Regina Mills
Zelena e Belle não queriam ir embora, estavam conhecendo dois caras muito gatos e pediram para que eu esperasse. E eu sabia que essa espera ia durar até o sol chegar. Acabei esbarrando em Emma sem querer.
— Que cara é essa? Perguntamos uma a outra.
— Nada! Respondemos juntas novamente.
— Meus pés estão doendo. Comento.
— Então tira os saltos. Ela diz. Ela é mesmo muito prática, não deve viver nenhum drama na vida, porque resolve tudo com simplicidade.
— E estou cansada. Já tiramos as fotos, já fizemos todo o trabalho que podíamos aqui. Quero ir embora.
— Mas já?
— Até você? O que foi, está conhecendo alguém para querer ficar? Cruzo os braços. Emma mantém seu olhar de mistério. Agora está escondendo seus sentimentos, seus olhos me fitam fixamente.
— Vem comigo. Ela estende a mão. Nem pergunto para onde vamos, só seguro e vou com ela. Saímos da Night Light e preciso dizer: o ar aqui fora é bem diferente do de lá de dentro. Ok, lá dentro parece que uma respirada vale mil dólares. Mas aqui fora parece que respirar não tem preço. Sinto a brisa em meus cabelos e acabo tirando os saltos, como Emma me aconselhou. Ela também tira os sapatos dela e joga atrás de uma árvore.
— Você é rica o suficiente para comprar novos pares? Ou simplesmente não se importa em descartar as coisas? Pergunto.
— Um pouco dos dois. Ela diz e se curva, na minha frente.
— O que é isso?
— Sobe aí.
— Nas suas costas?
— Vamos! Não vamos ter a madrugada toda! Ela resmunga. Tá, já que ela pediu... monto nesse cavalo puro sangue e quando passo os braços pelo seu pescoço e as pernas por sua cintura, Emma dá meia volta e começa a correr, como se eu não pesasse nada em suas costas. Atravessamos a rua com uma porção de carros buzinando freneticamente e freando a ponto de rasgar o asfalto e tudo isso me mantém alerta e entretida. Essa mulher é meio louca e eu gosto disso.
— Para onde estamos indo? Grito, tentando competir com o vento. Mas não preciso de uma resposta dela. Assim que atravessamos uma parte da rua e chegamos a uma calçada, consigo ver. Não apenas ver, mas ouvir e até mesmo sentir um cheiro diferente.
— Estamos na praia? Aquele é o mar? Aponto. Emma olha para o lado em que os carros vêm, mas nem sei porque faz isso, já que dispara a correr de novo e eu me agarro com todas as forças em suas costas. Não tenho palavras para descrever a sensação de ver a praia assim de pertinho. Nas fotos e em vídeos não tive o impacto que tive agora. Na areia, um grupo de pessoas está ao redor de uma fogueira,
tocando canções e comendo guloseimas. Não muito longe tem outro grupo. Emma me desce quando chegamos, enfim, na areia e sinto um calafrio subir pelos meus pés.
— Não sabia que a areia conseguia ser tão gelada. Pulo de volta nos braços dela. Emma é aquele tipo de mulher que não desvia o olhar, então quando me lanço em seus braços, novamente ficamos naquela distância incômoda, ou não tão incômoda, em que sentimos a respiração um do outro.
— Você sabe que ela fica quente por causa do sol, não é? Ela ri.
— É claro que eu sei! Dou um tapa no ombro dele.
— É... surrealmente lindo.
— Eu te disse que ia te trazer na praia. El desabotoa toda a camisa branca social de mangas longas e me estende a mão.
— Vem comigo. Não tenho opção a não ser ir. O cansaço parece que me deixou. É como se aquele lugar drenasse, lentamente, minhas forças. E só de estar aqui me sinto renovada. Devo confessar que sinto bastante frio com os sopros repentinos de ar e também não estou com as roupas adequadas. Mas existem momentos, como ver o mar à primeira vez, que quebram com esses paradigmas.
— Só cuidado com os tubarões. Ela diz. Imediatamente solto a mão dela vou fazendo o caminho de volta.
— Ei! Emma corre em minha direção e me arranca do chão.
— Você vai me levar de comida para os tubarões, é isso? Não escondo o desespero.
— Relaxa, confia em mim. Mais alguns passos e o som das ondas em movimento se tornam o meu som favorito naquele lugar. Emma me pousa no chão e eu sinto a água fresca e levemente fria em meus pés. Agarro-me ao corpo quente dela e olho para o céu. A visão das estrelas e da lua é outra coisa vista daqui. O mar parece algum tipo de segundo céu e a movimentação da água é hipnotizante. É linda.
— Tira uma foto. Ela sugere. Mas quer saber?
— Não.
— Não? Ela ri, interessada.
— Acho que esse é um daqueles momentos que quero manter só para mim. Penso alto.
— Eu quis tanto vir conhecer a praia... Olho ao redor.
— E até mesmo uma foto não registraria o que estou sentindo. Prefiro confiar em minha memória. Emma me encara de um jeito como se de todas as coisas que eu poderia dizer, naquele instante, aquela era a coisa certa. Fecho os olhos para aproveitar o som. A mistura do silêncio do céu com o vibrar da rebentação é excitante. E mesmo que de início eu me arrepie e comece a bater o queixo pelo frio, ele para quando Emma se põe de frente à corrente e ameniza o impacto do vento.
— Uma formiguinha ajuda a outra? Pergunto, ainda de olhos fechados, aproveitando a sensação. Sei que deveria olhar ao redor, procurar para ver se acho conchas ou algo para levar para casa. Mas a sensação que tenho em permanecer parada só ouvindo a natureza do lugar já me parece o suficiente. Eu nunca senti algo assim antes, é quase libertador.
— É por isso que elas vivem em colônia. Emma responde.
— Está com saudades do Henry?
— É claro que sim. Por muito tempo fomos apenas ele e eu...Ela respira fundo.
— E muitas vezes eu cheguei a pensar e sentir como se fossemos uma coisa só. Não quero que me entenda errado, eu amo descobrir quem eu sou, sem o Henry por perto. Mas ao mesmo tempo, em cada ocasião que eu esteja sem ele, falta algo importante.
— Que bonito.
— O amor também é um pouco de ausência. Abro os olhos e a vejo de braços cruzados, olhando para o horizonte.
— Você nunca sabe realmente se está saciada, até que passe fome. Assim como você nunca dá valor à felicidade, se nunca foi triste. Existe uma simetria no universo e na natureza... uma coisa ímpar e envolvente, que nos faz absorver de fato um sentimento quando conhecemos o outro. Em um momento de silêncio, em que decido não respondê-la, Emma vira o rosto e olha para mim.
— Ficou confuso de entender? Não. Na verdade, ficou muito claro. Emma e seu filho Henry me trouxeram dois ensinamentos valiosos quando eu sequer esperei. Na vida é assim, você estuda, aprende, tenta desvendar o mundo e ainda morre burro. Ainda há tanto para explorar. E tanto a descobrir. E eu que passei os últimos anos batendo o pé para exigir que me enxergassem como alguém
que tinha domínio sobre tudo, acabei de aprender que ainda sou uma mera aprendiz. E essa sensação é libertadora.
— Quer dar um mergulho? Pergunto.
— E os tubarões? Emma provoca. Ela respeita o meu tempo. Ela não me força à nada. Ela deixa que eu aprenda sozinha para que eu mostre que posso tomar a iniciativa. Até agora eu não havia descoberto, ou não queria aceitar... eu estou apaixonada por Emma. De verdade.
— Eu confio em você. É o que respondo.
Emma Swan
Preciso admitir que jamais pensei que um banho gelado, ainda mais naquela hora da madrugada e em excelente companhia, poderia me deixar mais leve. Pensando bem, era assim que eu me sentia com Regina, em qualquer ocasião. O mar era mais pretexto do que a causa. E às vezes são nesses pretextos da vida em que o sorriso fica frouxo e o mundo parece girar em sintonia conosco. Regina bateu os braços na água, parecia uma criança descobrindo o dileto prazer de se divertir com coisas tão simples.
Não me afastei dela em nenhum instante, deixei que se divertisse e se jogasse contra as ondas e mergulhasse, mas sempre atenta a qualquer coisa.
— Agora já chega, você vai ficar gripada. Tive de arrastá-la para fora do mar, senão ela ficaria até o dia amanhecer.
— Mas eu quero mais! Ela fez um bico.
— Vamos voltar quando o clima estiver mais agradável e os riscos de pegar uma gripe sejam quase nulas.
