Capítulo Nove

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Acordei atrasado. E pela primeira vez, não me importei. Meu corpo parecia pesar uma tonelada, metade exaustão, metade culpa.

Eu não fazia ideia do que precisava; talvez café, talvez eu precisasse abrir a janela para que o ar das sete, oito ou talvez nove da manhã entre no quarto para me reavivar. Ou talvez a melhor opção para mim seria apenas ficar deitado e remoendo o que aconteceu ontem. Não só a parte em que Vinci me tocou e eu pensei que fosse derreter da cintura para baixo e pegar fogo da cintura para cima. Parecia impossível que ele me fizesse sentir essas coisas, era tão especifico, o calor, a pressão. Meus pensamentos. A mão dele. eu não conseguia parar de pensar que depois disso eu descobri que ele é gay e que um dia, não sei quando pela foto, já teve orgulho de mostrar isso. A minha culpa se resume naquela foto. Agora me parece estritamente errado o que fiz, mesmo que eu repita: É apenas um perfil, pare com isso. Aliás, está liberado para todo mundo ver!

Mas do que isso adiantava? A culpa sumia por cinco minutos e depois voltava com cinco vezes mais força e abalava algo dentro de mim. Eu poderia perguntar a ele, mas não sei como chegar a este assunto, direta ou indiretamente. Talvez eu esteja desejando saber sobre ele para saber um pouco sobre mim.

Há um caminho até à conversa com Vinci e eu queria acesso.

Mas era um acesso perigoso. Algo me diz para seguir em frente — aquelas exatas palavras de culpa — mas algo ainda maior me dizia para parar agora mesmo porque eu não teria coragem — e esse lado tinha a voz do meu pai.

É difícil não saber o que quero e mesmo assim, saber.

Eu sou tão complicado que em alguns dias — como hoje — só quero me isolar para que todos não precisem ver minha confusão em forma de palavras, ações e ideias. Eu era confuso em tudo, se ainda pessoas ao meu lado, eu agradecia a elas o quanto quisessem por isso.

As horas se passaram e consegui tirar mais um cochilo tranquilo. Não me importei se até Linda notasse minha ausência nas aulas, ou se os professores fossem relatar isso a ela até a hora do jantar. Só coloquei a cabeça no travesseiro, fechei os olhos e desejei acordar com uma resposta.

Só que, quando despertei, foi com uma batida na porta. Leve, quase pensei que estivesse ouvindo coisas. E meu coração disparou ao pensar que a situação se repetiu: Será que Vinci havia esquecido o cartão dele de novo? Abri a porta e percebi que não era Vinci ali. Era Fênix, ele segurava um carregador de celular preto.

— Sua encomenda.

— Obrigado — grasnei.

Ele pareceu feliz por alguma coisa.

— Precisa de alguma coisa? — Havia uma sugestão explicita na sua voz.

Algo que parecia sujo, grande e mesmo assim, nada complicado para ele.

O olhei com interesse.

— O que quer dizer?

— Precisa de algo para se manter acordado? Ou melhorar nas aulas?

Isso já estava passando dos limites.

— Não. Só o carregador mesmo.

Fênix deu de ombros e foi um movimento nojento, porque ouvi alguma coisa nele estalar. Ele não parecia ser uma pessoa vertebrada, parecia feito de borracha e sua pele era oleosa.

— Sabe que não pode contar a ninguém, não é?

— Sei. Valeu — fechei a porta e fiquei sozinho, finalmente.

Eu não queria ser ignorante com Fênix, mas eu podia, afinal, eu paguei por isso e não queria que ele ficasse batendo na minha porta para falar das coisinhas que vende. Definitivamente, não.

Entrelinhas (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora