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O entregador parece apreensivo com algo, mas fazendo entrega a essa hora eu também estaria. Pego a pizza e volto ao escritório.

— Eu achei que você só estava perguntando por perguntar. Não sabia que estava fazendo o pedido. — Noah fica sem jeito.

— Estamos aqui a um tempão. Não é possível que você não esteja com fome. — Ponho a pizza em cima da mesa.

— Eu só vou lavar minhas mãos. — Levanta rápido, como se estivesse incomodado com alguma coisa. — Onde fica o banheiro?

— Bem alí. — Aponto e acompanho ele. — Preciso lavar as minhas também.

Voltamos para o que agora poderia ser considerada nossa mesa de jantar.
Coloquei o refrigerante nas taças que eu peguei no bar e comemos alí mesmo, sem pratos, garfos ou facas. Apenas com nossas mãos recém limpas.

— Essa pizza está com um gosto diferente. — Pensei que poderia ser o primeiro pedaço, mas depois de duas fatias e meia não tem como negar.

— Sim. — Ele concorda. — Eu achei que só eu estava sentindo.

Depois de satisfeitos, continuamos sentados enquanto ele me mostrava mais detalhes do seu trabalho, espetacular.

Sinto minha cabeça girando lentamente, os olhos pesados e uma sensação que não tinha a muito tempo.

— Que merda. — Levanto da cadeira com um pulo, o deixando confuso. — Tem alguma coisa errada.

— O quê? — Abre os olhos, assustado. —Como assim? Eu achei que você tinha gostado. Eu posso mudar se você quiser.

— Calma. — Peço. — Eu não estou falando do site. — Consigo tranquilizá-lo.

Pego a caixa e observo atentamente os dois últimos pedaços que sobraram.

— O que aconteceu? Está tudo bem?

— Com certeza isso aqui não é orégano. — Encaro o Noah que está surtando sem saber do que estou falando. — Relaxa. — Me aproximo e seguro seu rosto com as duas mãos. — Respira.

Tento conduzir ele em uma respiração calma e ritmada.

— Por quê estamos respirando igual mulheres em trabalho de parto? — Questiona. — Será que elas tem que respirar fundo por quê está respirando por dois?

— Acho que não. — Rio. — A gente também respira fundo. — Sua teoria totalmente inspirada pelo orégano da pizza me faz rir bastante.

— E se a gente tiver respirando por dois? E se tínhamos irmãos gêmeos e devoramos ele no útero? — Continua e eu fico surpresa com o quanto isso aconteceu rápido.

— Caraca. — Entro na sua onda. — Será?

— Acho que estou começando a ficar com sono. — Encosta a cabeça em meu ombro. — Já é bem tarde.

— Na verdade, nós estamos chapados. — Digo rindo e ele levanta a cabeça, me encarando assustado.

— Como assim? Chapados, tipo... Maconha?

— É. — Confirmo. — Eu pedi bastante orégano na pizza, mas parece que o orégano deles não foi comprado no mercadinho.

Nos encaramos enquanto um silêncio brutal rodea o escritório.
O silêncio é tão brutal que consigo ouvir meu coração como se estivesse com um estetoscópio. Mas, sei que parte disso é o efeito da erva.

O Noah começa a rir, deixando o silêncio de lado e me levando junto em sua crise.
Rimos da mesa, da pizza, da camisa xadrez que estou vestida e de como eu me sujei com um cupcake, igual uma criança.
Mas, na verdade, não rimos de nada em específico.

AfroditeOnde histórias criam vida. Descubra agora