08

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A Indie e eu vimos isso num filme.
Escrevemos uma carta para alguém especial que já morreu e queimamos ela.
Algumas pessoas dizem que, independente de onde estejam, eles vão ler a nossa mensagem, e outros dizem que é besteira.
Eu não sei em qual acreditar, mas escrever essa carta fez eu me sentir mais leve.

— Pronto. — Arranco a folha, dobro e deixo em cima da mesa enquanto termino o meu café.

— Eu vou escrever também. — Puxa o caderno e a caneta. — Alguém tem que falar com o Johnny sobre as suas chatices. — Rio e ela começa a escrever. Ela sempre faz isso. Fala e faz coisas para eu rir e não ficar me afundando nos pensamentos.

Tomo um banho demorado e visto uma roupa leve. O dia está quente e eu odeio sentir calor.
Conversamos sobre o trabalho e nosso novo projeto até dá o horário de sair.

Quase uma hora da tarde, nos preparamos para sair. Pego a carta que estava sobre a mesa, um fósforo perdido na gaveta e a chave do carro.

São quase trinta minutos de casa até o cemitério, mas não me importo de dirigir. Eu faria isso mesmo se tivesse que ficar quatro horas sentada nesse banco.
Estaciono o carro e vou até a entrada.

— Tudo bem? — Indie segura a minha mão quando eu paro.

— Sim. — Respiro fundo e entramos.

Seguimos até a lápide do meu irmão e antes de chegar, já sinto as lágrimas escorrerem em meu rosto.
Tento controlar, porém, é inevitável.
Eu estava indo bem, mas, sempre que chego perto não consigo evitar.
Paro em frente a lápide e ponho a mão na pedra gelada.

— Oi. — Sussurro e me agacho, com a ilusão de ficar mais perto para ele me ouvir melhor. — Espero que você leia.

Pego o fósforo e ponho fogo na carta. Observo o papel queimando devagar e imagino as suas reações ao ler cada palavra.
Imagino ele com raiva de nossos pais e rindo por causa da piada do bolinho. Mas, me dói imaginar que ele vai sentir saudade quando ler sobre o Dani e que vai se sentir mal por eu ter surtado depois que ele morreu.

"Mas, saiba que a culpa não é sua."

Entrego o fósforo a Indie e ela faz o mesmo com a carta que escreveu.

Levanto e dou a volta, observando uma flor branca sobre a lápide. Por um breve momento penso que poderia ter sido nossos pais, o que é descartado logo em seguida, quando vejo um bolinho Johnny ao lado da flor.

Deixo escapar um riso acompanhado de mais lágrimas.

— O que foi? — A Indie se levanta e vem até mim. Aponto para a flor e o bolinho e ela ri junto comigo.

— Bem que ela poderia ter sido a nossa mãe não é? — Abraço ela e desabo.

Depois de quase dez minutos abraçadas, decidimos ir até a cafeteria.

— Quer que eu dirija? — Indie se oferece.

— Não. Está tudo bem. E eu quero passar por um lugar no caminho. — Entramos no carro e seguimos em direção a cafeteria.

Desvio do caminho e passo em frente a casa de meus pais, diminuindo a velocidade e observando eles, como se nada tivesse acontecido.
Fico ainda mais chateada quando vejo que estão se divertindo com os vizinhos.
Não consigo esconder a decepção que toma meu rosto cada vez que vejo os dois.

— Vamos. Não vale a pena ficar olhando essa palhaçada. — Indie é a única que entende o quanto dói ver isso.

Acelero o carro e finalmente vamos direto até a cafeteria. Assim que entro, avisto a tia Regina e me apresso, andando em sua direção e lhe dando um abraço forte.

— Obrigada. — Sussurro. — Não só pela flor e o bolinho. Obrigada por ser a mãe que a gente sempre quis.

Ouço ela começar a chorar e me aperta ainda mais.

— Eu sinto tanto a falta dele. — Me olha e segura em meu rosto. — Vocês são os filhos que eu sempre quis ter e não pude. — Pega na mão de Indie e a puxa pra mais perto. — Vocês três.

Somos interrompidas por um dos funcionários, que chamou ela até a cozinha.
Nos dirigimos até a mesa, que já estava reservada, sentamos, e fazemos nossos pedidos.

Ficamos na cafeteria até escurecer, a tia Regina acabou vindo se sentar e conversar com a gente, já que o movimento não está tão alto hoje.

Nos despedimos dela e voltamos pra casa.

— Vou tomar um banho. — Ando em direção ao quarto.

— Eu também. Não vou te esperar. — Entra no banheiro principal da casa.

Depois de alguns minutos, volto a sala e a encontro sentada no sofá, já me esperando.

— Sabe o que acabei de lembrar? — Pulo no sofá. — Você não me falou como é que está com o produtor gato.

— Verdade. — Se empolga ao ouvir falar dele. — Marcamos de sair amanhã para nos conhecermos melhor.

— Isso aí. — Comemoro. — O nome dele é Kaique não é?

— Sim. — Confirma. — E ele é muito interessante, não só gato. — Cada vez que se refere a ele, a Indie fica com o sorriso mais frouxo.

— Que bom. Por quê se ele for um idiota eu vou acabar com ele.

Colocamos um filme da lista e começamos a assistir.

Fizemos uma lista de filmes que o Jonny queria assistir, ele planejou maratonar alguns filmes da Marvel, mas ele não conseguiu esperar até o lançamento do filme "Ultimato".

— Eu acho que já está na hora de parar. — Indie me olha confusa, porém já sabendo ao que me refiro. — Não é como eu só lembrasse dele nessa data. Eu só acho que está na hora de parar de cancelar tudo como se hoje fosse algum tipo de feriado.

— Que bom que pensa assim. — Me abraça. — Estou muito orgulhosa, e tenho certeza que ele também.

Pegamos nossos bolinhos e comemos enquanto terminamos o último filme.

No fim das contas, eu adorei todos eles. Quando ouvia o Jonny falar, achava que eram chatos e que eu odiaria. Até chamei ele de nerd, mas sinceramente, agora estou ansiosa pelos próximos lançamentos.

Depois de mais de três horas de filme e algumas lágrimas, deitamos e pegamos no sono.

AfroditeOnde histórias criam vida. Descubra agora