— Aqui é onde você ficará.
Eu teria demorado a achar o quarto sozinho, mas Linda veio comigo e juntos, subimos uma escadaria que nem pude continuar contando depois do décimo degrau. A Katharine, me lembro, tem dois andares e os quartos ficam nesses dois andares. É incrivelmente silencioso e assustadoramente mal iluminado. Não há janelas, apenas luzes fortes demais no teto. O caminho é longo e se eu me desafiar a olhar por muito tempo acabo ficando zonzo. Não quero que Linda perceba que estou começando a ficar incomodado com o espaço estreito, tenho que começar a melhorar isso, não posso deixar que nem ela nem ninguém perceba minha aflição com lugares apertados.
Entramos na última porta desse corredor. Ela não se abriu com um rangido como imaginei. Nem havia teias de aranhas por todos os lados e, para minha surpresa e felicidade, havia sim uma janela no quarto e ela é enorme. Só que minha felicidade acabou quando percebi que não havia apenas uma, mas duas camas.
O quarto é grande o suficiente para acomodar duas — talvez até três — pessoas. Paredes de cor verde azulado, a bendita janela, duas camas — uma delas arrumada mas ocupada e a minha, que parece que ninguém ousou tocar nunca —, uma estante de chão com poucos livros, uma pequena mesa de vidro com duas cadeiras, mas sem computador, apenas papeis e...
Aquilo chamou minha atenção.
Deixei a caixa que ganhei em cima daquela mesa e passei os dedos pela mesa, devagar, com cuidado.
— Aposto que seu colega de quarto vai explicar como as coisas aqui funcionam. Estou certa que vocês dois se darão bem.
— Linda?
— Pode me chamar de diretora. Eu não costumo deixar explicito a intimidade com os alunos. Se você me chamar de Linda, os outros vão querer me chamar também.
Não chegou a me deixar chateado com isso, apenas irritado por ela me interromper sempre que abro a boca.
— Claro, entendo. Diretora, os alunos tem algum passatempo aqui?
— Seu colega pode lhe contar tudo o que quiser. — Repete.
Eu já não gostava do meu colega.
— Não é uma menina, é?
— Meninas ficam no andar superior. Meninos, neste. Há uma regra estrita em que vocês não podem compartilhar o mesmo quarto e não podem passear no andar das meninas depois das oito da noite. Nem ela no de vocês.
Balanço a cabeça para demonstrar que entendi. Se eu permitisse, Linda continuaria falando sobre as regras, parece que essa é a parte que ela mais gosta de fazer depois que um aluno é matriculado aqui, sempre regras, regras, regras.
Não estou a chamando de chata neste instante. Eu gosto das regras, eu as admiro porque sem regras, talvez, as pessoas já tinham acabado umas com as outras, não que isso não aconteça, mas com as regras simplesmente podemos sentir que há segurança, mesmo que mínima.
Finjo admirar o quarto de novo.
Finjo prestar atenção no que Linda está falando e fico feliz em perceber que, na minha cabeça, eu nunca a chamarei de diretora.
Quando ela saiu eu esperei que a porta fosse fechada para poder ver o que meus dedos capturaram sem que ela percebesse. Olho o pequeno pacote transparente que contém maconha. Olho para o papel que Linda me deu. Regra número três: Nada de drogas, licitas ou ilícitas. A posse dessas substâncias o aluno pode ser expulsos.
Bom, alguns gostam de se aventurar.
Existem vinte e uma regras nesse papel, mas apenas três delas levam à expulsão. São elas: Posse de armas (Regra 11), posse de drogas, agressão aos outros alunos e professores (Regra 14).
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Entrelinhas (Romance Gay)
RomanceAtlas tem esse nome por causa do seu pai. Aliás, seu pai está comandando tudo em sua vida, até mesmo em seus estudos. Atlas foi parar, de um dia para o outro, na Katharine, uma escola de elite que se mostra tão perigosa quanto mesquinha. Há segredos...