O sequestrador chefe nem sempre estava de terno branco, assim como nem sempre estava em sua pose de maioral. O narrador aqui tanto amado retornou para seu posto logo após o interessante capítulo de Igor. Quanto ao nome dela, ainda precisarei me atualizar como a nossa ruiva vai querer ser chamada. Mas voltando ao nosso sequestrador, ele estava correndo.
Sua atividade favorita era a corrida. Assim ele mantém os pensamentos longe de tudo que precisa gerenciar. Foca em seu corpo se movimentando, sua respiração e se separa de sua realidade. Ele veio percorrendo o mesmo trajeto durante semanas. Ele saiu de seu esconderijo onde se localizava a base do sequestro, se afastou bastante do local e começou a correr com fones de ouvido pra se acalmar. Exercício físico é algo que nunca lhe faltou sua vida inteira, nem vai faltar agora. Ele se lembrou de como havia sido no dia interior. Ocorrera o primeiro interrogatório com os adolescentes. Ele fez perguntas para cada um e se prontificou de atingir o ponto certo um por um. Enquanto não tivesse, os segredos, os desejos e os erros de todos seus sequestrados na palma da mão, não sossegaria. Seu plano dependia dessa conexão. Dessa pressão psicológica. Não queria que a tortura chegasse a ser física, porém se fosse o caso, ele não teria pena. As crianças eram peões. Ele não se importava.
Ele gostava do clima de Manaus. Tudo parecia mais limpo, quente e delicioso. Era bom para sua corrida. Ele curtia correr com o som do oceano nos fones. Aquilo por algum motivo trazia sensação de superioridade e ser superior era o que mais dava prazer em sua visão. Se ele não estivesse acima de todos, quem seria ele?
Faria de tudo para ser grande, apesar de já ser e alguns já assumirem isso, ele queria mais. Sempre vai querer mais. A ambição é sua alma e para não a perder vai ter de lutar, por isso espera que os adolescentes não falhem, já que boa parte do plano depende deles.
- Chefe? - Alguém tinha parado o carro ao seu lado durante seu exercício e aquilo já o incomodava. Não era preciso saber muito para que concluísse que quem estava ali era Stephen Campbell.
- O que você está fazendo aqui? - Ele sempre odiou se dirigir a seu subordinado. Stephen era um imprestável. O homem de cabelos vermelhos podia até ter conseguido levar as crianças até ali, mas a questão não era essa. Campbell não tinha noção de como o plano era importante. De que um erro sequer poderia custar tudo.
- Eu resolvi sair daquele buraco pra respirar ar puro. Os adolescentes estão nas mãos dos guardas. Não precisa ter medo de acontecer alguma coisa. Você fica paranoico o tempo todo... - A besteira que Stephen disse acertou em cheio o coração do mandante. Quem era ele pra dizer o que era paranoia ou não? Tudo era sempre arriscado.
- Não, Stephen. Eu não fico com medo. Sou inteligente e não deixo passar nada. - Stephen entendeu muito bem aquela frase. Precisava sossegar ou se daria mal. Ao menos, o sequestrador sabia o efeito que causava no outro e sentia prazer ao perceber isso. Significava poder, mesmo que não fosse dito em voz alta com palavras claras.
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Nós Odiamos O Amor (CONCLUÍDO)
Teen FictionEra para ser mais uma festa normal, porém um desaparecimento aconteceu. Em Pelotas, Rio Grande do Sul, um grupo de seis amigos resolvem sair para badalar na cidade vizinha, mas somente dois retornam daquela festa. Samuel e Letícia vieram embora mais...