cap 16

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Regina Mills
 
Retorno para a sala com Zelena e Belle. Emma está lá, com um olhar nostálgico olhando para um canto da cozinha. Dou uma tossida para chamar sua atenção e quando ela vem em minha direção, eu digo o que deveria ter dito desde o início:
Obrigada.
— Me agradeça vestindo essas roupas. Elas são só bonitas. Mas em você vão ficar esplendorosas. Que palavra é essa? Subo a sobrancelha o mais alto que posso.
— E você vai ficar aqui me vendo trocar de roupa?
Ah, já que você insiste, vou sim. Ela se diverte e passa por mim.
Não que eu já não tenha te visto sem roupa. Ela diz ao pé do meu ouvido.
Se sem roupa você é memorável, com essas roupas pode entrar para a história. Ela dá uma piscadela. Não sem antes apertar um botão no celular e fazer tocar a música Pretty Woman. Essa Emma é uma completa sem juízo mesmo, é pior do que eu. Bem... por onde devo começar? Levo várias peças para detrás do biombo e começo a me trocar. Primeiro tento um vestido branco com chapéu da mesma cor, a fashionista azeda coloca óculos escuros em meu rosto e me pede para calçar uns saltos que vão me matar, eu vou andar toda torta com isso!
— Está confortável?  Emma pergunta. Será que algum dia ela já tentou andar de salto alto?
Não? Tento me manter de pé com aquela arma apertando meus dedos e me deixando mais desequilibrada que eu sou. Estou acostumada a ser desequilibrada é da cabeça, não do pé.
— Vamos achar um estilo que te deixe confortável. Ele assegura e indica para a moça que pegue outro sapato. Testo mais uns três e meu desespero só aumenta. Daí surge Emma, após revirar tantas caixas e me obriga a sentar no sofá e coloca o sapato perfeito no meu pé. É esse, esse é confortável e bonito. Levanto-me e consigo andar. O que é ótimo, não é mesmo? Quem diria que uma moça adulta consegue andar com um salto relativamente alto?
Próxima roupa.  Ela faz um sinal positivo com o polegar. Zelena e Belle vão testando casacos e joias, e eu me mantenho concentrada em colocar esse sutiã estranho. Solto um grito quando Emma coloca a cabeça dentro do biombo. Estou toda descabelada e pareço uma contorcionista tentando colocar isso.
— As meninas do cabelo e maquiagem chegaram. Ele avisa.
— Eu estou pelada! Rosno, indignada.
— Está sim. E nunca esteve tão bonita.  Ela dá um tapa na minha bunda e some.
— Como assim “as meninas do cabelo e maquiagem chegaram”? Grito. E lá vamos nós. Na minha casa não cabe mais nada, então tive de ir para a mansão de Emma, onde a biblioteca dele se tornou praticamente um salão de beleza de luxo.
Você é estranhamente exagerada.
— Qual a graça em ter dinheiro e não ser exagerada? Ela folheia Bukowski enquanto anda em círculos.
— Como você costuma fazer sua maquiagem, Regina? A moça que vai cuidar da minha pele, pergunta.
— Eu sou um desastre com isso. Só sei passar batom e disfarçar olheiras.
— Alguma preferência sobre o que devo fazer com seu rosto?
— Sei lá, me deixa irreconhecível, eu odeio meu rosto. Me deixa com cara de palhaça, bota muita cor, eu vou ficar ótima. Começo a rir de nervoso.
— Suave e destacando os olhos dela. São lindos.  Emma coloca a fica bem de frente da minha, naquele espaço incômodo que eu consigo sentir sua respiração. Que delícia.
Eu tenho olhos lindos? Murmuro.
— Felizmente tem muito mais do que isso. Ela já retornou à leitura e volta a andar em círculos. O cabelo é a parte mais difícil, é claro. Eu tenho certa dificuldade com grandes mudanças. Eu gosto do que é seguro, do que conheço, o desconhecido me deixa intimidada demais. Eu demoro a abandonar comportamentos, gostos e jamais me desfaço de roupas, devo ter coisa da faculdade ainda... E falando em roupas...
— O que eu vou fazer com todas aquelas roupas? Não tenho espaço. Chamo Emma.
— Compre um guarda-roupas maior. Já pensou em ter um closet? Ah, sim. A senhora riquinha tem resposta para tudo.
— A casa em que eu moro não tem espaço para isso. Cruzo os braços.
— Posso arranjar um closet aqui na mansão. Ela responde com simplicidade.
— Você é sempre assim, prática? Porque tenho a impressão de que nada é impossível para você e que você tem tudo o que quer! Resmungo. Tomo um susto quando vejo seus olhos verde bem próximos do meu rosto, concentrados em meus olhos, sem piscar.
— Sim, eu sou sempre prática. Nada é impossível para mim. E eu tenho absolutamente tudo o que quero. Ela responde prontamente e se afasta.
Às vezes... não tudo... Ela murmura, mas consigo ouvir. Ué, o que será que é tão difícil assim para a senhora rica?
Prontinho. A moça termina de fazer a mudança em meu cabelo. E não me deixou ver nada. Eu estou pronta. Pronta para ter uma síncope!
 
