Emma Swan
Levo Elsa de volta à sua mesa e tenho uma surpresa – não tão grata assim – quando chego lá. Eis o noivo. Não esperava a hora de poder reencontrá-lo.
— Te procurei por toda parte, mas você desapareceu... Robin vem em nossa direção, mas não tira os olhos dela.
— Eu estou bem. Elsa assente e se senta após ele puxar a cadeira. Eu também me sento, ao lado dela e continuo a fitá-lo, com interesse.
— Onde você estava?
— Tomando um ar fresco. Elsa demonstra gentileza no olhar e depois olha suas amigas de longa data ao redor da mesa, que não tiram os olhos de mim.
— E quem estava... Robin inclina a cabeça para me ver. De primeira ele não me reconhece. Pudera eu ter a sorte de que isso durasse mais tempo, mas ele não para de piscar os olhos e quanto mais os
pisca, mais arregala, quase aponta o dedo para mim. Deveria pôr logo um letreiro em neon em cima da minha cabeça, talvez fosse mais sutil.
— Emma! Ele se levanta, abismado. É, o desgraçado ainda sabe o meu nome.
— O que você está fazendo aqui? Ele permanece de pé, claramente alterado.
— Pensei que houvesse sido expulsa dessa família!
— Eu que decidi abandonar o circo. Digo em minha defesa, em completa calma e mais preocupada com a comida do que com os berros de Robin .
— Você não pode simplesmente voltar. Robin é categórico. Então me levanto. E ele se senta. Imediatamente. Deveria ter ficado de pé, ainda assim teria que estender a cabeça para me encarar nos olhos, agora vai ficar com um torcicolo pior.
— E tem algum homem de verdade aqui capaz de me tirar? Cruzo os braços. Robin se vira para o seu prato e começa a mexer com o garfo.
— Foi o que eu pensei. Sento e antes de ouvir qualquer outra baboseira de Robin , vejo uma senhora simpática se aproximar. Ela usa um chapéu rosa bem grande com uma margarida nele e carrega sua bolsa pequena no braço.
— Eu sabia que era você! Ela fica ao meu lado e não penso duas vezes em me levantar.
— Olha como está bonita e charmosa!
— Obrigado, senhora Snow. Beijo suas mãos.
— Parece que os anos de exílio fizeram bem a pequena Emma. Ela segura em minhas mãos. A senhora Snow é uma das grandes amigas da minha mãe, quase que uma segunda mãe para mim. E, usando a palavra que saiu de seus lábios, o exílio causou o nosso afastamento. Não apenas esse, mas muitos
outros. Eu jamais estaria aqui de volta se não fosse por Elsa ou por Regina. Por mim eu não colocaria os pés aqui novamente.
— Como estão as suas flores?
— Sendo muito bem cuidadas. Ela bate a mão livre em cima da minha.
— Ruby havia pedido uma remessa bonita de flores e disse que era para você. Para o seu jardim. Ela disse que seu filho gosta muito de cuidar das flores. Ela diz toda orgulhosa.
— Ele gosta de formigas. Mas jardim e formigas têm muito em comum, senhora Snow. E como ele dedica muito tempo aos cuidados das formigas, que seja em um jardim bonito, com as melhores flores de Miami.
— Ela ainda continua galanteadora. Ingrid Snow se volta para todos na mesa, com um grande sorriso.
— Eu estou fora das pistas, minha cara, não me tente!
— Prometo que vou me segurar. Pisco para ela.
— Você não quer se sentar conosco?
— Adoraria. Aliás, gostaria de ouvir da noiva o que achou das flores de teste que ofereci. Diga-me, Elsa, quem organizou esses arranjos tão bonitos?
— Eu. Regina diz, logo atrás de mim. Não a vi chegar. E pelo seu olhar, parece que tem alguma coisa
errada.
Regina Mills
Enganada. É isso o que eu fui. Onde em mil anos eu poderia desconfiar de que Emma era uma Farrah? Como fui idiota! A tensão e apreensão de não querer saber muito sobre a família da noiva, me deixou às cegas. Mas qual a probabilidade, meu Deus? Ela é apenas a minha vizinha! Como isso tudo foi acontecer? Será que... Será que a Elsa mandou a irmã para me vigiar? Será que ela sempre soube, desde o início, que Robin tinha uma amante? Entrei em crise, de verdade. Todo o meu plano estava indo por água abaixo. E sinceramente: para o inferno com esse plano todo! Eu achei que a Emma e eu estávamos construindo era genuíno. Que tínhamos realmente coisas em comum e que ela estava, de alguma forma, tentando me conquistar, para além das nossas farsas e mentiras. Pelo visto, éramos só isso, uma para a outra. Farsas e mentiras. E quando por fim esse casamento chegasse ao fim, provavelmente ela desapareceria e eu nunca mais ouviria falar dela ou a veria novamente. Como pude ser tão burra? Elas têm os mesmos olhos. E agora tudo faz muito sentido! É claro que Emma é dona de praticamente todo o bairro: a Farrah é dona de metade de Miami! Ela é a herdeira, a legítima herdeira dos Farrah! Então porque toda essa história de fugir da família? Será que ela mentiu nisso também? Assisti Emma e Elsa retornarem para o salão, mas para acrescentar uma dose de drama nisso tudo, Robin também estava lá. Ótimo. Era tudo o que eu queria. Estão todos ali, só faltam os pais da noiva. E aí eu faço o meu show. Será que eu devo? Algo em mim diz que eu devo ir lá; mas outra parte de mim diz que é melhor eu ficar aqui e resguardar a minha sanidade mental e o meu réu primário, é claro. São 10 naquela mesa. Com a senhorinha que acabou de chegar, 11. Pronto, são 11 na conta do réu primário. Acho que o juiz não vai ficar muito feliz com essa história não.
— Quem organizou esses arranjos tão bonitos? Cheguei a tempo de ouvir a senhorinha simpática perguntar isso.
— Eu! Respondi, elevando minha voz para chamar atenção. Todos se viraram e me encararam com curiosidade. A senhorinha principalmente. Até soltou as mãos de Emma para vir me abraçar.
— Ficou esplêndido! Ela diz.
— Quero dizer... Tento me soltar do abraço, mas ela realmente é bem simpática e tem cheiro de gente muito rica e gentil. Gostei dela, todo rico que conheci era um esnobe e babaca. E Emma não devia fugir da lista...
— A Sweet Show fez isso. E eu sou uma das donas. Ela me solta devagar e me encara com admiração. — Sou Regina Mills, prazer. Robin tapa o rosto e quase enfia a cara no prato.
— Sou muito ciumenta com as minhas flores. E estou feliz com toda a ornamentação de teste. Imagina no dia do casamento?! Será tão requintado! Aceno em concordância.
— Bom, acho que todos já conhecem a Regina, ela é responsável pelo menu, então se estão comendo bem, agradeçam a ela. Elsa levanta sua taça em minha direção e faz com que todos na mesa façam o mesmo. Uma noiva não: um anjo. Eu jamais me perdoaria por tentar estragar o casamento dessa mulher.
— Além de ser a responsável pelo menu e pela geleia mais saborosa que comemos em toda a nossa vida... Emma começa a dizer.
— A geleia... esplêndida! A senhora Snow se agarra ao meu braço.
— Você precisa me vender um barril! Ela murmura.
— Regina Mills e eu... Ela vai dizer... meu Deus... não... não diga...
— Estamos juntas. Emma sai de onde está e estende a mão em minha direção. Eu não deveria segurar, nem me aproximar. O certo a se fazer em um momento assim é gritar sem parar que foi enganada por duas pessoas cafajestes, derrubar a mesa e sair correndo. Mas por impulso eu segurei na mão de Emma e deixei que ela me puxasse.
— Eu tive a sorte de conhecer essa mulher incrível, antes de todos vocês. Sinto seu braço ao redor da minha cintura.
— Tudo o que ela faz... tudo o que ela diz... Regina Mills é a minha pessoa favorita, desde o momento em que a vi pela primeira vez. Vejo Robin mover os lábios para mim: “vocês estão juntas?” Essa cara! Era essa cara que eu queria ver! Um pouco de espanto e horror. Uma dose de eu perdi esse mulherão e o que eu fiz da minha vida? Robin fica ainda mais branco do que já é e nos fita incrédulo.
— Estou ansiosa para ouvir como se conheceram. A senhora Snow olha de um lado para o outro na mesa, mas não há mais cadeiras vazias. Então ela bate com a bolsa na cabeça de Robin que se levanta, a mão nas têmporas e o olhar perdido só aumenta.
— Obrigada, querido, muito gentil. A senhorinha diz de um jeito meigo e se senta.
— Contem-me tudo, adoro ouvir histórias de amor.
— Er... bem... eu acho que deveria retornar à cozinha e... Tento escapar disso, não estou pronta para ser desmascarada. Na verdade, eu que quero desmascarar! Primeiro o Robin , é claro. Passei do estado de estar ofendida por ser a outra para o estado “como ele pode fazer isso com a Elsa?” E depois, obviamente, a Emma. Como assim ela me enganou esse tempo todo? E me fez acreditar que estávamos sentindo algo uma pela outra? Emma puxa a cadeira e indica que eu me sente.
— Não é bem uma história de... Começo a rosnar.
— Desde o primeiro momento em que a vi, pela janela da minha cozinha, eu sabia que era ela. Sinto o arrepio percorrer meus braços e tomar conta de todo o corpo. Até chacoalho os ombros e a cabeça. Sinto a respiração de Emma em minha nuca. Seus braços me envolvem de um jeito doce e ela beija o meu rosto. Robin saiu do estado de horrorizado para aflito. Ok, eu posso continuar encenando até ele ter um ataque epilético no chão.
