Capítulo Oito

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Acabei deixando o celular de lado quando vi o que não devia.

Minha cabeça girava. Eu me sentia claustrofóbico e ansioso.

Me acalmei no exato momento em que Vinci entrou no quarto. Ouvi o click da porta sendo liberada pelo cartão de acesso. Isso fez com que eu ficasse nervoso de novo.

Ele emanava energias que tinham efeito em mim. Uma descarga elétrica que me fazia sentir pulsações até na ponta dos dedos. Parecia que meu corpo funcionava com mais velocidade quando ele estava por perto e isso tudo se desenvolveu desde que ele pôs a mão na minha perna na primeira aula. Antes era apenas aquela sensação incômoda que eu não pensava mais a fundo. Eu conseguia ignorar. Agora já não consigo mais.

— Oi — ele diz.

Levanto-me em um pulo e pego meu cartão.

— Aonde vai?

— Biblioteca — murmuro e saio.

Droga. Eu nem sequer conseguia ficar perto dele!

A biblioteca era grande, maior do que as que eu já tinha visto em outras escolas. Só sabia que haviam doações de livros quase toda a semana, por isso as prateleiras de madeira eram lotadas. Eu gostava do ar daqui mesmo que eu ainda sentisse que precisaria cruzar os portões para me sentir bem. Eu só tinha que pensar que no domingo eu poderia visitar meu pai. Estaria livre da Katharine por algumas horas e isso era tudo o que eu queria.

Imagine ficar preso a um lugar, a alguém... Estou vivendo isso de novo. Eu quase suspeitava que alguma coisa maior sempre planeja que eu ficasse preso a algo. Como por exemplo, à maldição.

Pego um livro mas não o leio de verdade.

Eu penso em Mica.

Que foi o filho do vizinho que montou o balanço para mim. Éramos tão amigos que, às vezes, fingíamos que éramos irmãos separados ao nascer, como numa novela do SBT. Eu só sabia que adorava essas nossas brincadeiras e ajudava no fato de que tínhamos sido parecidos quando crianças. Mas agora não somos mais, porque eu cresci e Mica sempre será uma criança. Nas fotos e nas minhas lembranças.

Existe uma lembrança perfeita para me lembrar de Mica. O dia em que nos perdemos no shopping. Pareceu assustador, porque éramos apenas crianças andando com os pais dele, já que minha mãe e meu pai detestavam sair juntos. Os pais de Mica tinham ido à uma loja de roupa e nos carregado juntos, pensamos que seria uma ótima ideia brincar de esconde-esconde com os manequins e por um tempo, foi divertido mesmo, até eu dar a ideia de usarmos o shopping inteiro, como uma fase difícil de um videogame.

Mica aceitou na hora então fomos. Saímos sem os pais dele perceberem. Até que houve um momento em que não os achamos mais. Ficamos assustado com a imensidão do shopping e com o tanto de pessoas. Subimos e descemos as escadas rolantes, passamos por pessoas com sacolas e crianças com sorvetes. Então encontramos algumas crianças assistindo a um show de um mágico, sentadas no chão mesmo e ficamos por lá. Assistimos a maior parte e sempre disparávamos a rir de alguma coisa. Foi um momento ótimo. Até o segurança nos achar e enfrentarmos a fúria dos pais de Mica. Mas valeu a pena, sim. foi um momento em que o medo sumiu porque eu sabia que Mica estaria do meu lado e ele pensaria comigo, ele me disse, enquanto assistíamos ao show de mágica que nunca seria um coelho.

— Como assim? — Eu havia perguntado, deixando de prestar atenção no homem com tinta branca no rosto. Ele parecia um daqueles manequins só que se mexia.

— Eu nunca vou ser um coelho que desaparece. É isso. Entendeu?

E eu achei aquilo a coisa mais legal do mundo.

Entrelinhas (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora