Regina Mills
Robin me encheu de mensagens durante o dia e me ligou pelo menos umas dez vezes, mas eu o ignorei completamente. Nas mensagens ele me perguntava se poderíamos nos encontrar nesse final de semana. O que ele está pensando? Que eu sou algum tipo de despedida de solteiro? Pois está muito enganado! Na volta para casa estacionei o carro na garagem, e ao descer, vi as luzes da mansão de Emma acesas. Aproximei-me para dar uma espiadinha na grama da vizinha e lá estava ela, como sempre, animada, espalhando aquele sorriso perfeito por onde quer que andava e conversando, provavelmente com Henry. Emma estava de jardineira jeans com uma das alças soltas, somente de top, ou seja, ostentando os braços fortes. Pelo visto estava aparando algumas plantas enquanto ficava de olho no pequeno. Não contive a curiosidade e me aproximei ainda mais, para ver o que conversavam.
— Você está todo sujinho, não é filho? A adulta perguntou, de bom humor.
— Eca. Henry respondeu.
— E mesmo não gostando de se sujar e mexer com a terra, você faz isso pelas formigas, não é? A adulta voltou a olhar pro pequeno. O menino que, até então, era monossilábico, construiu a primeira
frase que ouvi:
— É claro, mamãe. A criança disse num tom quase indignado.
— Várias situações na vida são assim, sabia? Às vezes sentimos que somos mais fortes para encarar nossos próprios medos quando precisamos ajudar os outros. Tudo o que Henry fez foi parar de colocar terra nos vasos de plantas com as próprias mãos, olhar para a mãe com demora e depois retornar a enfiar as duas mãos na terra. Não escondia a expressão de nojo, mas também não parou com a ação.
— Oh, olha só quem está dando uma espiadinha do outro lado da cerca! Fui pega! Meu Deus, ela me viu! A primeira reação é me encolher e me agachar. Depois subo de uma vez, ao lembrar que sou uma mulher adulta, confiante e que não precisa se esconder.
— Oi vizinha. Digo com um sorriso congelado.
— Tudo bem por aí?
— Tudo ótimo, e esse tesourão? Pergunto encarando-a.
— Digo, e aí?
— O tesourão está cortando as ervas daninhas. Ela ri, semicerra os olhos quando o faz. E ao abri-los bem devagar, vejo suas pupilas voltadas para mim. É meio intimidador a ponto de me fazer prender a respiração.
—Quando vai me dar mais detalhes sobre seu plano mirabolante?
— Ah! Quando você quiser.
— Estou ansiosa para ouvir sua história. Quer jantar?
— Jantar? Quando? Hoje? Comigo? Você tem...? Começo a disparar as perguntas, sem parar. Sequer consigo imaginar que a gostosa topou minha ideia maluca e agora vamos jantar! Qual será o próximo
passo?
— É claro. Se eu serei a sua namoradinha preciso descobrir tudo sobre você, para poder desempenhar bem o papel. Ela dá uma piscada.
— Só vou esperar o Henry terminar de cuidar das amigas dele, ele leva o próprio tempo, daí entro e peço algo para comermos.
— Eu posso cozinhar! Me prontifico.
— Não precisa se incomodar, eu te puxei para essa enrascada e você está sendo tão gentil...
— Tudo bem. Se o Henry aprovar, eu vou aprovar. Ela dá uma nova piscada e termina de cortar os galhos acima da cerca. Ao terminar, tira as luvas e exibe as mãos fortes e com as veias sobressaltadas, guarda-as no bolso da jardineira e sorri. Fico presa naquela boca e vejo-a se afastar para vigiar o filho. O cheiro dela parece insistir em vir até mim e quando dou por mim, lá estou eu, parada igual uma boba, sorrindo, vendo mãe e filho entrarem na mansão.
Emma Swan
Regina foi muito gentil em cozinhar para nós. Preparou legumes ao vapor e um escondidinho de frango.
— A galinha está se escondendo de quem, mamãe? Henry cochichou e puxou a minha perna quando os pratos foram colocados à mesa.
— É só o nome do prato, filho. Henry arregalou os olhos e olhou aquele prato com desconfiança. Esperou que eu fosse buscar os pratos para enfiar a colher no meio do purê e o abrisse e colocou o rosto bem próximo do prato. Quando voltei para a mesa, junto com Regina, ele já havia colocado
os abafadores de ouvido.
— Filho. Afastei-os de suas orelhas.
— Antes de comer, o que nós fazemos?
— Oração?
— Muito bem, faça sua oração. Agradeça pelo que é importante.
— Jesus, mamãe, a pobre da galinha escondida, fomigas e Regina. Amém. Ele disse apressado e cobriu as orelhas. E ficou concentrado no prato, encarando-o com desconfiança.
— O que você fez de errado para ficar escondida? Ainda murmurou.
— É um hobbie? Virei-me para Regina.
— O quê? Ela perguntou desconcertada, desviou o rosto quando nossos olhos se encontraram.
— Destruir casamentos. Assustar noivos... Comecei a degustar o prato dela. E na primeira garfada já fiquei com água na boca, aquilo era bem simples e tão... requintado! Até parecia que eu havia retornado para a casa dos meus pais.
— Você cozinha bem pra caralho! Tive de falar de boca cheia.
— Obrigada! Regina pareceu menos tensa.
— Como está a comida, Henry? Henry não a ouviu ou a ignorou. Estava comendo as cenouras e ervilhas, mas ainda estava desconfiado do outro prato, e a mistura de comida em purê e carne lhe pareceu bastante estranha.
— Ele adorou. Falei por ele. A julgar por ele comer alguma coisa, ele devia ter gostado mesmo.
