cap 7

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Regina Mills
 
Tudo havia voltado ao normal e eu pensei que as coisas seriam mais fáceis agora. “Havia” do verbo conjugado no passado mesmo, porque eu acordei e a vida voltou ao caos. Acordei com a ligação de um número desconhecido e optei por atender. Algo dentro de mim queria que fosse Robin  para que eu fizesse a sonsa e seguisse atuando como se não soubesse de nada. Mas não. Quem me ligou foi a única e a própria oficial Elsa Farrah.
— Falo com Regina Mills? Ela perguntou, bem educada. Dava para perceber que era uma mulher de outra classe mesmo, a voz, o tom, tudo nela soava como um milhão de dólares. Ou talvez um bilhão.
— Oi, ela mesma!
— Oi, querida! Eu tomei a liberdade de ligar para o seu escritório e eles me passaram o seu número particular. Ela explicou.
— Tudo bem, senhorita Farrah.... pode falar. Comecei a ficar tensa. Sem motivo algum.
— Regina, queria muito experimentar a sua cozinha. Hoje. Minhas amigas de Nova York vieram e acho que seria uma excelente oportunidade para degustarmos o seu menu e já opinar no que serviremos nos dias que antecedem o casamento, que tal?
Ah, senhorita Farrah, você me pegou de surpresa...
— Acha que 25 mil dólares cobre seu expediente e de sua equipe hoje? Sei que está em cima da hora, então ofereço 30.
Dólares? — pergunto surpresa.
Mil — ela se diverte do outro lado. Gente rica é fogo, né? Eles simplesmente acham que podem te ligar às seis da manhã, quando o sol nem resolveu aparecer, e te fazem propostas de trabalho. Por trinta mil dólares! Quem Elsa Farrah acha que é? Ela acha que eu sou uma qualquer? Que eu não tenho nada para fazer? Que eu posso riscar todos os meus compromissos e ir servi-la?
— Estarei aí às 9:00 em ponto, senhorita Farrah. Afirmo.
— Certo. Quero você aqui o dia todo, sim? Almoço, chá da tarde, jantar e petiscos.
— Não se preocupe, senhorita Farrah, receba suas convidadas e deixe a cozinha comigo!
— Você é um anjo, Regina. Nos vemos mais tarde!  Ela desliga. Deslizo o celular pelo rosto e pisco os olhos. Agora sim eu acordei. Literalmente. Para a vida, para o trabalho e para o meu pesadelo: eu irei conhecer a outra do Robin . Quer dizer, eu sou a outra, eu irei conhecer a oficial. Meu Deus, o que eu vou fazer?
 
Emma Swan
 
Estava começando a me vestir quando algo bateu no vidro da minha janela. Deixei a camisa de lado e olhei por fora dela até encontrar a minha doce e talentosa vizinha.
— Agora você destrói patrimônio alheio? Olho para a janela para ver se ela teve algum estrago e depois retorno a ela, com um sorriso no rosto.
— Você está livre hoje? Preciso de você. Precisa de mim? Então deve ser algo importante. Debruço-me sobre a janela e a encaro lá embaixo.
— Você quer que eu jogue meus cabelos para você subir? Começo a rir e ela também. Coloco a cabeça para fora da janela e abaixo o rosto. Regina, lá embaixo, finge segurar em algo e imita o esforço de escalar. No fim, acabamos nas gargalhadas, como duas idiotas.
— Você não existe!  Ela segura nos joelhos.
 — Quero que vá comigo hoje me dar uma força. Vou conhecer a noiva do Robin . Está livre?
— Vou ver o que posso fazer no seu caso. Tiro o celular de cima da cômoda e disco um número.
— Em trinta minutos vou em sua casa, ok?
— Ok, obrigada! E ela sai correndo pelo gramado feito uma criança feliz e entra em casa, não sem antes comemorar.
— Fala, irmã — ouço no celular.
— August, tive um imprevisto. Será que você pode vir mais cedo? Talvez tenha de ficar com o Henry mais tempo que o esperado.
— O quanto mais cedo?
— Tipo agora.
— Chego aí em uma hora, segura as pontas.
— Seguro. E muito obrigado. Agradeço e espero ele desligar. Ando até o quarto de Henry e percebo que ele ainda está dormindo. Então preparo tudo para quando ele acordar e desisto de me vestir casualmente. Se iremos visitar os Farrah, é melhor que eu vá minimamente elegante. Quando o café da manhã já está posto na mesa, vejo Henry aparecer pelo corredor, já com o rosto lavado, mas ainda de pijamas. Ele traz consigo o abafador de ouvidos e se senta em sua cadeira e me olha.
— Bom dia, principezinho das formigas. Já acordou?
— É óbvio, mamãe. O pequeno revira os olhos.
— A mamãe vai ficar fora o dia todo. Hoje quem vai cuidar de você é o tio August Booth, se comporte!
— E o outro não vem?  Ele começa a mexer nas torradas e nos ovos mexidos para se distrair.
— Não, o Peter não vem. Mas você gosta muito do tio August, lembra? Ele te deixa à vontade e ele gosta de jogar com você.
— Para onde você vai, mamãe?
— Vou fazer companhia para a Regina. Henry que antes parecia desconfiado e desconfortável, agora
aparenta uma expressão mais serena e começa a colocar os ovos mexidos em seu próprio prato. Ele toma todo o cuidado do mundo para não derramar na mesa.
— Será que a galinha tava escondida por que mexeram nos ovos dela? Ele pergunta antes de começar a comer.
 
Regina Mills
 
Emma foi um anjo salvador! Ela deu um jeito de ir comigo para a mansão dos Farrah. Infelizmente Zelena precisava gerenciar o escritório hoje e Belle estava ocupada organizando uma formatura, então só iríamos eu e algumas funcionárias da cozinha. E Emma, é claro. Isso já me deixava mais confortável de encarar a noiva e Robin . Quando a vi sair de casa fiquei com o queixo caído. Parecia uma dessas mulheres que saem na Forbes. Abaixei os óculos escuros e desliguei o carro enquanto a vi caminhar em minha direção. O terno parecia desenhado para aquele corpo e seus músculos. Os óculos escuros davam uma expressão de bad girl do ramo imobiliário, capaz de comprar, vender e alugar qualquer pedaço de terra. Já vi Emma nua e é um show. Mas assim, vestida de mulher de negócios, dona de Miami, a mulher é um espetáculo. Ela abre a porta do carro e se senta ao meu lado. Abre um sorriso de canto e tira os óculos escuros para ficar me fitando. Tiro a mão das marchas do carro e me encolho na poltrona quando sua mão vem devagar em minha direção e limpa ao redor da boca. Meu Deus, acho que estou perdendo o controle do meu corpo. Palpitação? Check. Incapaz de olhá-la diretamente nos olhos? Check. Mãos trêmulas? Check. Vontade de tê-la em cima de mim no banco de trás? Que tal se desistirmos disso dos Farrah e aproveitarmos esse delicioso dia ensolarado em Miami?
— Você está bem?  A voz dela me tira do transe e me obriga a pousar os pés no chão.
— Estou ótima. E você também, ao que parece.  Deixo meus olhos descerem por aquela obra de arte.
Ah, essa coisa velha? Emma se diverte.
— Regina, eu estive pensando... Meu Deus... meu nome saindo da boca dela... dá vontade, não de
passar o dedo na boca dela, mas de deixar ela conhecer a minha geografia todinha até conseguir um diploma.
— Diga, senhora de negócios. A provoca e ligo o carro de novo.
— Você não vai levar isso a sério se não houver uma condição. Dou a partida e deixo que o GPS me guie.
— O que você quer dizer?
— Eu vou fingir ser sua namorada, sim. Ela garante.
— Mas em troca, eu quero uma coisa.
Qualquer coisa, senhora de negócios. Me divirto.
— Eu quero você.  É o que ela diz. Assim, como quem dá bom dia e segue a vida, como se nunca mais fosse ver a pessoa. O quê? O que que essa mulher quer?
— Por um dia inteiro. Ela completa.
— Eu quero a real Regina Mills. Sem as máscaras, sem os adjetivos, sem os pesos do passado e as ansiedades do futuro. Eu quero conhecer a Regina Mills do agora, do momento. E quero que você me conheça também. Um carro buzina freneticamente lá atrás, porque eu freei com força e não paro de encarar essa mulher como se ela fosse a equação mais difícil que encarei na vida. O que ela quer dizer com tudo isso?
Como assim? O coração bate forte no peito.
Como assim “a verdadeira eu”?
— Eu te quero nua. Pronto. Eu já tinha dado a partida de novo. E o carro deu um sobressalto e morreu.
As buzinas continuam lá atrás.
— Figurativamente, você diz... Limpo os lábios e tento dar a partida pela terceira vez.
— Não. Eu te quero nua, literalmente, só para mim. Por um dia. Engulo em seco e tento dar a partida. As mãos trêmulas? É apenas um detalhe. Eu estou me tremendo toda. As placas tectônicas dentro de
mim se chocaram. E não é sobre o perfume forte dessa mulher que invadiu meu carro e me cobriu com seu frescor. Também não é sobre sua presença imponente e seu ar de “eu compro, não importa o valor”. É o jeito que ela olha para mim e se dirige a mim. Me faz sentir... estranha. Como se eu valesse muito mais do que eu sei que valho. No colégio os meninos diziam que eu era uma 3. Eu cresci e nesse momento da vida tentei garantir que pelo menos eu fosse uma 7. Mas do jeito que Emma me olha, até parece que eu valho... Quer dizer, esqueça a porra dos números! Esqueça como os caras babacas te numeravam entre 0 a 10. E esqueça o modo como o cara que partiu seu coração te fez desperdiçar as lágrimas. Essa mulher me faz sentir única e exclusiva. Sendo que quem é única e exclusiva aqui é ela!!! Olha só para ela!
— E quando você quer isso? A minha voz sai com dificuldade.
— A julgar que preciso fingir que te conheço e te amo... o mais urgente possível. Freio o carro com toda a força do mundo. Após muitas freadas, buzinas e um trânsito irritante, chegamos à mansão dos Farrah. Ao redor de uma área gigantesca onde poderiam construir vários estádios de futebol, aqui estamos nós. Vi pelo menos três piscinas, dois bosques gigantes e um estacionamento de dar inveja à
shoppings. Carros entravam e saíam. Na porta de visitantes parei o carro em frente à guarita e quatro seguranças mal-encarados me pediram para sair do carro.
— Eu sou a chefe de cozinha para o casamento. Expliquei.
—Regina Mi... Nem precisei falar o meu nome. Assim que abri a porta do carro e os seguranças espiaram dentro, imediatamente me liberaram. Não pediram identificação nem nada, só me deixaram entrar. Achei estranho. Dirigi até um dos quatro salões de festa, o que tinha a cozinha maior, e fui recebida por ninguém mais, ninguém menos, que Elsa Farrah! Uma mulher alta e de olhar poderoso. Os olhos azuis brilhavam feito safiras ao sol e seu rosto parecia ter sido desenhado por um artista
muito apaixonado. A mulher era deslumbrante, devo admitir, entendo Robin . Eu também me trocaria por essa mulher.
— Olá, senhorita Farrah. Eu sou Regina Mills. Me apresento. Elsa Farrah abre o maior sorriso do mundo e me abraça. Eu me sinto uma formiguinha em seus braços, tão minúscula e desconcertada que até evito encará-la.
— Regina! Estou confiando em você para fazer o meu casamento dos sonhos! Ela diz em êxtase.
— Prometo que darei o meu melhor. É o que digo. Talvez eu dê o meu melhor para destruir esse casamento, é o que eu queria ter dito.
— Ah, eu trouxe a minha namorada. Espero que não se importe. Estendo a mão para apresentar Emma. Emma acena com a cabeça e Elsa Farrah empina o nariz e a avalia dos pés à cabeça.
— Pode entrar, querida, conheça a cozinha! A sua equipe já chegou e eles são tão organizados! Ela diz animada. Só sorrio e entro.
— Emma, você vem?
— Já vou, amor. Ela diz e olha ao redor, parece distraída olhando tudo ao redor. Eu sei. Dá pra acreditar que tudo isso, maior que três ou cinco bairros, é a humilde propriedade da família Farrah? Sigo para a cozinha para ver o que as minhas meninas já fizeram.
 
Emma Swan
 
Regina some no meio do grande salão, indo em direção à cozinha. Não tiro os olhos dos passos dela até vê-la desaparecer. E rio sozinha só de lembrar a expressão dela quando conversamos há pouco no
carro.
— Não mudou quase nada desde que você decidiu nos deixar. Elsa diz num tom fúnebre. Viro o rosto devagar e o sorriso só aumenta quando a vejo. Coloco as duas mãos nas laterais do seu rosto e me aproximo devagar até que nossas testas se encostem.
— Eu também senti a sua falta. É tudo o que digo.
Sentiu? Não minta para mim. Quando você decidiu abandonar tudo, sequer olhou para trás. Eu que preciso ir até você, nunca o contrário.
— Senti a sua falta, do meu jeito.
— Ok. Como está o meu sobrinho?
— Está bem, estou dando tudo para que o Henry tenha uma boa vida. Longe de todo esse inferno.
Inferno? Elsa ergue a sobrancelha.
— Um dia eu cheguei a pensar que era o paraíso. Mas sempre me senti uma estranha nesse Éden. Até descobrir que, para mim, esse lugar não passava de um inferno. Ela concorda devagar e me avalia, da cabeça aos pés.
— Você está bem, irmãzona? Até parece que abandonar o sobrenome Farrah e o cargo de CEO da empresa da família te fez bem. Encaro-a também, da cabeça aos pés. Elsa parece meio abatida por detrás daquele sorriso falso e dissimulado.
— Fez melhor do que eu poderia imaginar. Suspiro.

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