Escrevo os meus desaforos, em telegramas.

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Espio pelos feixes do mundo exterior que penetram o vestíbulo da minha mente.

Quieto, frio, ensopado.

O mundo afora enterra-se cada vez mais em sua sombra enquanto eu, deixo-me levar pela minha.

É uma criatura sábia, a Sombra.

Ora ela compartilha em imagens e telegramas as suas verdades de tudo aquilo que observou no camarote da vivência.

Aprendo com ela, e com sua falta de experiência própria, atulhada, invés disso, de imagens parcialmente interpretadas...

Vejo humor nela, e na sua estranha sabedoria.

'Reconhecer os desaforos é o único modo de identificar a beleza,' ela me diz.

Talvez seja por isso que a luz gosta dela.

Olho pelo portal de vidro novamente, a janela dessa caixa em que me encontro, e reconheço, afora, a verdade.

A verdade que não vejo, não ouço, não penso, mas talvez um dia eu até acredite nela, porém, até lá, escrevo os meus desaforos,

em telegramas.

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