Emma Swan
Regina e eu passamos a noite anterior conversando coisas triviais – o que eu realmente detesto, mas tudo o que ela dizia parecia ser interessante. Quando percebi, estávamos caindo de sono e eu a convidei para passar a noite, mas ela preferiu voltar para casa. Tudo bem. Eu a levei até a porta e ainda a vi uma última vez pela janela do meu quarto, acenei, apaguei as luzes e fui dormir. O dia seguinte começou agitado. Pedi que Ruby entrevistasse as melhores pedagogas de Miami. Afinal de contas, quem melhor que ela, a CEO Ruby, praticamente uma inquisidora católica, para interrogar mulheres sobre seu conhecimento e formação? Desconheço alguém mais apta. Deixei Henry com Ruby, que o levou para sua empresa e fui com Regina para a mansão dos Farrah. Fiquei surpresa ao perceber que tudo parecia adiantado por ali e desde cedo muita gente estava naquele lugar. Até porque, comida de graça, naquele ambiente agradável, era realmente um chamariz. A cozinha já tinha pegado o pique e Regina não precisava mais se estressar com nada. Ainda assim ela ajudava as meninas, não tinha medo de ir pegar no pesado, carregar saco de farinha, até, e ainda assim, continuar
com um grande sorriso no rosto. Fiquei o tempo todo na passagem entre a cozinha e o salão, até que
uma conhecida esbarrou em mim.
— Emma! De todos os lugares do mundo em que poderíamos nos encontrar, esse era o último da minha lista! Gabriela jogou os cabelos para trás e sorriu do jeito indecente que sabia fazer.
— O banheiro fica do outro lado, aqui é a cozinha. Aponto para a direção dos sanitários.
— Na verdade eu vim pegar mais dessa geleia. É sério que foi feita aqui? Não é industrial? Eu estou... nas nuvens!
— Ah. É, foi feita aqui, sim. Perco o foco e volto a olhar Regina trabalhar.
— E o que você está fazendo na cozinha? Nem sabia que você tinha coragem de voltar para a mansão.
— A minha irmã está se casando e a minha mãe ainda mora aqui. Informo.
— Eu sei. Mas do jeito que o seu pai te expulsou... Seguro Gabriela pelo braço e a tiro dali imediatamente. Ela me indica onde está sentada e eu a levo.
— A minha geleia! Ela reclama. Pego o primeiro garçom que passa por nós e ordeno que não demore
um minuto até trazer o pote todo de geleia, para que eu mesma enfie na goela dela. O pote. Inteiro.
— Qual o seu problema, Gabriela?
— Eu só quero a minha geleia! Ela se senta e coloca o guardanapo no colo.
— Você? Indo na cozinha? Qual é... Reviro os olhos.
— Algum problema? Ouço a voz de Elsa e me viro para ela.
— Nenhum problema. E... wow, você está muito linda! Toco em seu colar de pérolas e seus brincos de diamante. Elsa me abraça com demora e puxa uma cadeira para se sentar. Eu sei que deveria retornar para a cozinha, para ficar longe dos holofotes, mas pelo olhar e insistência dela, acabo me sentando.
— Pelo visto, se reencontraram...
— Sim. Gabriela anui.
— Infelizmente. Balbucio e fico atenta, olhando ao redor. A mesa está cheia de mulheres e nenhuma delas me é desconhecida. E todas me encaram como se eu fosse o próprio café da manhã servido em
suas bandejas.
— Do que estavam falando? Elsa pega seu espumante e as torradas com queijo de cabra e começa a enfeitar seu prato. Porque comer mesmo, ela não vai.
— Do retorno triunfal de Emma Farrah para a nata de Miami. Quem diria, hein? Durou o quê? Cinco anos? Gabriela provoca.
— Durou cinco anos o quê? Continuo assistindo Elsa colocar coisas no prato. No fim, eu sei que ela não vai comer nada, mesmo assim ela monta uma refeição de saltar os olhos.
— Que você bancou a rebelde e peitou todo mundo, inclusive o seu pai, dizendo que não precisava de nada disso aqui. E que iria se virar sozinha. Nossa. Eu disse isso mesmo? É... tem cara de que fui eu que disse.
— E vejam só... Gabriela diz de um jeito triunfante.
— Você voltou.
— Para o casamento da Elsa. Pontuo.
— Mas voltou. Está começando a ceder... quem sabe com o tempo, com a cabeça em seu devido lugar, você não ceda a outras coisas. Tá, talvez esse seja o momento adequado para falarmos algo
realmente importante sobre Gabriela: “ ”. Era isso mesmo. Nada. Obrigado pela atenção, senhoras e senhores;
— E o seu neném com retardo mental? Ele não vem? Não gosta de multidões? Ah, eu deveria mesmo trazer o Henry. Ele, melhor do que ninguém, trataria Gabriela como ela deve ser tratada: como alguém que não é digna de atenção nenhuma. Infelizmente ele faz isso com a maioria das pessoas, então não seria tão impactante.
— O meu sobrinho não tem retardo mental. Elsa pousa as mãos na mesa e alisa a toalha com delicadeza.
— Esse é o meu casamento, Gabriela. O meu momento. Se você vai bancar a vadia má, eu vou te
mostrar como vadias más acabam. Gabriela cruza os braços e se encolhe na cadeira. A geleia chegou. E quem a traz é... a própria Regina.
— Ouvi que estavam elogiando a geleia. Ela aguarda para ver quem foi que elogiou.
— Sim! Nossa, extremamente saborosa! Preciso que passe a receita para as minhas empregadas! Gabriela diz eufórica.
— É segredo de família, a minha avó me ensinou sob a jura de que nunca iria ensinar ninguém. Regina é de uma finese que me impressiona.
— A boa notícia é que contratando a Sweet Show, você pode ter quanta geleia quiser. Ela olha para mim e dá uma piscada.
— Eu amo essa mulher. Elsa lambe os dedos como se tivesse experimentado um pouco de cada. Seu prato continua cheio e tudo nele está intacto.
— Ela é fenomenal, sim. Cruzo as pernas e recolho a mão para o colo. Gabriela analisa Regina da cabeça aos pés e depois me fita com demora.
— Mas todo segredo tem um preço, não é? Eu posso pagar caro pelo seu segredo. Ela sorri como se pudesse ter tudo o que quisesse. Com o sorriso ou com birra. O que condiz muito com a idade mental dela.
— Este segredo não. Regina se afasta e me encara com surpresa.
— Por que está sentado aí? — ela move os lábios.
— Eu não sei. Eu movo os meus.
— Você não respondeu, Emma. Você voltou definitivamente ou o quê? Gabriela inquire em um tom bem áspero. É o suficiente para Regina levantar a sobrancelha e mostrar que está ainda mais surpresa.
— Se as senhoritas me dão licença, retornarei para a cozinha. Me levanto, passo a mão pelas costas de Regina e a levo para longe dali. Estou salva pelo gongo. Por enquanto.
— Quem eram aquelas pessoas? Ela me pergunta quando estamos de volta aos bastidores.
— É uma excelente pergunta. Pego uma torrada e coloco o queijo de cabra para experimentar.
— Isso é muito ruim, mas você faz ficar bom. Saboreio e limpo as mãos.
— É a magia da cozinha. Ela pisca e vasculha com o olhar todos os elementos do cardápio.
— Manteiga líquida, pão rústico com gergelim, salada, creme de ricota... Ela deixa de falar e só move os lábios enquanto aponta tudo o que preparou para o café da manhã.
— Certo. Tudo em ordem. Regina me dá as costas e retorna para suas cozinheiras para já discutir o café da tarde, porque o almoço está a todo vapor. Regina se ocupou, então tive tempo de chamar Elsa quando ela estava livre.
— Como foi o seu café da manhã? A levei para um lugar que não estivesse sob as vistas da cozinha ou das amigas dela.
— Foi ótimo. E o seu?
— Comeu tudo? Ela fez que sim e ficou sorridente, mostrando a imagem perfeita de pessoa feliz e satisfeita.
— Você não comeu nada. Falo bem sério e a puxo para um canto ainda mais discreto.
— Está cuidando da bulimia? Tem feito acompanhamento? Estou te achando mais magra do que o comum. Elsa empina o nariz e morde o lábio inferior enquanto me julga com o olhar.
— Não estou te vigiando e não quero te punir. Só estou preocupada com você. Eu me importo.
— Se importa?
— Eu me importo, Elsa.
— Você some por anos... eu que sempre preciso ir até você... e tive de implorar para que você viesse ao meu casamento, ainda assim você negou. Vejo uma lágrima descer pelo seu rosto.
— E apareceu repentinamente... após indicar a Sweet Show para organizar a minha semana. Você se importa, Emma?Precisamos sair do salão. Em silêncio e com cuidado vamos para a parte externa, onde ficamos diante da grande piscina.
— Mas nos encontramos com frequência, você sabe que me importo. Eu só não vim aqui, e você parece que não gosta de sair dessa redoma de vidro. Olho ao redor.
— Quero saber se está bem. Não te vi comer nada e você está mais magra do que me lembro.
— Eu estou ótima. Dá para sentir que essas palavras são carregadas de muito peso.
— Está ótima? A encaro, de perto.
— Elsa, eu consigo ver seus ossos. Após relutar e olhar para todos os cantos possíveis para entender
que não dá pra fugir do meu olhar, ela diz:
— Robin disse que estou gorda e não vou entrar no vestido. E que não estou atraente como antes. Não digo nada, para deixar que ela desabafe tudo, até onde aguentar.
— O que você quer, Emma? Que eu coma aquele prato todo e depois vomite? É isso o que você quer? Por que você sabe que é isso o que eu costumo fazer!
— Els. Pego suas mãos e as levanto até meu peito.
— Se você comer um pouquinho, a quantidade certa para se sentir satisfeita, você não vai precisar vomitar ou se preocupar com seu corpo. O corpo é uma máquina que precisa de combustível. E comida é combustível.
— Mas quando eu como... eu como sem parar... Ela tenta afastar as mãos, mas eu as mantenho seguras em mim.
— Porque você fica longos períodos sem comer e a sua mente tem essa reação. A puxo devagar até mim.
— Você já havia resolvido isso. A terapia já havia ajudado.
— Eu sei... mas o casamento...
— Elsa. Chacoalho ela.
— Foda-se o casamento. Não sei se são as melhores palavras a serem ditas para a noite, mas preciso dizê-las.
— A sua saúde vem em primeiro lugar. O seu bem-estar deve vir em primeiro lugar. Tudo ao seu tempo. Você está ótima, na verdade, está magra demais. Precisa se alimentar direito, senão vai começar a ter desmaios.
— Por que você acha que eu tenho estado mais tempo longe das vistas de todos? Ela murmura. Preciso abraçá-la. Elsa não é mais uma criança, ainda assim sinto que preciso cuidar dela. Não quero que ela se machuque, assim como não quero que ela venda sua vida a troco de dinheiro só para manter as aparências.
— Você sabe onde me encontrar. E sabe que sempre estarei lá por você. Não tenha medo de...
— Fugir? Ela murmura e se afasta devagar.
— Eu não tenho a sua coragem, Emma. Eu não sou você. Depois que você decidiu tomar as
rédeas da sua vida, o nosso pai focou em mim. Apenas em mim. E agora eu faço todas as vontades dele.
— Foda-se as vontades dele!
— Ele não para de dizer que não quer que eu seja uma decepção, como você. Aquelas palavras poderiam me afetar, no passado. Mas agora...
— Enquanto ele está ocupado dizendo que fui uma decepção, eu estou vivendo a vida que eu sempre quis, Elsa. A vida que eu mereço. Você merece.
— Sem dinheiro? Ela desdenha.
— Eu tenho dinheiro agora. Garanto.
— Não importa quantos advogados ele tenha, não importa o quanto impeça que nossa herança, deixada pelos nossos avós, demore a chegar. Não importa as medidas que ele toma para tentar tirar o Henry de mim. Eu luto, Elsa. E se eu posso, você pode!
— Você é um gênio, Emma. Do dinheiro, das pessoas, do poder. Você soube se reerguer, eu não conseguirei.
— Mas você tentou? Levanto o rosto dela.
— Você não pode ter medo do abismo se quiser voar, Elsa. Voar é se jogar contra o chão, mas ter fé de que suas asas não permitirão a queda. Você tem a mim, eu não vou te deixar cair. Antes que Elsa se afaste eu beijo sua testa e a abraço, com cuidado, e não consigo soltá-la. Eu não quero soltá-la.