Emma Swan
 
Convidei Regina, Zelena e Belle para irem à Night Light, a balada mais conceituada de Miami, onde apenas os herdeiros das elites locais e nacionais vão. Todas estavam especialmente bonitas, mas Regina estava um arraso. Assim que saiu da limusine chamou todos os olhares para si.
— Não ande como se estivesse com medo. Aconselho.
— Se você estivesse com esses saltos, você andaria assim. Ela retruca, ríspida. Está assim, arisca desde de manhã. Para o azar dela, eu não tenho medo de mulheres perigosas e ignorantes, são as minhas favoritas, na verdade.
— Precisa andar como se tivesse um segredo. Aconselho novamente.
— O meu segredo é que eu estou com medo de cair. Ela diz e se desequilibra. Eu a seguro de imediato e não permito que se machuque. E ela levanta o rosto bem devagar, tenta não encarar as pessoas na porta do clube, talvez com alguma vergonha.
— Espero que tenha uma boa memória, porque eu não direi duas vezes. Coloco-me na frente dela, para que ninguém mais veja e a levanto até que Regina esteja em perfeito estado.
Está tudo bem? Por que vocês ainda estão aqui?  Zelena pergunta.
— Já vamos entrar. Só diga na porta que veio com Emma Swan, ele vai deixá-las entrar. Dou uma piscadela e as duas amigas se dirigem à entrada do clube.
— Estou atenta. Regina segura a bolsa.
Segredo número um: quem não é visto, não é lembrado. Então evite que vejam seus defeitos e gafes. E se você quer que eles se lembrem de você, cause a melhor opção. Nesse mundo não há outra maneira de viver a não ser sendo única. Com o que você trabalha?
— Você sabe, Emma, eu sou Chef do Sweet Show. Respondo.
— Comum. Digo e imito o barulho de uma buzina.
— Você dirige uma equipe para dar às pessoas a melhor experiência da vida delas com a gastronomia.
— Tipo uma CEO da cozinha?
Gostei, mas vamos melhorar isso. Tiro o meu celular do bolso e a puxo contra o meu corpo.
Calma, senão eu vou desmontar! Ela ri.
— Confie em mim. A abraço contra o meu corpo e encosto sua cabeça em meu peito e registro o momento com uma foto.
— Pronto. Envio para ela.
— Agora é só postar.
Postar?
Postar, é. Qualquer rede social. Sigo meu caminho e com dois passos percebo que ela não me acompanhou.
O que foi?
— Não tenho redes sociais. Ela diz.
Quê? Em pleno século 21 e você não tem redes sociais?
— Não tenho. Algum problema?
— Nenhum, no século 14. Respondo.
Se você quer ser vista, precisa ir para a vitrine. Só não passe muito tempo nela, entre apenas para
atualizar com fotos e suas conquistas. Isso drena a sanidade das pessoas, foi projetado para te fazer se sentir inferior, causar ansiedade e depressão. Além de esfregar na cara das pessoas o quanto a vida delas é medíocre comparada à sua.
— Exatamente por isso que não tenho — ela diz. Mas eu já tive
conversas proveitosas com Regina e eu sei quando ela está mentindo ou
omitindo algo de mim.
— Exatamente por isso você precisa ter. Espera atormentar seu ex apenas quando ele for vê-la? Regina, você vai fazer esse cara visitar seu perfil 24 horas por dia. Você vai perturbá-lo quando presencialmente não estiver mais lá. Irá deixá-lo pensando em você, perguntando-se em que festa você está, com quem está e para onde irá viajar. Os olhos dela brilham. Parece que pelo ex ela está disposta a fazer isso.
— Mas o Robin  não tem redes sociais, ele me garantiu que... Deixo ela falando e abro uma aleatoriamente e mostro o perfil dele.
— Achei que já tinha ficado claro que ele era mentiroso. Comento.
Que bastardo filho de uma meretriz! Ela grita e chama a atenção de todo mundo que está na entrada do clube.
— Assim nem eu vou conseguir te fazer entrar, bebê.
— Não acredito! Ele me convenceu que o melhor para nós dois era não termos esse tipo de coisa! Que ele era tão ocupado e... Ela vai dizendo, e embora eu ame ouvir essa mulher falar, porque tudo na boca dela fica interessante, não estou disposto a ouvir ladainha.
— Se vingue. Agora. Crie uma rede, poste sua melhor foto no perfil e vamos fazer a mágica acontecer.
Regina está tão furiosa que não demora cinco minutos.
— Tá. E agora?
— Vem comigo. Seguro em sua mão e juntos entramos no clube. A música é agradável e os ambientes são diversos. Levo Regina para a melhor ala, onde só entram realmente aqueles que fazem parte da nata social. Dentre todas as mulheres ali, avisto três homens. Um não se encaixa nos padrões que precisamos estipular, o outro está xavecando a filha de um grande político e o outro está de braços cruzados fazendo cara de mau. Tá, vou dar meu jeito.
— Rapazes. Cumprimento-os assim que chego e pela expressão deles, parece que viram uma morta.
— Emma! Todos dizem.
— Vou precisar de você. Aponto para o xavequeiro.
— E você. Aponto para o que tem cara de mau. Eles vêm até mim e eu reviro os olhos quando começam a perguntar onde eu me meti. Me meti em tanto lugar que deveriam me perguntar onde
eu não me meti, mais fácil responder.
— Sorria. Digo para Regina. Ela sorri, meio assustada, mas sorri e isso a deixa muito mais bonita.
— Quando eu soube que a Regina Maria estava aqui hoje. Aponto para ela.
— Precisei vir. Não é todo dia que você se depara com uma das herdeiras do petróleo desse país, cara.
Foi vista. E de um jeito memorável. O rapaz que estava paquerando há alguns segundos já passa o braço pelo ombro dela e o outro se aproxima também. Predadores despertados e tudo o que Regina precisa fazer para sair bem nessa foto é... sorrir. Puxo-a com a mão para perto de mim.
— Talvez mais tarde, rapazes, eu vou pagar a primeira bebida.
— Eu pago as próximas três. O paquerador ri.
— Eu pago as próximas trinta. O outro dá um lance. Perfeito.
— O segundo segredo é: sempre tem alguém melhor do que você. Isso significa que, primeiro: não surta; não se compare com os outros; não comece a medir sua vida a partir da deles. Digo com calma. — Mas isso também significa que tem caras mais bonitos, ricos e interessantes que Robin. Mostro a foto para ela.
— Meu Deus! Olha a minha cara! Parece até que estou tendo um orgasmo! Ela põe a mão sobre a boca.
— O que é ótimo. Concluo.
— Homens são competitivos. Então mostrar que você tem opções melhores e ser escorregadia irá deixá-lo vidrado em você. Quando ele sentir que não pode te ter, isso vai despertar um interesse estranho nele, para conquistá-la. Ou melhor, reconquistá-la.
— Você entende muito de homens. Ela coça o queixo.
— Só tem uma coisa pior do que um homem, bebê. Tiro a mão dela do queixo e começo a andar com ela, pela pista de dança.
O quê? Passo a mão pelo meu corpo, me indicando.
— Uma mulher que sabe lê-los. Regina ri e tenta se mover no ritmo da música e eu me mantenho
atento para não deixá-la escorregar, tropeçar ou cair.
— E o que é ser escorregadia? Ela pergunta, próximo do meu ouvido, porque aqui o som é mais alto.
Segredo número três: deixe-o confuso. Não tente se explicar, não conte nada a ele, deixe que ele mesmo crie suas teorias mirabolantes sobre a nova Regina. Se ele não precisa te desvendar, ele não vai gastar tempo pensando em você quando não estiver te vendo. Então ele vai gastar tempo
pensando em outras.
— E o que ele teria para desvendar? Ela pergunta.
Por que você mudou o cabelo? Por que essas roupas novas? Por que criou essa rede social? Por que não responde minhas mensagens? Por que de repente ela ficou diferente comigo? O que ela está fazendo aqui? Pergunto a ela. O olhar de Regina me diz que ela entendeu.
— Deixa ele descobrir sozinho. Pisco para ela.
— Quanto mais tempo esse homem pensar em você, melhor. A ciência funciona assim: as pessoas se empenham a desvendar uma lacuna, algo que ainda não foi preenchido. Respostas preenchem perguntas. Então, se você quer esse homem, deixe que ele seja seu cientista. Que ele te estude. Que ele busque desvendar você e tentar preencher as lacunas dentro dele. Ela balança a cabeça.
Como assim ela de repente consegue ser fofa e depois safada? Por que ela riu para aquele cara? Por que ela está online e não me responde? Regina entendeu. Perfeito.
Quarto segredo: ele precisa querer mais, então entregue-se aos poucos.
— O que isso quer dizer?
— Quem quer, quer por inteiro. Digo.
— Concordo. Ela se aproxima mais para poder me ouvir melhor.
— Mas você precisa fazer com que o cérebro dele se vicie em você, feito uma droga. E você é muito valiosa, seu valor não pode ser pago, nem mesmo por um grande investidor. Ela ri. Essa maldita vizinha sexy e atrevida que não consegue sair dos meus pensamentos.
— Não pule etapas. Faça passo a passo, bem devagar, valorizando cada pequena conquista que tiver. Quando ele quiser mais do que um beijo, você acertou. Ele quer mais. E se ele quer mais, ele vai ter de andar mais casas nesse tabuleiro.
— Tá. E o quê mais? Ela pergunta.
Esses são os segredos.
— Os segredos de quê? Ela pergunta. Pensei que não fosse perguntar o mais importante.
— De como conquistar e destruir o coração de um homem. Respondo. Seguro nas duas mãos dela e a trago para bem perto de mim e encosto os lábios em sua orelha:
— Mas o segredo mais importante de todos e que só serve para você é: você precisa aprender a sair da mesa quando o amor já não está mais sendo servido. Parafraseio Nina Simone.
— E o que isso quer dizer? Ela pergunta.
— Quer dizer que quando a música para... a festa acaba.

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