Regina Mills
Belle e Zelena quase pulam em cima de mim quando retorno para casa. Tudo o que eu faço, entretanto é abaixar a cabeça e seguir o meu caminho de volta para casa.
— E aí? O que a vizinha delícia disse da sua proposta? Zel gruda em meu braço. Belle fica do outro lado e me acompanha.
— Não quero falar sobre isso. Respondo.
— Ah, Regina, desembucha! Não pode ter sido tão ruim!
— Foi. Digo desanimada e ainda assim elas não desgrudam de mim.
— Você ofereceu quanto dinheiro a ela? Não é possível que ela tenha se negado! Zel começa a levantar o tom de voz, mostrando sua indignação.
— Quem ela pensa que é? Só porque ela é bonitona acha que pode se sentir superior?
— Acho que pode. Belle murmura, sem graça.
— O não eu já tinha, meninas. Eu fui buscar a humilhação. Lamento e recebo o abraço das duas.
—Esqueçam esse plano idiota de destruir o casamento do Robin. Choramingo. A indignação de Zelena rapidamente se esvai e agora ela transparece empatia com os grandes olhos. Me abraça com força e não para de repetir que vai ficar tudo bem.
— Eu só preciso aceitar que não era amor. Ele estava me usando, se aproveitando de mim. E ainda riu da minha cara ao tentar nos contratar para servi-lo feito um rei no casamento. Deixem isso para lá. Amanhã eu retorno ao trabalho e deixo isso para trás.
— Amiga, você parece muito derrotada. Nunca te vi assim. Belle segura em minha mão e me abraça forte também.
— Leve o tempo que precisar para se recuperar, flor. Vamos segurar as pontas por você, sim?
— Tudo bem. Vou me esforçar.
— Mas o que a gostosona disse? Ela te xingou? Te tratou mal? Respiro fundo e fecho os olhos.
— Não, não... foi bem pior... Um dia depois
Emma Swan
Confiro a temperatura da água com o termômetro e volto a assistir Ruby Lucas, uma das minhas melhores amigas, se desmanchar de tanto rir. A mulher simplesmente não consegue manter a compostura, está se divertindo como nunca vi.
— Você é a minha heroína. Ela faz uma reverência bem demorada.
—Você é o bicho! Ela termina a frase me aplaudindo. Escoro-me na bancada e cruzo os braços. Ergo a cabeça em algum momento só para conferir se a vizinha está bem.
— Que cara é essa, Emma? Qual é a sua próxima vítima? A vizinha? Ruby tenta dizer entre as risadas.
— Ah, a vizinha é bem simpática, veio aqui ontem, até me ajudou a levar o lixo para fora. Ergo a sobrancelha e espero algum sinal dentro da casa, mas parece que não tem ninguém lá.
— Ela veio por algum motivo, mas quando estávamos indo tirar o lixo...
— O quê? O que houve? Ela diz impaciente após alguns segundos de silêncio.
— Ela não enxergou a cerca e tropeçou. Ainda bem que a sacola de lixo amorteceu a queda, senão ela iria se ferir.
— Caralho...
— É. Eu a peguei no colo e a trouxe até a varanda e pedi um segundo para pegar uns lenços umedecidos para limpá-la, porque ela ficou com um cheiro estranho... e eu não queria deixá-la entrar para não incomodar o Henry, você sabe como ele fica nervoso quando se depara com pessoas novas...
Ruby concorda de imediato e aponta para o fogão. Retorno a ele e meço a temperatura e dessa vez está ideal, do jeito que o Henry gosta.
—... quando retornei para a porta, ela já não estava lá. Estou realmente preocupada com ela e vou lá conferir se ela não se machucou. Só não fui ontem porque precisava passar um tempo com o meu pequeno.
— Você é a mãe do ano, minha amiga. Ruby limpa as lágrimas de tantas risadas e recupera a compostura.
— E o pior filha do ano também. Eu quero ver a cara do seu pai quando ele descobrir que você literalmente fodeu com...
— Sh! A repreendo com o olhar.
— Não use esse palavreado aqui em casa, não quero meu filho escutando isso. Ruby levanta as mãos em sinal de que foi pega em um delito e isso não vai se repetir.
— Vou ver se ele está lá em cima, já volto. Chamo por Henry por toda a extensão da mansão, mas ele não se encontra em lugar algum. Não está em nenhum dos quartos, na biblioteca, sua sala de brinquedos ou em qualquer outro cômodo.
— Cadê o meu sobrinho? Vejo Ruby preparando o achocolatado de Henry, quando volto à cozinha. — Isso aqui vai esfriar e ele só toma se estiver na temperatura certa. Lanço um olhar que diz “eu, mais do que ninguém, sei disso” e olho pelas janelas para procurá-lo pelo jardim da parte interna.
— Você deixou alguma porta aberta? Saio marchando para o hall de entrada, confiro todas as janelas e por fim vou para o lado de fora. Henry não está em canto algum.
— Cadê ele? Ruby traz a xícara marrom, enfeitada com antenas olhos.
— Isso vai esfriar.
— Esqueça essa merda! Eu preciso achar o meu filho! Corro em direção à rua e começo a procurá-lo por todos os cantos.
Regina Mills
Eu já estava pronta para ir ao escritório e colocar a vida em dia. Estava porque quando abri a porta dei de cara com um garotinho que não deveria ter mais de cinco anos. Cabelos castanhos, olhos verdes bem grandes e o rosto um tanto que familiar...
— Se você está vendendo biscoitos, eu não... Digo no automático, mas ele não me escuta. Ele ajeita o que parece um grande fone de ouvido, que praticamente cobre suas orelhas e as laterais do seu rosto e segura uma lupa com a mão direita. Invade a minha casa sem cerimônia e sai andando como se tivesse certeza do que está fazendo.
— Ei! Quem é você? Você não sabe que é proibido invadir propriedade privada? Assisto, abobalhada, o garotinho andar curvado para frente com a lupa bem defronte ao rosto. Ele simplesmente para em algum lugar da cozinha.
— Mas essa agora, meu Deus... Mantenho a porta aberta e vou em sua direção, ainda sem entender o que está acontecendo.
— Quem é você? Qual o seu nome? Onde estão os seus pais? Você não sabe que entrar na casa de desconhecidos sem pedir permissão é feio? O garotinho levanta o rosto em minha direção, a lupa aumenta um de seus olhos. Em seguida, como se não soubéssemos falar a mesma língua ou como se simplesmente ele não tivesse dado a mínima para nada do que eu disse, ele voltou a se curvar.
— Você é o quê? Da vigilância sanitária? Vai ficar olhando para o meu... Paro imediatamente de falar e reparo no açúcar! No maldito açúcar que eu derrubei, junto com o pote! Ao notar os cacos de vidro no chão, imediatamente pego o garotinho no colo. Ele se debate em meus braços e começa a emitir ruídos estranhos. Sento-o no sofá e o fico no campo visual da criança para conversar com ele.
— Você pode se cortar. Eu vou limpar aquela sujeira e... Paro de falar quando ele deixa a lupa em frente à minha boca. Ok, isso está sendo um pouco estranho, até mesmo para mim que na noite anterior ia pedir pra vizinha, que eu não conheço, ir destruir um casamento comigo.
—... bem... fique aqui, não quero que se machuque. Onde estão os pais desse menino? Olho ao redor, preocupada.
— Fomigas. O garotinho diz. Ah! Ele sabe falar!
— O que você disse? Me agacho. Na esperança de que ele diga o nome do pai ou da mãe para que eu saia gritando a plenos pulmões na rua.
— Fomigas. Ele coloca a lupa em frente ao olho verde que, já não bastasse ser grande o suficiente, fica rico em detalhes na lente.
— “Fomigas”? Pergunto, sem entender bem o que ele quer dizer. O pequenininho põe os pés no chão e sai saltitando até a cozinha, onde o açúcar está espalhado pelo chão. Corro para tirá-lo de lá, tudo o que eu menos preciso nesse momento é uma criança ferida.
— Ah! Ao olhar para onde ele aponta o dedo eu entendo o que ele quis dizer.
— Formigas! Ponto também e olho para ele. O pequeno levanta o rosto para mim.
— Fomigas Ele diz e faz menção de se abaixar.
— Não, não, não! Eu o impeço.
— Espere, eu preciso limpar o chão! Você pode se cortar com os cacos de vidro, não quero que se
machuque!
— Fomigas. Ele contrapõe. Tudo bem, excelente argumento, uma retórica realmente invejável.
Balanço a cabeça com certa sutileza de uma manada de elefantes correndo para cima de um jacaré e corro para buscar pá e vassoura para tirar os cacos dali. O menino me assiste, quieto. Volta a fazer alguns barulhos como se estivesse muito irritado quando percebe que ao tirar os cacos, também estou
retirando parte das formigas. Mas o que ele quer? Que eu as deixe ali para sempre?
— Tá bom! Tá bom, olha só... Vou tirando os pedaços de vidro um a um da pá e devolvo o açúcar e as tão amadas fomigas ao chão. Ele para o que está fazendo e aponta a lupa para os pequenos insetos
e parece se distrair. Que hobbie estranho esse garotinho tem... Termino de limpar os estilhaços do pote de vidro e não termino essa simples tarefa sem me cortar. Não sei se fiquei distraída vendo o menininho observar o trajeto dos insetos, no quanto ele parecia fofo e ao mesmo tempo distante de mim, não respondia ao que eu perguntava, não falava outra coisa além de “fomigas” ...
— Você não vai mesmo me dizer...? Antes de terminar a frase fui interrompida. Meu coração quase saiu pela boca e eu comecei a tremer. Uma mulher estranha entrou pela porta da minha casa e avançou até parte da sala, onde me viu de cócoras com o menino. Imediatamente eu o puxei para os meus braços como se pudesse protegê-lo. Por que eu não liguei para a polícia, meu Deus? Parece que todo mundo decidiu invadir minha casa hoje...
— Eu achei! A mulher volta para a rua e grita para alguém. Alguns segundos depois eu caio sentada no chão com o menino em meu colo. Isso só pode ser brincadeira...
— Oi vizinha. Emma abre o melhor dos sorrisos. Ela está suada e visivelmente agitada. Seu cheiro, mesmo nessas condições, é refrescante, perfuma toda a minha casa e parece que o pequeno sente também. Ele vira o rosto e aponta a lupa para a grandona.
— Fomigas. O pequeno diz. Emma olha de soslaio para a outra mulher que invadiu minha casa agora há pouco e ela vem bem devagar, faz um sinal com as mãos para que eu fique tranquila. Ela se ajoelha e assiste o menininho segurar em meu braço enquanto se curva para o chão e acompanha o trajeto das formigas.
— Filho. Emma o chama. Filho? Ela é a mãe do garoto? Tudo bem, há uma semelhança inegável, mas eu nunca imaginei que essa delícia ia ter um filho...
— Henry? Ela o chama mais uma vez, agora pelo nome. Henry afasta sutilmente os fones de ouvido, que agora mais parecem abafadores de ouvido e se vira para a mãe.
— O que a mamãe já te falou sobre sair de casa sem avisar?
— Não pode? A pequena pergunta de um jeito manhoso. Não sei a mãe, mas eu estou com vontade de apertar as bochechas dessa criança e não o soltar nunca mais dos meus braços.
— Não pode. A mamãe ficou preocupada. A mamãe te procurou por todos os lugares e não te encontrou. A mamãe achou que tinha perdido você. Mordisco o lábio inferior ao ouvir tudo isso. Ela não é só uma vizinha gostosona, é uma mulher bacana e que parece se importar com a criança. Ao observar seu estado, presumo que ela correu uma ou duas maratonas para ter chegado aqui.
— Fomigas. O menino usa de retórica. Quem é Aristóteles comparado ao grande Henry das Fomigas? Gênio da refutação, esse menino. Um prodígio.
— Filho, a mamãe...
— As fomigas vão voltar para casa. E eu vou voltar também, mamãe. Mas com elas. Ele diz a última parte e sai do meu colo, mas continua segurando a minha mão. Eu não entendo nada, só acompanho Henry voltar a examinar os insetos, parece que eles são realmente muito importantes para ele e por
mim, tudo bem. Principalmente agora que minha casa toda está com o cheiro dessa mulher suada e ela... Viro o rosto sutilmente e por reflexo quase o afasto. Mas me esforço para permanecer do jeito que estou. Sinto a respiração forte de Emma em meu rosto, nossos lábios estão a poucos centímetros um do outro. Ela ergue as sobrancelhas e sorri como se não tivesse controle da situação do filho. E eu não tenho controle do meu coração que bate mais forte do que nunca.
— Eu peço desculpas pelo Henry. Se ele derrubou ou destruiu alguma coisa, eu pago.
— Ele não destruiu nada, só está fissurado no caminho que as formigas fizeram de algum lugar até aqui. Emma ri. E gostaria de ressaltar que ela faz tudo isso a poucos centímetros da minha boca. Um ímã invisível parece me puxar para ela. Sua boca carnuda tão perto da minha me deixa sem conseguir raciocinar, e eu só espero por ser puxada e beijada.
— Me desculpe por ontem... eu fiquei envergonhada e... Conforme meus lábios se mexem até me dão a sensação de que encostam nos dela. E sabe o que essa cafajeste deliciosa faz? Ela sorri.
— Fiquei preocupada com você. Ela meneia a cabeça para o lado e assiste o filho.
— O Henry nunca conversa com estranhos. Estou surpresa que ele ainda esteja segurando a sua mão. Ele realmente odeia qualquer contato humano.
— Meu Deus! Nessa idade e já é antissocial? Fico tentada a virar o rosto, mas prefiro assim. Com o pescoço dela bem diante de mim e seu cheiro me eriçando. Emma ri gostosamente e se vira de volta para mim. Nossos narizes se tocam com força e nem ela, nem eu fazemos menção de nos afastar. Nossas respirações quentes se encontram e sorrimos praticamente juntas.
— O Henry é autista. Emma diz.
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Show de vizinha
HumorRegina Mills sempre corre atrás do que quer. Ela batalhou muito para ter a sua pequena agência de eventos em Miami e um relacionamento de dez anos com Robin Hood, coisas das quais ela se orgulha muito. Até que após um incrível final de semana com se...