Dois

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Durante esse período de pandemia, eu não tive muito o que fazer dentro de casa, apesar dos estudos ocuparem parte do meu tempo, o tempo que tenho livre precisou ser ocupado por algo além dos seriados na televisão, então eu comprei um caderno de desenho e também alguns lápis de cor e passei a me sentar na janela do quarto e registrar as lindas cores e formas de tudo o que me interessasse, e uma delas, foi a senhorita Walsh, do andar térreo.

Natasha é uma linda jovem de cabelos negros e olhos azuis, tão linda que chamou atenção de Erin: Ela poderia se tornar modelo com toda aquela delicadeza. Sim, a minha irmã até tentou convence-la a modelar, mas a garota tem os seus próprios planos.

A forma como nos conhecemos foi bem intrigante. Natasha e eu nos víamos todas as quartas-feiras na varanda de nossos apartamentos, trocávamos alguns sorrisos e acenos e nada mais do que isso. Durante uma de minhas sessões de artes na janela eu a vi pela primeira vez sentada em sua janela, com um violão no colo e um cigarro eletrônico nos lábios, ali eu percebi que a Walsh era muito mais do que um rosto bonito.

Todos os dias ela se sentava no mesmo lugar, cantava uma musica, algumas de sua autoria e outras de algum artista, Nat foi um mistério, ela parecia sempre estar triste e distante de tudo o que a rodeasse, mas, talvez aquele fosse apenas o seu jeito.

No mês passado eu a encontrei no pátio enquanto colocava o lixo para fora, ali trocamos o numero de nossos telefones e passamos a conversar quase todos os dias, eu descobri nela uma garota apaixonada e destemida. Apesar de parecer delicada como uma flor, Natasha possuí uma personalidade marcante e forte, ela também não é tímida e não tem medo de dizer o que pensa, se preciso de uma opinião sincera eu a procuro, sei que Nat não mentiria e também saberia me dar a melhor opção dos caminhos a seguir, claramente, ela sempre deixou sobre minha responsabilidade as escolhas que faria, mesmo que fossem contra suas indicações.

Na ultima sexta-feira, nós presenciamos o que seria uma cena de completa falta de pudor. Enquanto respondia a um questionário de química, escutei aquilo que seriam gemidos vindos de algum lugar próximo, procurando a origem do som, eu sai na janela do quarto me deparando com uma mulher nua apoiada com as duas mãos no vidro de uma das janelas do apartamento vizinho, não sabia o que sentir ou como reagir naquele momento, até ouvir a voz da garota.

-Hey, poderiam gemer mais baixo? Existem outros moradores nesse edifício. -olhei para baixo e ali estava a pequena branca de neve com o seu violão no colo e o seu lindo par de olhos azuis.

-O que? -sussurrei para ela que leu meus lábios e apenas encolheu os ombros sem compreender nada do que estava o correndo.

-Consegue vê-los? -ela perguntou no mesmo tom, acho que nos tornamos especialistas em leitura de lábios. Em resposta, eu apenas acenei que sim. Consegui ver o riso se desenhar em seu rosto e então a garota desceu de sua janela e voltou para dentro do apartamento. Minutos depois ela tocou a campainha do meu apartamento. O que fizemos naquele dia, foi uma das maiores loucuras de nossas vidas.

-Oi. -a cumprimentei com um sorriso no rosto, solto a porta e dou espaço para a garota entrar.

-Isso esta mesmo acontecendo? -adentrou o apartamento retirando os sapatos.

-Ainda não sei se o que vi foi real ou não. -rio fechando a porta atrás de si.

-Ainda estão lá? -retirou sua mascará a deixando pendurada nos ganchos de bolsa.

-Estavam lá quando sai. O que esta pensando em fazer?

-Venha comigo. -ela segurou em minha mão e me puxou pelo o apartamento até voltarmos para o meu quarto, ela se aproximou da vidraçaria da janela e espiou notando o casal agora deitados sobre a cama com a mulher de longos fios morenos rebolando no colo dele- Isso é... interessante.

Apartamento 62Onde histórias criam vida. Descubra agora