Quatro anos haviam se passado. Não parecia muito, mas as pessoas davam um jeito de que uma noticia ruim fosse substituída por uma ainda pior. Aquela noticia primária era colocada sob outra, e sob outra, e outra. Até que aquele espaço fosse reformado, mas não mais para uma escola. Outra, menor, já havia sido construída e supria as necessidades. Outros planos, então. Uma ideia em cima da outra, uma parede depois da outra e um com determinação, ali se tornou uma igreja. Não era tão gigantesca. Parecia que lugares gigantescos tinham mais chances de darem errado, então, era uma igreja apenas grande. Acomodava a muitos, tinha belas luzes e parecia que tudo estava nos lugares. Transmitia a paz, a esperança e na maioria dos dias quando o frio era rigoroso, era o melhor lugar para pessoas que tinham pouco. E uma dessas pessoas foi um jovem que fugiu de casa e que decidiu se chamar apenas de P. apenas.
P. tinha quase dezoito anos e sua vida era relativamente boa. Só que ele precisava de uma perspectiva, alguma coisa que o ajudasse a olhar mais além, para o horizonte e visse mais do que trevas e a sensação de cansaço que o cercava dia e noite, principalmente ao dia, onde ele se tornava um estranho para si mesmo. Sua mãe sempre repetia que ele precisava criar coragem para viver e ele estava fazendo isso... Pelo pouco tempo que lhe era permitido. P. fugiu de casa às onze da noite de uma sexta-feira, quando soube que a mãe estaria ocupada e o padrasto nunca ligou muito para o que P. aprontava, portanto não daria falta dele. Ainda. P. ficava repetindo para si mesmo que precisava ser rápido, mas a verdade é que ainda havia um pouco de medo na decisão dele, mesmo tendo tomado a decisão há dois dias. Um carro buzinou ao longe. P. imaginou que fosse seu padrasto já o procurando. Mas aquilo era impossível. Ele disse ao padrasto que iria dormir e escapou pela janela do quarto, o que foi bem fácil, já que ele não trouxe nada consigo. Nada, a não ser, a coragem que vestia como manto. Ele seguiu na direção daquela igreja, que era afastada de tudo. Ele ia lá com a mãe, mas não muito, só quando o padrasto dormia de tão bêbado que não percebia a saída deles. P. sentia pena da sua mãe, presa aquilo tudo. E se sentia culpado disso também.
A igreja dava lugares para moradores de rua que sentiam frio e fome. Um homem, que não era padre, cuidava de tudo. Ele ajudava. Por isso P. o evitou, porque estava cansado de pensar que precisava de algum tipo de ajuda. Ele se meteu entre as sombras e adentrou ao local, por alguma razão que ainda não conhecia. Ou não queria saber. Ele achou que sentia a necessidade de fazer isso em primeiro lugar.
A igreja, silenciosa, parecia convidá-lo para dar os primeiros passos. E ao dar os primeiros passos, P. começou a chorar porque sabia que o que estava prestes a fazer podia ser, e era considerado pecado. Mas não hesitou quando foi até a escadaria, subindo e subindo e subindo, até o ponto mais alto, que tinha uma pequena janela sem proteção, sem vidro, sem barras. Um espaço para chamar atenção com luzes, apenas isso, a ideia da planta. Ninguém poderia saber que um garoto usaria aquele espaço para se jogar. E nem que, ao cair, sorriu.
E ao acertar o chão, deixassem as pessoas assustadas ao ponto de correrem sem olhar para os lados na pista movimentada.
Mais uma noticia para sobrepujar a antiga, aquela, daquele dia que ninguém mais saberia.
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Entrelinhas (Romance Gay)
RomanceAtlas tem esse nome por causa do seu pai. Aliás, seu pai está comandando tudo em sua vida, até mesmo em seus estudos. Atlas foi parar, de um dia para o outro, na Katharine, uma escola de elite que se mostra tão perigosa quanto mesquinha. Há segredos...