— Bem... Regina sorriu sem graça e evitou me olhar.
— Não, não é um hobbie destruir casamentos, nem assustar noivos. Só esse em especial. Robin brincou comigo e com os meus sentimentos e eu quero dar-lhe uma lição.
— Me levando para o casamento? Não escondi o riso.
— Como você se sentiria ao ver a pessoa que um dia amou, fez tudo por você e te apoiou em tudo, feliz e desfilando na sua frente com outro? Uma mulher bem mais interessante que você? É o que eu quero que ele sinta. Afastei o prato para frente e coloquei os cotovelos na mesa, o que fugia completamente da etiqueta. Mas realmente precisei pousar o queixo nas mãos fechadas para assisti-la se explicar e entender um pouco do que se passava na cabeça de Regina.
— Eu não sei se um dia ele me amou, para falar a verdade... Dessa vez ela ficou completamente sem graça, deu para perceber.
— Precisamos mesmo falar disso?
— Se eu preciso ir, é bom saber no que estou me metendo. Retruquei. Regina respirou fundo e fechou os olhos.
— Eu era a garota feia do colégio, sabe? Gordinha, sem autoestima, sem graça, um tanto nerd e estranha, sem senso de moda, sem sorte com os rapazes, enfim, um verdadeiro desastre. Homem nenhum olhava para mim. Deitei o braço esquerdo na mesa e pousei a cabeça nele. Estiquei a outra mão por debaixo da mesa e encontrei a dela. Regina pareceu se assustar com aquilo. Estava tremendo, claramente ansiosa. Afastou a mão de súbito e em seguida deixou ela por cima da minha, pronta para afastá-la de novo.
— E ele era o capitão do time de futebol americano. Um colírio para os olhos. Todas as meninas o queriam... e... ele me dava bola. Bom... ele me dava alguma atenção. Ele era bonito, atlético e desejado, mas era um tanto que burro... Não segurei o riso.
— Não era um pacote completo, como você.
— Como eu? Levantei a sobrancelha.
— Você é mais do que uma vizinha bonita, Emma. Você tem... algo diferente. Você é estranha. Parece tão verdadeira e cheia de vida...
— Obrigado pelo elogio.
— Disponha. Respondi e continuei.
— E eu me... contentava... com a atenção dele quando o ajudava, sabe?
— Sei. Umas migalhas para se sentir bem... Regina abaixou o rosto e eu deixei sua mão sair de cima da minha para segurá-la e apertá-la.
— Está tudo bem. Eu sei como é esse sentimento. Murmurei.
— Você sabe? Ela se mostrou surpresa.
— Como uma mulher como você sabe que sentimento é esse?
— Depois eu conto. Respirei fundo e dei a deixa para ela terminar.
— Bom, daí que a fase da adolescência acabou, junto com o inferno do colegial... meu corpo mudou, eu mudei, eu me transformei nessa mulher que você está vendo. E, devo admitir que era uma excelente vista.
— Robin foi para a faculdade, se formou e trabalha desde então para os Farrah. Eles são os donos de Miami, controlam o mercado imobiliário aqui. Arqueei a sobrancelha e concordei.
— Ele vai se casar com a herdeira dos Farrah. Acho que só assim vai conseguir um cargo bem alto e realizar o sonho de estar entre os ricaços e poderosos de Miami. Eu não posso dar nada disso para ele. Eu não tenho um sobrenome de rica, eu apenas trabalho para mim mesma e ainda me preocupo com a hipoteca...
— Você gosta dele? Perguntei isso, mas me senti estranha. Um tanto tensa na espera da resposta e ansiosa ao acompanhar as feições dela. Regina riu, abaixou o rosto, o levantou, secou as lágrimas, desviou o olhar e olhou para mim. É, ela gostava do cara. Ele ainda mexia com ela.
— Não precisa responder. Mas por que eu me sentia tão tensa com isso?
— Quando nos reencontramos há alguns anos e passamos a sair e depois... bem... criar mais intimidade... eu senti que ia encontrar a felicidade, sabe? Que enfim eu poderia ser feliz de verdade e corrigir todos os meus traumas de infância em me sentir rejeitada e usada...
— Eu sei como é isso. Repeti. Até pareceu que tirei um pouco do peso das costas dela.
— Não consigo imaginar uma mulher como você passando por nada disso! Você está falando tudo isso só para me fazer sentir bem?
— De forma alguma. Eu também tenho os meus esqueletos no armário, Regina. Todos nós temos.
— E é por isso que vai me ajudar? Por que seus esqueletos no armário se parecem com os meus? Não me contive e ri ao tentar imaginar o que se passava na cabeça daquela mulher estranhamente interessante.
— E se o Robin desistir de se casar com a herdeira dos Farrah e quiser ficar com você? A provoquei. Regina tentou esconder o interesse, mas dava para ver em seus olhos que esse era o plano dela. Ela queria medir forças para provar a Robin que ainda valia à pena.
— Você acha que isso pode acontecer, Emma? Ela me devolveu com uma pergunta. Olhei para Henry que havia revirado o escondidinho de frango, deixando a carne por cima e o purê por baixo. Ao perceber que eu estava atenta nele, o pequeno murmurou: “agora ela não precisa se esconder mais, tadinha”.
— Aqui é Miami, baby. Tudo pode acontecer. Soltei a mão dela e sorri.
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Show de vizinha
HumorRegina Mills sempre corre atrás do que quer. Ela batalhou muito para ter a sua pequena agência de eventos em Miami e um relacionamento de dez anos com Robin Hood, coisas das quais ela se orgulha muito. Até que após um incrível final de semana com se...