— Promete? Ela me estendeu o dedo mindinho.
— O que é isso?
— Ah, você nunca jurou com o dedo mindinho? Fiz que não.
— Promessas muito sérias são feitas com o dedo mindinho. Não podem ser quebradas. Ela disse, séria. Mas não sei dizer se o álcool já tinha feito efeito. E também por isso minha preocupação de deixá-la no mar, ou se ela só estava fingindo que o álcool não tinha feito efeito.
— Por que nunca assinaram a paz mundial com o dedo mindinho então? Coço o queixo.
— Pois é, coisas tão simples podem ser extremamente eficazes. Vai ver a paz mundial nunca chegou porque ninguém quis fazer promessa com o dedo mindinho. Ela insistiu com o dedo em minha direção, quase na minha cara. Entrelacei nossos dedos sem demora e a levei para longe da água.
— Você foi bem corajosa em abrir a sua vida para mim, assim. Revelando os seus segredos...
— O que quer dizer? Passei as mãos pelo cabelo com força para tirar o excesso da umidade.
— O Henry... o fato de ser tão rica... e querer me ajudar nisso. Sinto como se não estivesse em um jogo, pela primeira vez na vida.
— Um jogo?
— É. Cheio de segredos e mentiras, sabe? Tipo: não faça redes sociais porque só pessoas desocupadas estão nela... Ela claramente estava se referindo a Robin .
— E não venha à praia sem mim... e... lá está o Night Light. Tipo, será que ele não queria que eu viesse à praia para não correr o risco de eu vê-lo por aqui? Cruzei os braços e me mantive em silêncio, enquanto caminhava ao lado dela.
— E... você precisa de sonhos maiores... cozinhar para gente poderosa não te torna importante... Ela fez um bico e cruzou os braços também.
— Eu meio que me esgotei nessa relação. Eu não podia fazer muitas coisas sem que ele me desse o aval ou sinal de que isso faria bem a nós dois. Mas só eu estava pensando em nós dois... não havia nós dois.
— Aham.
— Você não se sente mal quando falo dele? Ela parou e não saiu do lugar até que nossos olhos se encontrassem.
— Não.
— Sério?
— Regina, não me importa o quanto você fale desse cara. No fim do dia, eu que te trouxe à praia, pela primeira vez. Eu não estou competindo com o Robin. Me calo antes que fale qualquer besteira.
— Mas ele se importava... por tudo... se eu falasse de outras pessoas... e se eu pensasse em outras pessoas, ou ir à lugares que ele não queria que eu fosse... Por que continuo tão vidrada nele, Emma?
Suspirei. Chamei-a com as minhas e me sentei na areia, coloquei-a sentada entre minhas pernas.
— Vejamos... por onde podemos começar... Massageei seus ombros de leve.
— O luto que é o sentimento profundo de perda, tem diversos estágios.
— Mas ele não está morto. Ela contrapôs.
— Mas você o perdeu, Regina. Sei que é triste dizer isso e pode machucar, mas chegou a hora de dizer.
— E esse sentimento de perda é o luto. E o luto tem muitos estágios. Um deles é a negação e você está em negação.
— Eu não estou...
— Está tudo bem. A abracei com sutileza, mas deixei o abraço mais forte com o tempo.
— Eu te garanto, está tudo bem. Algo em você não consegue admitir que o perdeu. Uma parte sua quer recuperá-lo. Outra parte quer destruí-lo. Uma parte quer só chorar e comer besteiras até perder
a noção do tempo. Mas há uma parte, aí dentro, em algum lugar, que quer se reconstruir.
— Quantas partes as pessoas têm? Ela ri.
— As melhores pessoas, muitas. E tudo bem estar em conflito consigo mesma... tudo bem amá-lo e odiá-lo... tudo bem precisar do seu tempo para se recuperar e colocar a vida em ordem.
— Sim... Ela lamenta.
— Não foram cinco dias ou cinco meses. Foram mais de cinco anos.
— Sim.
— Ele deixou raízes profundas em você. E agora algo dentro de você está tentando descobrir se arranca as raízes... as deixa crescer... ou se acaba com só metade delas. Regina ficou em silêncio por alguns segundos, mas suspirou dizendo:
— Você entende muito de luto.
— Eu entendo muito sobre perder. Eu perdi muitas coisas em minha vida, mas quer saber? Eu tenho um segredo para te contar. Não é nada sobre jogos de sedução.