— São vizinhas? A mulher com chapéu de flor segura no braço de Elsa.
— George e eu éramos vizinhos, quando crianças. E nos odiávamos tanto!
— O ódio às vezes é uma máscara para o amor, nesses casos. Elsa reflete.
— Totalmente! Eu me lembro de invadir o quintal da casa dele e cortar todas as suas camisas e calças, no primeiro dia dele da faculdade. Ele só faltou explodir de raiva!
— O que ele fez? Elsa e todas as mulheres da mesa se voltam para a simpática senhora.
— Gritou bastante comigo, é claro.
— E o que a senhora fez?
— Eu disse que ele ficava um charme com aquela camisa de mangas longas e os mamilos de fora! Ela termina de dizer e começa a rir sem parar. E todas nós acabamos sendo contagiadas pelo seu riso e a acompanhamos nesse momento divertido.
— Mas não falemos do ranzinza do George e eu... falemos de vocês! Ela até segura o chapéu enquanto se balança toda. O que eu devo dizer? A verdade? Invento uma história para impressioná-los? A minha cabeça simplesmente não consegue formular nada, eu só quero brigar com Robin e Emma!
— Ela canta enquanto cozinha. Emma diz.
— E também dança enquanto espera a comida ficar pronta. Eu a vigiava pela janela, pensando... por que essa maluca canta e dança para a comida? Será que ela é algum tipo de descendente indígena?
Todos na mesa riem, menos eu. Não porque estou brava com isso, mas porquê... é verdade. Mas quando ela me viu fazer isso? Eu tenho me contido todo esse tempo, perto dela, para parecer a pessoa mais normal do mundo.
— E mesmo que ela não tenha a voz mais doce do mundo... A desgraçada diz e eu piso bem forte no pé dela.
— Ou dance como alguém que acabara de levar um choque... Aperto o pisão para ver essa mala chorar.
— A energia dela me contagiou. É impossível acordar e abrir a janela e não pensar: “o dia vai ser incrível. Na verdade, já está sendo incrível, porque a minha adorável vizinha tem um sorriso capaz de espantar as nuvens de chuva”.
— Lindo, Emma. A senhorinha diz emocionada.
— Mas vocês não brigaram? Ela inquire, faz até uma careta. Emma ergue a sobrancelha e faz que não.
— Não confio em relacionamentos que não tenham uma briga marcante. Ela pensa alto e chama todos nós para que nos encostemos, porque ela vai sussurrar.
— O sexo fica muito melhor depois. O sexo precisa de uma dose de amor, de paixão, de luxúria e... de raiva. Na dose certa, fica muito bom!
— Senhora Snow! Elsa prende a gargalhada e encosta nos ombros dela.
— Ai, querida, eu vivi muito. Se não for para ter uma dose de ódio pelo George, o negócio nem pega fogo.
— Obrigado pelo conselho. Emma agradece com um aceno de cabeça.
— Vocês formam um lindo par, juntas. Amei! Também quero as minhas flores em seu casamento!
— Casamento? Robin desdenha.
— Elas acabaram de se conhecer... como assim casamento? Ele vira para os lados, como se procurasse alguém para concordar com ele.
— A propósito... Emma se curva um pouco mais e pega em minha mão, a levanta para cima da mesa.
Droga! Esqueci de tirar essa maldita aliança que deve valer toda a minha existência, do momento do primeiro choro até meu último!
— Regina disse sim! Emma diz orgulhosa. Esse sorriso é diferente de todos os que já vi ela dar. É tão leve e sincero, ao mesmo tempo contagiante e envolvente. Ela sabe como mentir. Ela sabe como fazer todos na mesa se levantarem e arregalarem seus olhos, abrirem bem suas bocas e focarem suas atenções em mim.
— É o anel da mamãe. Elsa segura em minha mão e me olha com demora no fundo dos olhos. Será que ela me odeia?
— Você mudou mesmo, Emma. Ela diz com orgulho, para a irmã.
— Eu nunca pensei que você se permitiria amar novamente e...agora eu acredito. Você encontrou o amor!
— Que merda é essa? Robin murmura, acho que ouço a Gabriela murmurar isso também. A senhorinha das flores se levanta e fica ao meu lado, segura em meu ombro.
— Agora você também é da família, querida! Seja bem-vinda! Meu Deus do céu... onde é que eu fui me meter?
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Show de vizinha
HumorRegina Mills sempre corre atrás do que quer. Ela batalhou muito para ter a sua pequena agência de eventos em Miami e um relacionamento de dez anos com Robin Hood, coisas das quais ela se orgulha muito. Até que após um incrível final de semana com se...