse o rosto de vocês! - Ela lançou os braços sobre a gente e começamos a explicar tudo que vivemos naquele dia. Suas expressões foram surpresas, mas por mais que estivéssemos ali na sua frente e bem, ela não tirou de sua cara a expressão de tristeza.

- Tem algo errado, Cida? - Ti se preocupou com a feição de nossa amiga de cabelos cor de mel.

- Bem... - Antes que ela pudesse explicar, surgiram dois policiais na recepção que conversavam com o pai de Cidalice. Ao lado dos oficiais, tinham duas pessoas que não esperava ver. Os pais de Letícia. Assim que eles baixaram os olhos sobre a filha seus rostos demonstraram alívio e não fizeram mais nada a não ser correr e segurar Letícia com lágrimas e uma felicidade nos olhos.

- Senhor e senhora Gomez - apresentei-me com um sorriso meio torto como se tivesse sido eu quem tinha raptado Ti e a levado até Manaus. - Se precisarem culpar alguém por tudo que aconteceu, não julguem Letícia. Foi tudo eu e... - Eles me olharam curiosos e pareciam estar com uma feição de preocupação e tensão. Por que estão me encarando desse jeito?

- Já que vocês chegaram até aqui. Primeiro, eu peço desculpas por tudo que aconteceu e segundo que Letícia e eu não somos responsáveis por nenhum desaparecimento como a mídia tá falando okay? - Lembrei dos tweets e mesmo com tudo que eu estava dizendo, eles não tiravam suas expressões de dor ao me encarar. - Não é nada não, mas tem algum problema com os senhores?

Letícia me olhou também percebendo que os pais estavam estranhos ao olhar para mim.

- Samuel... Eu não sei como dizer, mas não estamos bravos por ter vindo com nossa filha até aqui. Ficamos muito apavorados de primeiro momento, mas agora sabendo que ela está bem, tem uma coisa que eu preciso falar - a mãe de Letícia ficou tão próxima que pareceu que algo estava errado. - Lamentamos muito, querido, porém não sabemos como dizer de um forma melhor, mas sua mãe... Ela faleceu e por isso não pôde nos acompanhar nessa viagem. Eu sinto muito.

Meu mundo entrou em desfoque e tudo pareceu entrar em câmera lenta. Parei de escutar, de respirar ou entender. E só tive apenas uma reação. Corri da recepção. Corri como nunca.

E não queria mais parar de correr. Não estava preparado, para sentir aquela dor, mas por mais que fugisse, ela já estava me destruindo...

E aí? O que estão achando?

Obrigada por ler e se gostou não esqueça da estrelinha e do comentário❤

Outra coisa, muito obrigada pelos 5K de leituras, isso é tudo pra mim!

Nós Odiamos O Amor (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora