cap 20

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Regina Mills
Esse é um daqueles momentos maravilhosos em que me sinto, finalmente, em Game of Thrones. Só não estou com a taça de vinho em mãos para fazer tudo explodir aos ares; ou, quem sabe, ter um momento Quentin Tarantino. Longos diálogos para anteceder a porradaria. A minha vontade é arrancar duas espadas gigantescas das costas e quebrar aquela xícara de forma bem dramática, subir na mesa e dizer: “Já estava na hora de nos encontrarmos, Robin ”. Se no fundo tocasse uma música de velho oeste, seria o suprassumo! “Eu senti a sua falta, Regina” era o que ele diria, certamente. “Pois eu estou aqui, baby. Todinha para você” seria minha frase final. Com duas espadas em mãos, explodindo uma catedral inteira, tomando meus bons drinks e assistindo as amigas da noiva e os velhotes ricos correndo de um lado para o outro em desespero. Mas esse momento maravilhoso fica para outro instante.
— Espero que agora esteja do seu agrado. Olho Robin  com firmeza. Não tenho mais tempo de abaixar a cabeça e expor meus olhos tristes. Eu estou pronta para ser o vendaval nesse coração.
Está... Ele pisca os olhos, está claramente mais branco do que o normal.
— Estava impecável. Elsa, a noiva, diz. Só então a vejo. Trocamos sorrisos bastante sinceros.
— O Robin  que é muito exigente e quer pegar no pé das suas cozinheiras, para que tudo saia perfeito para o nosso casamento. Ela enche a boca para dizer e o abraça pelo ombro. Constrangido? Por falta de palavra melhor, digamos que Robin está assim, constrangido. E mijando nas calças, é óbvio. Ele está bonito e galante, devo ressaltar. Seu cabelo loiro se eleva num topete curto, seus olhos verdes ainda são tentadores e seus lábios finos ficam entreabertos, não sei se para respirar ou se simplesmente ele não consegue dizer alguma coisa.
— Eu estou aqui, pessoalmente, para dizer que o seu casamento será perfeito, senhorita Farrah. Eu garanto com firmeza. Nunca fui tão firme em toda a minha vida. Robin  ainda parece que recebeu uma pancada na cabeça e está desnorteado tentando se localizar. Pois deixe-me ser sua bússola, baby: você está no meio do olho do furacão Regina Mills. É bom que tenha protegido janelas e portas, porque eu vou quebrar tudo.
— Obrigada, Regina.  Elsa diz, muito simpática. Quando pisca seus olhos azuis para mim, com uma doçura tão familiar, tenho a triste certeza de que não conseguirei ter raiva dessa mulher.
— E seu cabelo está maravilhoso. Ela comenta.
— Obrigada. Jogo-os bem na cara de Robin . Meus cabelos estão bem mais volumosos e sedosos, parecem cabelos de comercial de televisão. E estão num tom de mel que combina com a minha pele, luzes bem sutis e o caimento que eu sempre quis: lisos na raiz e descendo com volume em leves ondas até as pontas.
— Quero o número da sua cabelereira para o meu grande dia! Ela passa a mão na coxa de Robin. E o meu ex lindo, porém imbecil, olha dela para mim, abobalhado. Elsa, meu anjo, por que nós duas não fazemos igual a Beyoncé, pegamos um taco de beisebol e começamos a quebrar tudo? A começar
pela cabeça desse crápula. Eu bato em uma, você bate na outra, amor. E ainda fazemos um álbum de sucesso.
Você é a noiva. Ttiro a cloche de cima da mesa, ficando bem próxima de Robin , agora dá para perceber que ele está mesmo nervoso, pois está tremendo a perna.
Você terá tudo o que quiser. Pisco para Elsa. Viro-me com força e jogo os cabelos na cara do paspalho e saio rebolando, de volta para o salão de eventos onde está a cozinha que chefio para esse evento. Mas antes mesmo de sair do lugar em que estou, Robin  passa pela minha frente. Cobre a boca com a mão direita, depois a sobe para os olhos, até chegar na testa, onde limpa o suor e suspira bem forte.
Regina. Ele diz o meu nome. É algo excelente para quem pode perder a língua a qualquer momento.
Robin. Uso um tom de deboche.
 — Ou devo chamá-lo a partir de agora de “Senhor Farrah”. Abro um sorriso de canto.
Eu posso explicar! É o que ele diz. A merda que todo homem diz quando é pego numa merda gigantesca e ele sabe que não pode explicar, mas precisa de tempo. E esse tempo é entre meu nariz soltando fogo e a minha decisão demorada se quero mesmo ouvir explicações.
Não é nada do que você está pensando. Ele continua. Oh, o show de clichês. Vamos ver o que mais sai daí.
Eu posso explicar. Ele repete.
— Tá, você já disse isso. Cruzo os braços.
