Regina Mills
Lá está ela. Mais uma vítima acaba de sair do seu matadouro. A vizinha delícia abre um sorriso encantador, de fazer a respiração parar. Ela escora o corpo na porta da mansão e acena para a coroa que entra no carro do ano e se atrapalha toda para dar a partida. Eu também me atrapalharia. Para provocar, ela abre um pouco o roupão azul marinho, mostrando aqueles peitos firmes e cheios, já consigo imaginar o cheiro daquela pele bronzeada e untada no óleo. Que cafajeste! Continua a sorrir feito o diabo, desce um pouco mais o roupão para mostrar o abdômen trincado, essa mulher sabe que é a perdição. E eu quero me perder naqueles braços até minha foto aparecer nos “desaparecidos”.
Assisto a sortuda tentar colocar a chave no carro duas, três, quatro vezes, todas em vão. Ela abaixa os óculos escuros, respira fundo, aparentemente de pernas bambas e enfim consegue dar a partida, o carro começa a se mover. A vizinha sobe todo o roupão, cobre bem aquele tanquinho, os braços torneados e parte do peitoral e dá meia volta para entrar. Antes de fazê-lo, porém, nossos olhos se encontram. Ela, a desinibida, gostosona, tatuada e eu com uma xícara de café, toda babada e desconcertada assistindo aquela obra de arte respirar. O sorriso dela me faz sorrir. Acabo tentando engolir o café e nessa simples ação eu engasgo, cuspo no vidro da janela o líquido escuro e começo a tossir feito uma louca.
— Pronto, agora ela se afoga até no café! Zel reclama, abaixa o tablet onde a página inicial do New York Times apresenta as notícias do dia e se levanta para vir me ajudar. Zel ainda é capaz de ver a vizinha curiosa e preocupada de longe, sua sobrancelha grossa levantada, ela tenta espiar o que houve, mas eu puxo as cortinas da janela.
— O que foi agora?
— Ela é bonita demais para mim. Choramingo.
— Isso aí, Regina Maria! Autoestima antes do fim de semana começar é t-u-d-o!
— Para de me chamar de Regina Maria, só a minha mãe me chama assim. Faço um bico. Coloco a xícara de café em cima da pia e pego um pano para limpar a bagunça.
— Ah, vocês formam um belo par. O importante é chegar lá, fazer ciúmes no Robin e pronto.
— Mas como eu chego nela, amiga? O que eu digo? Não sei nem o nome da nossa vizinha! O olhar que Zelena me dirige mostra que ela não está em um bom dia para aguentar meus surtos.
— Olá, tudo bem? Ela diz toda sensual e atrevida, move os ombros enquanto se aproxima de mim. — Eu me chamo Regina, sou a sua vizinha. Como trabalho bastante, nunca te vi por aqui. Posso entrar? Trouxe esses biscoitos maravilhosos. Eles são deliciosos. Ficam ainda mais se você os comer em cima de mim. Ela balança os peitos enquanto se aproxima o suficiente para me deixar em estado de choque.
— Pega esses biscoitinhos, vai... Ela continua a balançar os peitos.
— Ok, chega. Você deveria ser roteirista de pornô e não minha sócia.
— Sou multitalentos, flor. Zel gira o corpo e joga os cabelos na minha cara.
— Vou focar no dinheiro. Olá, preciso de uma namoradinha de mentira para fazer ciúmes no canalha do meu ex que me iludiu, me prometeu o mundo e mentiu para mim e vai se casar em breve. Que tal dez mil dólares para passar uma semana comigo e infernizar esse desgraçado?
— Dez mil dólares? Zel levanta a sobrancelha.
— Dez mil dólares, devolvo. Está muito alto? Exagerei?
— Amiga, olha bem para aquela mulher! Ela se levanta, quase traz a mesa, a garrafa de café e a cesta de frutas junto. Escancara a cortina. Vemos a delícia cremosa só de short e top no jardim. Ok, o abdômen é lindo, mas foquemos naquelas coxas e pernas. Essa não é uma mulher corneto que vai afinando cada vez que seu olhar desce... essa mulher foi esculpida, de verdade. Pernas firmes, coxas grossas, a bunda toda empinada e o volume na calça meio que atrai a atenção de imediato; e a cada segundo que ela para numa pose, parece exalar poder. Ela ri bobamente, o sorriso mais lindo do mundo. Os olhos se curvam numa felicidade plena, as covinhas no rosto ficam aparentes mesmo de longe, me sinto até entusiasmada só de ver.
— Essa mulher deve cobrar cinco mil dólares a diária, sua louca. Dez mil dólares? No máximo ela passa dois dias contigo! Zel tenta voltar para a mesa, mas sua atenção fica ali com aquele show de vizinha. Fecho a cortina de forma ríspida e a encaro.
— Então vamos ter que cobrar muito mais caro para fazer o buffet desse casamento. Empino o nariz. — Na carta ele diz que seria bacana chegarmos antes e prepararmos refeições para os convidados que forem chegando durante a semana... quanto acha que deveríamos cobrar?
— Olha, Regina, eu sei que você pediu para eu não buscar muito a fundo nessa história, mas... Reviro os olhos. Merda. Ela vai dizer algo que vai me deixar insegura, eu sei.
— Robin vai se casar com uma mulher cuja família é bilionária. Dona de uma empresa poderosíssima. E ela é linda, pronto falei. Viu? Eu sabia! Eu sabia! Antes que eu comece a surtar e volte para o quarto para passar o dia inteiro com o pote de sorvete, bolachas recheadas e pizza, Zel se levanta, me agarra pelos ombros e faz aquela expressão que é o prenúncio do tapa na cara.
— A boa notícia é que podemos pedir um valor bem alto. E com a sua porcentagem você paga a sua acompanhante. Ela levanta as sobrancelhas de modo sinuoso. E depois me diz o quanto ela cobra.
— Certo. Digo completamente aérea.
— Agora vai.
— Vai? O quê? Pouso no chão e já fico em estado de alerta.
— Vai lá fazer a proposta para a vizinha! Anda! Quanto antes você resolver isso, você retorna ao trabalho!
— Mas, Zel...
— Você está há cinco dias espionando-a. Cinco dias. Quantas mulheres diferentes você viu sair daquela casa? Ela inquire.
— Nove.
Zel faz uma expressão que diz: não preciso dizer mais nada. Ainda assim, ela completa:
— Já sabemos que ela é muito requisitada! Então corre e vá marcar uma semana na agenda dela e tente barganhar o melhor valor!
— Eu preciso tomar um banho. Olho de um lado para o outro e tento me lembrar onde é o banheiro, onde ficam as escadas, onde é o meu quarto. Nesse frenesi todo, derrubo o pote de açúcar no chão e dou um tapa no meu rosto.
— Pode deixar aí, depois eu limpo isso, eu juro! Digo sem ar e começo a andar de um lado para o outro.
— Meu Deus! Não fico tão nervosa desde que Robin me chamou para sair pela primeira vez!
— Rápido, amiga! Depois da Sweet Show, esse é o melhor investimento que você já fez na vida! Zel ri nas minhas costas.
*
Tomo o meu banho de modo caprichado, arrumo bem os cabelos para dar-lhes volume e passo uma maquiagem bem neutra. Fico meia hora tentando decidir a roupa que usarei, mas Belle e Zel quase arrombam a porta do meu quarto. Então na pressão, coloco uma saia preta acima do joelho e uma blusa amarela que consegue modelar o meu corpo, deixando a comissão de frente ressaltada e a cintura modelada.
— E aí? Saio do quarto esbaforida. Parece que corri uma maratona lá dentro, mas foi só a pressão, ansiedade e nervosismo.
— Parece uma colegial virgem que vai seduzir o professor gostosão. Adorei, vai lá fisgar a gata! Belle fecha os punhos e faz sinal de comemoração.
— É... boa sorte... e cuidado para essa saia não lentar tanto, senão...Zel me lança um olhar acusatório.
— Ok. Respiro fundo, termino de amarrar o cadarço do all stars e coloco a mão na maçaneta da porta.
— Talvez não seja uma ideia tão boa assim. Desisto e corro para as escadas.
— Ah, agora você vai! Zel vem em meu encalço e me impede de fugir.
— Eu também quero ver! Vamos! Tá na hora de parar de ser a Regina chorona e ser a Regina guerreira que vai deixar o Robin enciumado e arrependido de ter te trocado! —Belle rosna. Ok, agora estou um pouco mais confiante. De cabeça abaixada volto para a porta de entrada da casa.
— Mas e se ela...?
— Vai! As duas me empurram e fecham a porta na minha cara.
— Só pense nos dias que vai ficar sem andar depois de uma noite feliz! Elas dizem às gargalhadas.
— Meu Deus! Suspiro.
Olho para o céu que anuncia o ocaso e passo as mãos pelos braços. Agora essa blusa parece muito menor do que deveria e a saia me deixa atormentada, pensando que qualquer ventinho seria capaz de me envergonhar. Normalmente eu vou para a academia com saias assim, mas pelo menos coloco um shortinho embaixo. Agora não. Estou só de calcinha e saia, e de fato, não consigo pensar em outra coisa, senão que pareço uma adolescente entrando na universidade e tentando seduzir o professor
gostosão. Quando menos percebo, já estou diante da mansão dela. Não há muros, apenas uma cerca branca da altura da minha cintura e a frente toda gramada, muitos vasos, com plantas, flores e terra. Alguns buracos no chão também. Entro, vou até o arco majestoso da frente da casa dela e antes de
tocar a campainha o meu dedo treme. Eu deveria? Estou muito tensa. Não sinto essa sensação desde que Robin correspondeu aos meus interesses e me deu o primeiro beijo. É gostoso, mas é estranho. Esse frio na barriga, essa sensação de medo e excitação... pensei que deixaria isso para trás quando fosse adulta, mas pelo visto, é algo inerente da situação. Eu quero muito..., mas não sei se devo...
Respiro fundo e rio da minha própria loucura. Que ideia maluca! Melhor deixar para lá! Desisto de tocar a campainha e me viro para ir embora. Nesse simples movimento, ouço o som da porta de madeira se abrir. Em seguida ouço os passos dela. Viro-me para vê-la, buscando uma boa desculpa para estar ali e nisso ela avança, sem me ver, pois está olhando para dentro da casa e esbarra em mim.
Solto um grito e me agarro com força, as duas mãos no braço dela. A vizinha gostosa, e muito gentil, diga-se de passagem, larga o saco preto no chão, limpa a mão na calça jeans e me puxa pela cintura para que eu fique de pé. Mas não sei se é pela força dela ou pela minha leveza – ou talvez pelo magnetismo, quem sabe, não é? –, eu me jogo nos braços dela. Que delícia. A mulher não é só uma gostosa, ela cheira bem. O perfume é quente e leva meu coração à mil. Sinto tudo em mim se aquecer: as maçãs do rosto, o pescoço, os seios, entre as pernas... até o cérebro ferve dentro da cabeça.
— Opa! Ela me abraça contra o corpo e ri, abaixa o rosto e encosta o queixo no topo da minha cabeça. Que encaixe, senhoras e senhores. Que encaixe. Se eu sentar nessa mulher, nem o rei Arthur me tira dela! Se o ditado é verdadeiro e toda a panela tem a sua tampa, eu quero essa tampa aqui.
Ela me envolve por horas, é o que sinto. Mas na verdade não passa de dois segundos, no máximo.
Então me afasto, desengonçada e rindo de nervoso.
— Oi! Passo a mão pelo cabelo e o jogo para trás, pisco os olhos mais do que alguém sem derrame faria.
— Oi! Ela diz. Pronto, pago cem mil. É cem mil que você quer para me levar às nuvens? É cem mil que vou colocar na sua conta, docinho.
— Desculpa, eu estava meio distraída e não te vi. Ela cruza os braços e sorri. A cor da pele dela, bronzeada assim, é uma tentação. Ela dever ir muito à praia, talvez seja até surfista, por esse corpo tão bem trabalhado. Mesmo as roupas não conseguem esconder os músculos, o porte e, claro, a postura. Essa mulher tem cara de que não vale um dólar. E eu aqui, louca, quero oferecer cem mil.
— Tudo bem. Tento não rir de nervoso.
— Eu sou Regina, sua vizinha. Aponto para a casa ao lado. Ela ergue a sobrancelha, olha na direção da minha casa e assente. Parece que me reconheceu. Pelo olhar que me direciona e o sorriso sacana, deve estar se lembrando da cena do café cuspido na janela. Meu Deus, que vergonha.
— É claro. Ela diz.
— Emma. Ela estende a mão e eu a aperto sem pensar duas vezes.
— Sua vizinha. Ao seu dispor. Que mão. Que aperto. Que firmeza. Eu disse anteriormente que fiquei aquecida? Aquecida não é bem a palavra. Pegando fogo pode chegar perto do que estou sentindo. As minhas orelhas queimam, a respiração fica entrecortada e eu levo a outra mão para massagear o dorso da dela. Por um segundo não consigo desvencilhar o pensamento dessa mão tão firme me fazendo uma massagem nas costas... quem sabe dando uns tapas em minha bunda? Ou até mesmo apertando o meu pesco...
— Regina?
— Sim?! Pisco os olhos. Ela sorri, mostrando aqueles caninos afiados, os dentes bem
enfileirados e branquinhos. Os lábios grossos formam um sorriso convidativo. Será que já podemos pular para a parte das apresentações e ela pegar no meu peito? Porque se eu continuar aqui mais um minuto eu aperto o dela. E ainda o beijo na boca.
— Conte-me a honra de recebê-la aqui em casa; Emma diz. Ela tem ar de mulher de negócios, ocupada e requisitada, tem postura séria, porte de fêmea alfa. Mas é tão leve no modo que fala e me
encara, parece descontraída e cheio de vida! Não consigo ficar sem sorrir e mexer no cabelo.
— Então... eu... hum... queria saber quanto você cobra? Ela fica interessada. Levanta a sobrancelha e entreabre os lábios.
— Para me deixar de atestado médico. Solto. Ela sorri de um jeito sacana e aponta o indicador para mim.
— Mas eu não sou médica. Emma contrapõe.
— Não, não é isso, você não é a médica, você vai me deixar... não, espera... Me curvo e seguro nos joelhos enquanto respiro e tento parar de rir.
— Espera... preciso de um segundo para organizar os pensamentos.
— Tudo bem. Ela diz de imediato.
— Vou levar o lixo para fora, enquanto me acompanha, você pode organizar seus pensamentos. Ela diz e fecha a porta da casa. Hum... pelo visto não tenho permissão para entrar em seu mundo proibido, não é, Emma?
— Certo, eu te ajudo. Pego uma das sacolas pretas no chão e a acompanho.
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Show de vizinha
HumorRegina Mills sempre corre atrás do que quer. Ela batalhou muito para ter a sua pequena agência de eventos em Miami e um relacionamento de dez anos com Robin Hood, coisas das quais ela se orgulha muito. Até que após um incrível final de semana com se...