Capítulo Vinte e Três

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Acabei indo para as piscinas.

Denis me seguiu.

— Você gosta mesmo daqui, não é? — Ele havia comentado e parecia levemente incomodado em perceber que eu sorria para ás piscinas intactas. Não faço ideia se alguém já se jogou nelas propositalmente, em uma festa secreta ou quando teria uma aula aqui.

Sentamos perto dos bancos de madeira. Os mesmo que sentei quando vi Denis quase ser jogado na água pelo meio irmão e Heitor. Mas preferi me sentar no chão e Denis fez o mesmo.

— Gosto do silêncio daqui — respondo-o e com isso, esqueço os pensamentos anteriores que só tinham a ver com sangue, sonhos e estresse. Não valia a pena.

— Eu não. Não gosto muito de ficar em cantos silenciosos porque eu começo a arrepia e... Não ria. Sinto como se alguém fosse chegar de repente e me dar o maior susto. — Denis dá de ombros.

Sorrio — não é exatamente uma gargalhada que debocha dele.

— O silêncio daqui me conforta igual um cobertor quentinho.

Denis franze a testa até que ela fique toda enrugada. Seus dedos pegam a torrada da bandeja e ele dá uma grande mordida. Ainda mastigando, diz:

— O silêncio daqui me sufoca igual um cobertor no pescoço.

Meu sorriso se extinguiu do sorriso mais rápido do que pensei. Ainda bem que não toquei em nada da minha bandeja. Uma turbulência assombrou meu estômago e eu tive que engolir o gosto ácido da bile enquanto observava Denis comer seu café da manhã com ferocidade. Ele não está mais com aquele semblante assustado, nem está mais trêmulo ou desarrumado. Seu cabelo escuro está penteado para a direita e seu uniforme branco está impecável. Ele está impecável. Exceto pelo fato que notei, não pela primeira vez, o jeito como seus olhos estavam sempre se esgueirando para os cantos. A procura de algo. Alguém. Ele vivia procurando alguém porque está acostumado com as brincadeiras que o pegam desprevenidos. Mesmo assim... Sinto vontade de ver Nicholas bater a cabeça de novo na parede. Denis percebe meu olhar. Suas sobrancelhas finas e negras fizeram uma pergunta silenciosa. Apenas sorri e balancei a cabeça.

Por ora, Denis merecia um pouco de paz.

— Você nunca me contou fala enquanto dorme — comento, tentando soar indiferente.

— Ah, isso. Eu nunca achei que fosse dormir no seu quarto. o que eu disse?

— Ah — dou um sorriso malicioso para ele. Um sorriso sem dente e muito, muito grande — coisas feias.

Denis largou a torrada no prato e me olhou com mais atenção. Engoliu o que tinha na boca com pesar e deu para ver sua garganta sem rastro de pelos oscilando. Uma engolida em seco. Quase.

— C-como assim?

— Pornografia. Das piores que eu já ouvi.

De um tom levemente bronzeado ele foi para um sinistro branco. Ou melhor, verde enjoado.

Prendo a risada na garganta e mordo o lábio para não rir. O meu rosto sério é como o do primeiro dia, quando entrei na sala de Linda. Levo a xícara com café aos lábios para me ajudar a controlar a vontade de rir.

— Eu falei... Eu... Gemi?

Uma risada explode de dentro de mim no mesmo momento em que o café estava prestes a descer goela abaixo. Por sorte não acertei o uniforme impecável de Denis e sim, o chão ao seu lado. Ri tanto que tive que tomar cuidado para não me engasgar. Ele deu tapas nas minhas costas para ajudar e eu, fiquei com a barriga doendo. Respiro fundo e, com lágrimas não liberadas, me pergunto quando foi a última vez que ri tão intensamente. Não consigo lembrar agora e isso não me assombra, porque ainda estou rindo demais para que qualquer coisa me abale.

Entrelinhas (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora