Entrelinhas (Romance Gay)

Capítulo Vinte e Nove

Li durante a tarde toda e não me arrependi.

Arthur tinha ido ensaiar com os outros em uma das salas de aula em outro bloco. Conheci seus amigos. Dois garotos e uma garota. Me esforcei para decorar os nomes deles já que fui apresentado como namorado de Arthur. A menina se chama Carla, um dos meninos — que tem cabelos ondulados — se chama Ítalo e o outro — que usa um colar prateado — se chama Théo. Eles eram legais, mas eu senti que um clima estranho se formou depois que as apresentações foram feitas e depois que eu rejeitei o pedido de Arthur para ir vê-los tocando. Eu já tinha visto Théo e Ítalo no corredor, eles eram colegas de quarto e estavam no segundo ano, ou seja, o quarto dos dois ficam um pouco mais próximo do refeitório.

Antes que eu saísse da biblioteca, olhei para o papel no meu bolso. Arthur disse que deixaria um post-it na minha parede todos os dias. E achei isso fofo. O de hoje diz: "Sonhei com você. Foi esquisito por que estávamos em cima de uma árvore mas a parte boa foi que eu consegui beijar você e quase tirei sua roupa. Foi um bom sonho"

E acho que este primeiro é o meu favorito. Até o de amanhã, claro.

Eu nunca sabia quais palavras esperar de Arthur. Ele é sempre gentil e fofo, mas o lado safado dele existe e não é nada delicado.

Eu não sabia que namorar trazia tantos questionamentos. Sinceramente pensei que namoro era apenas para se divertir, beijar e ter momentos bons. Mas não é bem assim. Passei duas noites seguidas refletindo sobre o namoro e que tipo de namorado sou eu, porque com certeza existem tipos. Não penso que sou um péssimo namorado, eu não fiz nada de mal. Por enquanto, surpreendentemente, estou conseguindo manter esse relacionamento na minha vida. Um dos questionamentos que eu tive, certa madrugada, era se Arthur estaria satisfeito no próximo ano. Estaríamos juntos próximo ano? Questões e questões.

Saí da biblioteca e fui ao corredor. Meu plano era encontrar Denis e saber se ele ainda precisava de ajuda com os estudos. Ultimamente ele tem estado mais feliz do que jamais vi. Isso porque Heitor se desculpou com ele no meio do refeitório, na hora do almoço. Os alunos da manhã viram. Eu vi. E, o melhor de tudo, Nicholas viu. Isso me deixou satisfeito. Depois Denis me encurralou no corredor e disse que sabia que aquilo tinha um dedo meu.

E eu não sabia, até aquele momento, que precisava que ele soubesse o quanto é importante para mim. O abracei e não disse nada. E não deixei que irrompesse aquele momento. Nem mesmo Arthur.

Paro de andar quando escuto um grito. E vem da recepção.

Fênix.

Corri com o livro ainda em mãos. Minha mochila batia nas minhas costas pelos meus passos apressados. Quando cheguei à recepção encontrei o caos. Nada aconteceu com Fênix. Ele está bem, está inteiro e vidrado com o que acontece perto dos portões. O rosto dele estava pálido, mas as bochechas estão avermelhadas e... os olhos... fiquei com medo de olhar. Mas olhei mesmo assim. Primeiro vi os pelos marrom-escuros e brilhantes ao sol; depois escutei os latidos e, em seguida, o brilho marfim dos dentes do cachorro se fechando ao redor da perna de uma aluna que estava perto dos portões. Estava caída, gritando. O Águia tentava puxar o cachorro para longe.

— Porra... — Fênix murmurou.

Ele estava travado. Eu também estava. Meu corpo perdeu total habilidade de me movimentar e essa mesma coisa, essa mesma coisa que me travava, me deixava sem falar. Um peso no estômago e uma dor dilacerando meu peito toda vez que aquela menina gritava. Os gritos dela eram vidro na minha pele. Os latidos do cachorro eram como o gongo dentro de mim, me fazendo estremecer.

Fênix correu. Para chamar Hudson, certeza.

Enquanto ele não parecia, a Águia tentava manter a garota deitada. Dizia alguma coisa para ela, que chorava copiosamente e o a perna, apesar de não estar sangrando, deve está doendo pra caralho.