cap 19

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Emma Swan
A primeira coisa que faço pela manhã, após chegar em casa e deixar as vizinhas sãs e salvas em sua residência, é fazer uma chamada de vídeo com Henry. Ele mantém o celular bem perto do rosto, exibindo seus olhos castanhos expressivos. Suas pupilas se concentram na tela ao me ver.
Oi Henry! É a mamãe.
— Eu sei. Ele aponta o dedo para a tela e começa a tocar nela.
— Me conte tudo sobre Nova York!
— Liga no jornal. Ele faz uma careta e me deixa boba com isso.
— Como é estar na casa dos seus tios sem a mamãe? Henry demora um pouco para responder. Continua olhando para a tela, sequer pisca os olhos, parece que está tentando se concentrar.
— Nova York é frio. Por fim, ele diz.
Ah, e você gosta do frio? Ele pisca os olhos devagar e muda de posição. Parece que deita, mas mantém o aparelho em suas mãos.
— Mamãe, Nova York não tem fomigas?
— Essa é uma boa pergunta, Henry! Formigas são animais. E animais vivem na natureza. Parques são natureza. Talvez você encontre as formigas lá. Digo as frases de forma curta e pausadas para que ele entenda.
— Parques. Ele diz.
— É! Você pode achar formigas por lá! Ele volta a se mexer. Agora se levantou e sai balançando o celular enquanto corre.
Filho? O chamo e vou acompanhando as imagens da residência dos Booth.
Henry?
— Eu quero mostrar meu presente. Ele diz para alguém.
— Para quem você quer mostrar? É a voz de David Booth.
— Para a minha mamãe. Ele entrega o celular para David.
— Ótimo! Vá pegar o seu presente. Ele diz com calma e vejo Henry correndo para outro canto da casa. Assim que David coloca o celular de frente para o rosto, de um jeito meio torto, devo salientar, ele diz:
Ah, olha só você! Esse seu corte novo  é realmente impressionante.
— Como você sabe que eu cortei? Passo a mão pelo fios dele. David ainda me assusta com esses  comentários aleatórios sobre o que diz ver, uma vez que é cego.
Henry gosta do seu cabelo. Ele sussurra.
Mas não diga a ele que eu te disse.
— Qual é o presente dessa vez? Pergunto.
— O August e Peter finalizaram a parte beta do projeto. Eles modelaram o robô em forma de formiga, para o Henry. Ele gostou muito, acho que terá mais avanços agora, não apenas na comunicação, mas ao lidar com tecnologia e ser mais assertivo em escolhas e palavras.
— Muito obrigado, tio David.
— Você financiou parte do projeto, não tem pelo que agradecer. E o casamento da sua irmã?
— A semana intensa vai começar por agora.
— E o seu pai?
— David faz uma feição séria, mais do que já apresenta. Seus cabelos e barba branca já dão um ar todo pomposo para o homem que nunca tira os óculos escuros.
— Não o vi. E não sei se quero vê-lo. Nem me lembro a última vez que nos encontramos. David anui devagar e abaixa o celular quando Henry vem correndo com o presente em mãos.
— Ela consegue ver?  Henry pergunta para David.
— Sim, sim, pode mostrar!
— Olha, mamãe. Fomiga. Ele mostra o robô que cabe em suas mãos.
— Que legal, filho! Você mostrou ele para a sua terapeuta? Henry pega o celular das mãos do tio e se senta no chão, posiciona-o em cima do presente. Fica quieto e começa a olhar para os cantos.
— Você mostrou o seu presente para a Amélia? Pergunto de novo.
— Amélia. Ele diz.
— Ela gosta de fomiga.
— Ah, que legal, filho! E você vai voltar pra casa quando? As formigas sentem falta de você. E a mamãe também.
— Você cuidou delas? Ele instantaneamente pergunta. Levo o celular até o quarto dele e Henry mostra pequenas expressões no rosto enquanto vê a nossa casa pela tela do celular. Ao entrar no quarto dele, posiciono a câmera no aquário gigante.
— Eu vou voltar para casa. Ele fala.
— Ah, que bom! As formigas querem muito ver você. E a mamãe também.
— Você não me vê? Ele começa a passar o dedo pela câmera do celular.
— Eu vejo, sim. Mas eu quero você aqui pertinho de mim. Henry encosta o celular bem próximo do rosto.
— Pertinho? Ele pergunta.
— É, tipo assim. Se comporte, obedeça aos seus tios e tenha uma boa terapia com a Dra. Bell, ok? A mamãe não vê a hora de te ver. Henry abaixa o celular e se volta para David.
— A mamãe perdeu o relógio. Ele lamenta.
 
Regina Mills
 
“Por que você sumiu? Sinto a sua falta” é o que diz a mensagem de Robin  para mim, hoje de manhã.
“Nos veremos em breve” é o que envio para ele. “Não vejo a hora” é sua resposta. Não vê a hora mesmo, seu desgraçado. Eu vou fazer picadinho de você!
— Olha só a minha amiga com cara de psicopata logo de manhã. Zelena aparece deslumbrante pela escada, já espalhando seu bom humor.
— Bom dia para você também, Zel. Que roupa bonita, hein? Onde comprou? Provoco.
— Ainda bem que temos a sorte de vestir o mesmo número. A vizinha rica deu tantas peças para você, será que essa mixaria vai fazer falta? Ela se senta à mesa.
— Estou de olho em você, dona Zelena. Aponto os dois dedos para os meus olhos e depois para ela.
— Acho que todas nós deveríamos ir deslumbrantes, não? Somos donas da Sweet Show, uma empresa de sucesso. Ou só você vai aparecer glamorosa? Ela provoca. Suspiro alto e jogo o celular nas mãos dela.
Ah, agora entendi seu bom humor, Regina Maria. Ela coloca chá na xícara e bebe devagar.
— A minha opinião você já tem. Regina Maria, não tem nem comparação. Você antes e depois da vizinha... cara... essa é a minha amiga que eu conheci em Nova York!
— Você acha?
— Porra! Parece que Robin  te castrou para a vida, menina. E mesmo recebendo mensagens desse maldito, tem um brilhinho em seus olhos. E eu aposto todas as minhas fichas que tem a ver com a gostosona que mora ao lado. Ela aponta para a janela e vemos Emma andando pela casa, parece estar falando com alguém.
— Aceitei ontem que estou em conflito. Ao mesmo tempo que quero acabar com a raça dele, também tenho, lá no fundo, alguma esperança.
Esperança? Com aquele Chernobyl?  Zelena se levanta e esbanja o vestido longo de seda azul royal, tão soltinho e leve que me dá inveja.
— Esperança eu tenho é que a minha b-o-c-e-t-a. Ela soletra.
— ou seja, a minha beleza conquiste uma mulher podre de rica, ou bonitão, ou velho pronto para bater as botas. Aquele traste eu só quero que mandem enterrar, porque jazeu! Ela acena e começa a arrumar a bolsa. Apresso meu passo e termino de tomar meu café, deixo todas as coisas na pia e subo para me vestir. Só vou usar um vestido preto básico que exalta minhas curvas. Pronta para ir ao velório do meu ex? Estou. Espero que já tenham comprado o caixão, porque senão estão perdendo tempo. Passo maquiagem como se estivesse indo para a guerra, me pinto toda, tipo uma índia arqueira para caçar um animal muito comum na selva de pedra: o babacus mentirosoum traidor. E como a espécie não está em extinção, pode e deve ser caçada. Quando desço, toda elegante e fina, Zelena e Belle me aguardam no hall de entrada. Dou uma última olhada no espelho e não escondo o sorriso: eu estou gata.
— Ok, Mortícia Addams, você já está pronta?  Zelena pergunta.
— Vamos chegar lá mais tarde, então muita calma e não mate ninguém até que eu esteja filmando com o celular. Ela orienta.
— Pode deixar. Alguns segundos depois, a campainha toca. Belle escancara a porta e deixa Emma Swan, em seu melhor smoking azul marinho e ar de que é dona de Miami inteira, entrar. Eu estico o pescoço para espiar por cima dela e acho que vi o carro do ano. Não pode ser. Ninguém simplesmente acorda e diz: acho que vou comprar o carro do ano só para ir ali fazer ciúme em alguém.
— Comprei um carro. Emma aponta para trás de si.
— Você é muito exagerada.
— Mas no dia do casamento, nós vamos de helicóptero. Ela olha o relógio e sorri feito o diabo.
— As meninas estão prontas?
— Pensei que nunca ia perguntar!  Zelena passa a mão pela lapela do smoking dela e sai em direção ao carro.
“O que você vai fazer hoje? Tem tempo para mim?” Robin  é um babaca. Mas um babaca de um nível que eu sequer imaginei que poderia existir. Antes disso tudo começar, tivemos um excelente final de semana. Ele reconheceu que estava errando e prometeu que dali para frente tudo iriamelhorar. Que nos veríamos mais vezes, que ele tinha chances de se tornar seu próprio chefe e eu receberia a atenção que merecia. Bem... aqui estamos nós. Algumas semanas depois. E o cretino só me manda mensagens que reforçam o quanto ele é um imbecil. “Manda foto de agora. Quero ver como você está. Saudades”.
A vontade que eu tenho é de jogar o celular pela janela. Mas sou salva pelo gongo, Emma deixa Zel e Belle no Sweet Show e agora vamos em direção à mansão dos Farrah.
— Em que momento você decidiu comprar um carro novo? Tento quebrar o silêncio que há entre nós.
— Hoje de manhã, quando acordei, o meu primeiro pensamento foi: por que não? É como ela me responde.
— Você acordou e decidiu comprar esse carro que deve valer parte da vizinhança. Olho ao redor. É luxuoso, sem dúvidas e confortável também. Me sinto quase que abraçada, ninada e paparicada pelo banco confortável em que estou e o painel extremamente moderno parece quase uma inteligência artificial.
— Foi exatamente isso o que eu fiz. Emma diz com serenidade. Não precisa expor, esfregar ou se vangloriar. Dá para perceber que aquilo é bem simples para ele de acordo com a naturalidade que age.
— Dormiu bem?  Ela tira as mãos do volante e eu quase tenho uma parada cardíaca e me jogo em cima do volante.
Calma. Deixa ele ir sozinho, tadinho. Emma ri e vira o corpo em minha direção.
— O carro dirige sozinho. Penso alto ao ver o veículo virar uma rua, com muito trânsito, e tudo na velocidade perfeita, parando no espaço correto atrás do veículo na frente e depois seguindo com toda a naturalidade do mundo. E as mãos de Emma estão ajeitando seu smoking caro.
— Dormi, sim. Nem vi a hora que cheguei em casa.
— Eu sei. Preferi não te acordar, você parecia estar bem serena dormindo.
— Obrigada. Continuo olhando fixamente para aquele painel do demônio. “Poxa, eu tenho um tempinho de folga e você não me responde? Pensei que nós dois faríamos isso dar certo” é o que diz a nova mensagem de Robin. Bufo e reviro os olhos. Assisto as paisagens ficarem para trás conforme avançamos para o nosso destino.
— Vai cozinhar hoje?  Emma quebra o silêncio.
— Só irei supervisionar. Se precisarem da minha ajuda, sim. Mas acho que contratei gente o suficiente para dar conta e me deixar com o trabalho estressante de manter tudo no mais alto padrão.
— Desisto da ideia de guerra de comida? Viro o rosto com força e a julgo com o olhar.
— Não no meu turno.
