28 Noah

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— Pronto. Ela já foi. — Digo, depois de me despedir da Afrodite.

— Não sabia que estava namorando. — Fala, mechendo em meu cabelo como não fazia a muito tempo.

— Não estou. Estamos apenas curtindo. — Assumo e ela cerra os olhos.

— Eu sou sua mãe. — Ri. — Vi como você olha para ela e não é um olhar de quem está apenas curtindo a pegação.

— Você está vendo coisas. — Dou um sorriso falso, sabendo que talvez ela tenha razão. — Vou preparar algo para você comer.

Vamos até a cozinha e ela fica em pé ao meu lado.

— Estou faminta. — Ela sorri, esfregando as mãos, ansiosa.

— Aliás, como você entrou? — Questiono.

— Quando eu fui embora, o Michael disse que sempre deixaria uma chave escondida embaixo de uma pedra do jardim. — Explica. — Eu só observei a pedra redondinha.

— Caramba. — Rio.

— Noah, meu bem. — Vejo seus olhos lacrimejarem. — Eu sei que todo perdão do mundo não é o suficiente.

— Mãe. — Largo o pote com o frango sobre a pia. — Eu perdôo você... Está tudo bem.

— Não está. — Põe a mão no rosto e começa a chorar. — Eu preciso te contar uma coisa. Você precisa saber o motivo de eu ter ido.

— Eu sei o motivo. — Ela me olha, assustada. — Eu vi, mãe, eu vi o que aconteceu.

— Como assim? — Questiona, ainda incrédula.

Lembro do momento que ela se envergonha a tanto tempo.

— Bom... Eu disse que iria jogar na casa de um amigo para deixar você e o pai sozinhos, como você pediu, mas eu não fui. — Respiro fundo e continuo, lembrando de tudo. — Eu estava com medo dele ficar agressivo denovo e te machucar como sempre fazia, então eu estava observando tudo pela janela.

— O quê? — Sua voz quase não sai.

— Eu vi quando ele chegou e você estava esperando para comemorar o aniversário de casamento. Você preparou um banquete irresistível e ele nem te olhou por um segundo, nem te agradeceu. Também vi quando ele caiu no chão por causa da alergia a amendoim e você ficou olhando, esperando ele ficar numa situação irreversível. Mas, eu vi você se arrepender ao olhar aquela foto minha na parede e ir até o banheiro correndo para pegar a caneta de adrenalina. Vi você ficar desesperada e revirar a casa por que não achou e então você ligou para a ambulância. Quando eles apareceram eu fingi que estava chegando em casa, mas antes disso, eu tinha jogado as canetas numa lata de lixo, bem longe.

— Por quê você pegou as canetas? Como você sabia? — Questiona, ainda incrédula com tudo o que acabou de ouvir.

— Eu sempre gostei de ver você cozinhar. — Explico.

— Meu amor, por que fez isso?

— Eu via o quanto ele te fazia mal. Desde quando eu era criança, eu lembro de todas as surras, ameaças, xingamentos e das vezes em que ele de deixou desmaiada no chão. — Sinto o ódio me tomar com as lembranças e meus olhos inundam. — No dia anterior, estava chovendo muito. Era uma tempestade, na verdade. Os trovões e relâmpagos sempre me assustaram, mas, não como aquele dia. Acho que ele te deu alguma coisa e você apagou. Ele estava no sofá passando a mão em você e tirando a roupa. Então, eu fui para cima dele e ele me bateu. Eu só queria te proteger.

— Então, aquilo em rosto não foi no colégio? — Questiona, triste.

— Não. Ele deu um soco forte em mim. Quando acordei, você já estava na cama e ele não estava mais em casa.

AfroditeOnde histórias criam vida. Descubra agora