Eu não quero que ela viva com medo e amargurada, dando tudo de si para receber migalhas, lutando em busca de um amor que não será devolvido. Eu vivi tudo isso. Me libertar foi a coisa mais difícil do mundo. Eu pensei que não haveria vida sem o dinheiro, sem o poder e influência que meu pai controlava. Mas eu me lancei no chão e no momento derradeiro as minhas asas abriram. E eu descobri que podia voar. Voar, inclusive, bem mais alto do que um dia voei como CEO da Farrah.
— Assim como eu vim aqui por você, Elsa, eu vou estar lá, no dia do seu primeiro voo solo. Por você. Garanto e só assim consigo deixá-la ir.
Regina Mills
Termino de almoçar e organizo o descanso das meninas para que elas tenham seu tempo de almoço e tempo para se recuperarem para as próximas etapas. Com a cozinha vazia, retiro o que restou do café da manhã que não foi utilizado e coloco em vasilhas para doar aos desabrigados e orfanatos, minha política pessoal é: sem desperdício. E enquanto esvazio as panelas ouço uma voz de choro.
Me aproximo devagar até a janela para espiar e ver o que está acontecendo e vejo a noiva. Cedo demais para chorar, não? Se bem que... ela deve estar uma pilha de nervos, coitada! Mas espera aí... o que o Emma está fazendo com ela? Assisto o Emma segurar em suas mãos e levar até o seu peito
enquanto ele conversa sério com ela. Ela tenta aproximá-la, mas ela abaixa o rosto e não contém as lágrimas. O que está havendo?
— Oi? Ouço uma voz do outro lado da cozinha.
— Oi! Aceno para a moça que elogiou a minha geleia.
— Será que... sobrou um pouco daquela geleia? Ela passa os olhos pelas vasilhas e panelas. Faço que sim e peço que ela aguarde, faço questão de colocar em uma vasilha para ela.
— Não vai me passar a receita mesmo? Poxa! Você não faria issopela filha do governador? Ela tenta jogar uma simpatia que, claramente, ela não tem. Essa garota pode ser tudo, menos simpática. E quando força... fica estranho.
— Filha do governador? Meus olhos quase saltam.
— Gabriela Weiss. Ela joga o cabelo para o lado. Bem... não sou muito ligada em política e nem gosto. E como sou de Nova York, não sou antenada nas coisas de Miami.
— Wow... Abro bem a boca.
— Bom... não posso dar a receita, até mesmo para a filha do governador, mas posso te dar mais geleia. Procuro uma vasilha maior. Enquanto faço isso, Gabriela vai se distanciando cada vez mais até chegar próximo da janela e espiar.
— Ei! Espera! Não faça isso... Vou atrás dela, mas já é tarde demais. Gabriela assiste toda a cena e eu também, mesmo que não consigamos escutar nada.
— Meu Deus... você pode fingir que não viu isso? Afasto da janela quando Emma e Elsa saem dali.
— Por quê? Gabriela se mostra interessada.
— É que a noiva... bem... seria estranho, não é?! Não sei o que dizer. Será que Emma tem um caso com a noiva? Por que ela foi tão carinhosa com ela?
— O que seria estranho? Gabriela cruza os braços.
— Não sei... deixa para lá... Coloco a vasilha em uma sacola e entrego a ela.
— Pode deixar por aqui mesmo, eu peço para que um dos meus empregados venha buscar. Ela diz e vai em direção à saída.
— A propósito...
— Sim?!
— De onde você conhece a irmã da noiva? Irmã da noiva? Vi muita gente nessa semana pré-casamento, mas não vi os pais da noiva e definitivamente não vi irmã algum.
— Quem é a irmã da noiva? Pergunto, interessada. Gabriela revira os olhos, claramente a falsa simpatia foi embora, já que ela conseguiu o que queria. Bom, menos a receita...
— Emma Farrah, a irmã da noiva.
— _______Emma? Quase gaguejo ao dizer o nome dela.
— Farrah. Ela diz sem paciência, joga o cabelo na minha cara e vai embora.

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Show de vizinha
ComédieRegina Mills sempre corre atrás do que quer. Ela batalhou muito para ter a sua pequena agência de eventos em Miami e um relacionamento de dez anos com Robin Hood, coisas das quais ela se orgulha muito. Até que após um incrível final de semana com se...