— Poxa, seria tão interessante ver toda aquela gente chique jogando comida uns nos outros. Só para lembrar o quão primatas ainda são. Não contenho as risadas e me jogo para trás, o banco se inclina
conforme o meu corpo desce, e mesmo em meio ao susto, não paro de rir.
— Só você mesma para aliviar a minha tensão. Suspiro.
— Creio que é o mínimo que um namorado de mentira faria. Emma toma controle do volante e assume a direção. Chegamos. Elsa Farrah havia me dito que a semana que antecedia seu
casamento seria um momento intimista para receber velhas amigas, parentes distantes e antigos colegas. Bom... Se esse batalhão de gente chique metido a besta é algo intimista, quero ver só a festa de casamento! Terei de triplicar as minhas ajudantes, pois as que contratei e trabalham comigo, não darão conta.
— Me atualizem de tudo. Peço assim que chego na grande cozinha e vejo todo mundo trabalhando.
Coloco a doma e amarro os cabelos com um laço, prendo-os e coloco uma touca por cima.
— Tudo sob controle. A minha segunda no comando diz.
— Café da manhã foi servido e elogiado, o próprio noivo veio aqui.
Ele veio? Rio de nervoso e começo a coçar meu pescoço.
— Sim. Agora a maioria das meninas estão ocupadas com o almoço, mas três estão concentradas na sobremesa. Assim que tudo estiver encaminhado já começaremos os preparos para o chá da tarde e jantar, como você pediu. Examino as bancadas e as pias e está tudo impecável, do jeito que eu gosto de ver a cozinha em que trabalho.
— Parabéns, senhoritas! Mas não diminuam o ritmo, continuem assim. E se precisarem de uma força, eu já cheguei, só me procurarem, ok?
— Sim, chef! Todas dizem juntas. Viro-me para Emma e a agarro pelo braço para tirá-la da cozinha.
— Eu realmente sou a CEO dos fogões. Comento. Enquanto andamos pela área da piscina e trocamos olhares tensos e confidentes, vejo um garçom vir de longe com uma bandeja, parece estar praguejando. Peço um minuto para Emma e vou ao seu encontro.
Pois não?
— O prato voltou. Ele praticamente joga a bandeja em minhas mãos.
— O café não está tão quente e os biscoitos estão murchos.
Ah, mas se o café sai daqui na xícara e vai para lá. Aponto com o dedo.
É óbvio que vai chegar frio. Reclamo.
Quem foi o gênio? Viro-me para Emma que só sabe rir.
Pode deixar, eu mesma levo. O garçom sai apressado e eu retorno para a cozinha.
— Coloquem os biscoitos no forno novamente, vou preparar o café, coloco a touca na cabeça de novo e começo a trabalhar. Faço tudo o mais rápido que posso, limpo a bandeja e coloco os biscoitos recém-saídos do forno e levo o café em uma garrafa térmica.
— Você me acompanha? Pergunto a Emma. Ela só agradece com as mãos, mas prefere ficar ali. Tudo bem, vou eu mesma. Ela0 me ajuda a tirar a touca e daí sigo meu caminho. Levo quase que cinco minutos para chegar no outro salão. Por que esses ricos têm tantos salões, meu Deus?
— Para quem é o café? Perrgunto ao garçom que vi retornar com a bandeja. Ele me aponta um homem sentado de pernas cruzadas, balançando o pé freneticamente. Seus cabelos loiros são inconfundíveis e a sua postura nem por um momento me intimida.
— O seu café e biscoitos, senhor. Anuncio, nas costas dele.
— Já estava na hora! Ele rosna, áspero e bate a mão na mesa. Pouso a bandeja com os biscoitos com todo o cuidado do mundo, ao abrir a cloche o homem vê a xícara vazia.
— Não tem café aqui! Ele se vira bruscamente para me xingar. Mas ou esqueceu as palavras ou ficou mudo.
Regina?  Robin  recolhe as mãos e fica engessado na cadeira.
— O seu café, senhor. Abro a garrafa térmica e encho a xícara.
—Já estava na hora.

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