— Diga.
— Todo encontro é, de certa forma, um presente. E também, uma troca. Quando Robin entrou em sua vida, você absorveu coisas dele que te prepararam para ser essa mulher de hoje.
— Frágil emocionalmente e louca por vingança?Aperto meus braços um pouco mais em seu corpo.
— Também. Mas a Regina que bebeu um pouco do veneno e sobreviveu. Mesmo quando ele desdenhou dos seus sonhos, você foi lá e construiu a Sweet Show. E quando ele te disse que você não deveria ir a determinados lugares, você foi leal ao pedido dele, embora esse comportamento vindo de alguém é inaceitável. E você, no fim de tudo, encontrou forças para lutar.
— Você tem um olhar bem positivo da vida, né?
Rimos juntas.
— Você nunca mais vai ser a Regina Mills de antes do Robin . E nunca mais vai ser a Regina Mills durante o Robin . Agora você é uma desconhecida para si mesma. Precisa reaprender seus gostos, suas taras, suas vontades e incertezas. E está tudo bem, ok?
— Eu já não sou adolescente, Emma.
— Não importa. Qualquer hora é a hora de reaprender sobre si. Aos trinta, quarenta, sessenta ou oitenta. Sabe o que eu aprendi com a vida?
— O quê? Senhora dos segredos.
— Toda relação é um contrato.
— Poxa, agora sim eu enxerguei a CEO em você. Ela riu.
— E todo contrato tem regras. Mas com o tempo os contratos precisam ser revistos. Digamos, por exemplo, um namoro. Um namoro é um contrato social. E ele têm regras. Mas às vezes, depois de três meses, aquele contrato precisa ser atualizado.
— Como assim?
— Porque conforme as pessoas vão se conhecendo, elas precisam ampliar e encurtar limites entre elas. Quando eu aprendo mais sobre você, eu sei o que quero de você agora e o que não quero também. E daqui seis meses, talvez seja o contrário. Talvez eu queira aquele seu lado que eu nunca tive e deixemos o outro para lá.
— Tá, continue...
— Viver consigo mesmo é um contrato vitalício. E esse contrato precisa ser atualizado sempre. Quem eu sou agora? Quem eu quero ser daqui três meses? E daqui seis? Quem eu quero ser daqui trinta anos? O que eu amo em mim agora? O que devo desenvolver em mim? Regina pende a cabeça para trás e assim vamos deitando lentamente, deixando que o céu noturno iluminado por estrelas seja a nossa atração principal.
— Você e Robin não renovaram o contrato por muito tempo e ele se tornou desgastante para vocês dois. Mas você não pode permitir que o contrato consigo mesma se desgaste. Você é tudo o que tem. E por isso esse contrato precisa valer à pena.
— E agora eu sou só uma louca em busca de vingança porque não consegue aceitar que foi superada.
— E está tudo bem com isso. Passo as mãos por seus braços ao perceber que ela sente frio.
— Talvez esse momento seja o momento crucial para você descobrir a nova Regina. E renovar o contrato consigo mesma, para seguir para o futuro.
— Obrigada, Emma.
— Não precisa agradecer. Essas eram as palavras que eu queria que alguém tivesse dito para mim, quando meu mundo caiu. Eu também perdi tudo, mas ganhei o Henry. E tive de reaprender quem eu era e quem eu queria ser após ter tudo que eu ajudei a construir tomado de minhas mãos. Regina e eu não éramos tão diferentes nesse aspecto. Eu também demorei para aceitar o luto e tive alguma ajuda pelo caminho. Agora era a minha vez de ajudar alguém.
— O céu é muito bonito aqui . Ela suspira, a voz sonolenta. A afago em meus braços e encosto o queixo ao lado de seu rosto.
— O céu é bonito em qualquer lugar, desde que você consiga enxergar beleza nele.
— Você é bem filosófica... A voz dela vai diminuindo.
— É que nós não vemos o mundo como ele é, pequena. Nós vemos o mundo como nós somos.

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Show de vizinha
HumorRegina Mills sempre corre atrás do que quer. Ela batalhou muito para ter a sua pequena agência de eventos em Miami e um relacionamento de dez anos com Robin Hood, coisas das quais ela se orgulha muito. Até que após um incrível final de semana com se...