— Encurta o disco e explica. Silêncio. Nossos olhares se encontram só por um segundo, depois ele desvia e olha ao redor. Se apurar bem os ouvidos, concentrar na paisagem e ignorar a conversa animada da noiva e suas amigas na mesa ao centro, dá para ouvir os grilos. Cri. Cri. Cri. É como soa.
— Não posso explicar aqui. Ele me olha de um jeito imperativo, como se estivesse muito ofendido. — Te encontro mais tarde e explico tudo. É claro. Que conveniente. Ele precisa de mais tempo para poder me explicar toda a situação.
— Não sei se tenho tempo para você e suas explicações, Robin . Dou-lhe as costas. Mas percebo que foi pouco dramático. Me viro de novo e de um rosto ansioso, ele passa a ter um filete de esperança.
Jogo bem minha cabeça para ele e faço os cabelos baterem na cara dele. De novo. Terceira vez. Estou quase no touch down, seu desgraçado.
Quem foi que te contratou? Ele me segura pelo braço e tenta me puxar em sua direção. Viro-me, mas não o encaro. Dirijo meus olhos com os cílios bem grandes em direção à mãozinha dele, que se ele não tirar em 3, 2, 1... ah, que ótimo, ele tirou. Porque eu ia arrancá-la no dente, já que não trouxe uma faca ou serrote.
Você me contratou. Bufo. Agora é assim? Além de me fazer de palhaça e querer que eu o sirva feito um rei, vai se fazer de desentendido? Corta essa, Robin !
Eu? Ele aumenta a voz, mas ao perceber que fez isso, abaixa o rosto e encosta em mim. Só estendo a mão para que mantenhamos uma distância segura. Para ele. Meus dentes são realmente muito afiados. E se acham que só o Michael Jackson ficou famoso por perder partes do nariz, aguardem só o que vai acontecer com esse cretino se ele tentar encostar em mim.
— E está pagando muito bem. Preciso ressaltar. Jogo o cabelo de novo, com mais força que das três primeiras vezes e sigo meu caminho. Fim do primeiro tempo. Vitória da moça traída, que vai acabar com essa festa. Emma me assiste marchar em sua direção, quase deixando um rastro de fogo por onde passo, de tão nervosa que estou.
— Me conta. Ela desvia o olhar para encarar a piscina.
— Encontrei o idiota. Pensei que minhas pernas iriam tremer e eu ia ficar extremamente nervosa, mas tirei de letra.
— Estou orgulhosa de você. Ela diz. E essas palavras aquecem um pouco o meu coração.
— Joguei o cabelo na cara dele umas quatro vezes. Olho para o chão.
— Acho que essa é a função de um cabelo tão bonito. Ela ri e se vira em minha direção. Suas mãos tocam meu pescoço e sobem até minhas bochechas. Ela ergue meu rosto com calma até que nossos olhares se cruzem.
Está tudo bem. Ela sorri com gentileza.
— Eu não sei se está, Emma.
— Não, não foi uma pergunta. Ela diz de uma forma polida e suave.
Está tudo bem. Ele reafirma. Passa uma das mãos pelas minhas costas e me abraça pelo ombro.
— A dor, o medo, a aflição e a tremedeira fazem parte do processo.
Processo?
— Sabe quando você está doente? Ela respira fundo.
— E seu corpo sente dor? Ele está lutando. Ele quer se recuperar. Ele sabe que é capaz de ficar resistente e expulsar o invasor. A dor, a febre, a tremedeira... são sintomas de que o corpo está lutando para se manter vivo e bem.
— Mas isso me faz sentir frágil. Desabafei. Nunca fui de abrir minhas emoções. Mas Emma era diferente de toda as pessoas  que eu já conheci. Ela não apenas me escutava e dividia alguns de seus segredos comigo. Ela realmente se importava.
— Sentir-se frágil faz parte do processo. Ela garantiu.
— E cá está você, inteira, após reencontrá-lo.
— Mas agora as minhas pernas estão tremendo.
— Eu sei.  Ela diz. E só então percebo que ele está meio que me apoiando.
Relaxa. Você está lutando e é isso o que importa. Lutando pelo quê, eu me pergunto.
— Ah, eu me esqueci de uma coisa!
Mais segredos? Passo a mão pelos meus cabelos e os ajeito para um lado.
— Na verdade, não. Emma solta seu braço de mim e só então percebo o quão quentinho e confortável estava seu aconchego.
— Eu comprei mais uma coisa.
— Você realmente gosta de comprar coisas!
— É. É um péssimo hábito, eu sei. Mas é tudo por um bem maior. Ela enfia a mão direita no bolso e tira dela uma caixinha muito luxuosa.
Meu Deus! Isso não é...?! Emma! Arregalo os olhos.
— Agora você sabe que dinheiro não é um problema para mim, na verdade, ele é meio que solução. E pensei: se vou ser uma namorada falsa, que eu seja pelo menos a porra da melhor namorada falsa que já existiu nessa merda de cidade! Ah, sem dúvidas ela era...
— Mas como você sabia o meu tamanho? Ela me entrega a caixinha. Não se ajoelha, não faz cerimônias e nem torna aquele momento piegas. Quando estou prestes a pegá-la, elz subitamente afasta a mão.
Ops. Ela ri.
Emma!
— Será que você consegue pegar? Ela começa a jogar a caixinha de uma mão para a outra. Até tento avançar e tomar dela, mas é em vão.
— Você está mais lenta do que eu me lembro! Ela goza da minha cara e eu avanço em seu corpo para tomar o objeto.
Não faz isso! Ela levanta bem a mão, bem acima de seu corpo. Mesmo que eu não consiga alcançar, me aproximo dela até que estejamos praticamente coladas e fico nas pontas dos pés enquanto tento tomar a caixinha de suas mãos.
Emma! Resmungo mais uma vez.  Ela só sabe rir. E eu estou afoita para ver. Ninguém nunca me deu um anel antes e vindo de Emma, mesmo que seja de mentirinha, significa alguma coisa para mim.
Quando pulo e tento capturar o meu presente, ela abaixa o rosto com sutileza. Me inclino para trás, para nossos rostos não se chocarem, mas não tem como. Nossos lábios chegam a se tocar e eu piso firme no chão, cambaleando para trás, começo a balançar as mãos freneticamente para tentar me equilibrar, mas aqui está ela, com suas mãos em minha cintura, seu olhar que não se desconecta do meu e sua respiração bem próxima. Mas continuo a bater as mãos, feito uma libélula maluca.
— Você está segura, relaxa. Ela sussurra.
— Tá! Paro de fazer os movimentos. E aproveito que ela está distraída com algo na minha cara e tomo o objeto de suas mãos e o abro. Não tenho palavras. Tudo bem que ela me deu um guarda-roupa novo, gigantesco, com roupas caríssimas, mas isso aqui, de longe, deve ser a coisa mais cara que ela me deu. Se é que ela me deu mesmo.
 — Pra fazer ciúmes nele.  Emma sussurra, seu rosto ainda está perto do meu.
— Um presente singelo. Singelo? Singelo é o meu novo cabelo dando na cara daquele desgraçado. Isso aqui é...
Não precisa devolver. Ela sorri.
— É um presente de verdade. Para você. Pedi que ajustassem o tamanho e aumentassem o tamanho do diamante, mas de resto, ainda é um dos tesouros da minha família.
— Não posso aceitar. Olho para ela.
É da sua família. E eu...
— Henry talvez nunca case. Ela suspira.
— E não sei se quero ter outros filhos, quero cuidar de tudo o que já tenho agora. Fique. Estou começando uma nova tradição em minha família: aprender o que realmente importa.
— E te importa dar esse tesouro de família para mim?
— Me importa que você se lembre. Ela segura em meu queixo.
—Que você lutou bravamente, Regina Mills. Que você não desistiu de si. E que você se entregou de verdade em busca dessa nova mulher que está aí dentro. Espero que tenha orgulho de si mesma quando isso tudo terminar. Por que eu já tenho orgulho de você desde já. Que cretina! Querendo me fazer chorar para eu ficar horrorosa!
Para quê inimigos quando se tem um Emma Swan para te fazer chorar? Reclamo baixinho.
— Não chore. Ela encosta a testa na minha.
— Você tem a chance que eu não tive. De enfrentar seus medos e fraquezas agora. Então que essa
aliança, não seja pura e simplesmente uma aliança entre você e eu. Mas uma aliança entre você mesma e o que você deseja para si. Seja fiel ao seu próprio contrato. Seja feliz consigo mesma.
Para! Dou um tapa no ombro dela.
E quando precisar de mim... para te ajudar, te socorrer, fingir que sou sua namorada de mentirinha e precisar de alguém para te ouvir... ou te contar uns segredos... você sabe que eu estou na mansão ao lado.
— Você não existe, seu idiota! Dou outro tapa no ombro dela.
— Não chora! Ela me abraça forte.
— Agora coloca isso no dedo e quando vir Robin  novamente, só exponha na cara dele, como se dissesse “fala aqui com minha mão”. Ah, é exatamente isso o que eu iria fazer mesmo! Isso sem o anel. Com o anel, eu vou é dar um soco bem forte na cara dele para ver o buraco do diamante naquela testa.
— Você não quer colocar? Entrego o anel para ela. Emma arqueia a sobrancelha em espanto, mas decide colocar o anel em meu dedo. E cabe direitinho.
Mas como pode ser do meu tamanho exato?
— Eu sou bem observadora. Ela murmura e se afasta devagar.
— E acho que é isso o que você aprender de agora em diante. Chega das migalhas. Você merece, Regina Mills, só coisas feitas do seu tamanho. E se elas não estiverem, que se adequem.
— Você não existe! Aceno negativamente.
— E não sei como devolver todos esses presentes extremamente caros que você me deu...
— Você já devolveu. Ela dá uma piscada e sorri. Igual a uma cafajeste.
 

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