CAPÍTULO 8

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Lucas  lembrou-se das palavras de dona Zilda...ficou magoado por ela ter mentido pra ele, brincado com ele...brincado com os sentimentos dele...mentir a respeito dele algum dia encontrar-se com a sua alma gêmea...

Lucas percebeu, no meio de sua dor, que a segunda parte da previsão da tal Marlene, onde ela dissera que se encontrariam novamente, agora era óbvia...assim como a parte da escuridão que o envolveria! Segundo Cláudia, a tal Marlene já devia ter morrido e seria em outra vida que ela e Lucas se reencontrariam então, ele concluiu agoniado. A devolução de sua visão...a luz...certamente só seria depois de sua morte! Tudo agora fazia sentido!

Culpou-se imaginando que talvez, se tivesse dado mais atenção para as palavras da mulher misteriosa no centro espírita, tivesse percebido que haveria alguma forma de ter evitado que os pais fossem assassinados pelos ladrões covardes...E se ele tivesse tido uma chance de chegar mais cedo e ter intimidado aquela invasão criminosa... ele mesmo tendo trancado a porta mais cedo...o portão mais cedo...dificultando aquela invasão...Mas ele fora dar uma volta...atrasara-se pra voltar pra casa...deixara os pais sozinhos por tanto tempo e com a porta destrancada, pois era assim que os pais sempre faziam, pra esperar pelo filho que não chegava...

A morte seria bem-vinda...pensou sentindo um silêncio reconfortante...imaginando que ela teria o seu lado bom...pois mortos não têm pesadelos...não têm confusão mental...apenas o fim de tudo...o sossego...ele e os pais juntos para sempre fugindo daquele inferno cruel, de pessoas tão cruéis quanto aquelas que os haviam assassinado tão covardemente sem dar a mínima chance de defesa a qualquer um dos três!

Agora não deveria demorar muito, acreditou Lucas conformado...Quanto tempo levaria pra ele ter uma parada cardíaca devido à grande perda de sangue? Quanto tempo ele já estava ali largado no chão? Morrer então era aquilo...sentir as forças se esvaindo...a escuridão o envolvendo e o arrastando lentamente...Estranhou...não desmaiaria? Será que o seu castigo seria permanecer lúcido até o fim de tudo?

Lucas sentiu as lágrimas rolando pelo rosto pela perda dos pais...Tantos planos eles ainda tinham...Pessoas tão boas...nunca haviam feito mal a ninguém...tanta injustiça...

A sensação de que havia mais alguém ali junto com ele não passou de mais uma certeza de que já estava perdendo a noção das coisas...estava sendo invadido pelas alucinações da morte que brincava com ele...

Ele escutou passos se aproximando com urgência e sentiu a mão de alguém lhe tocando o corpo examinando o ferimento...será que um dos bandidos se arrependera? Ou será que, cismado por ter sido reconhecido, voltava pra verificar se seria seguro lhe dar mais uma facada?

_Tente ficar quieto, pois já chamei uma ambulância..._disse uma voz que Lucas acreditou que já ouvira, mas que não conseguia identificar de quem era.

Era uma voz que o deixou mais calmo, sentindo-se amparado...seguro...Seria a voz de Deus? Não, claro que não...ele sabia que não merecia tanto! Será que algum anjo se dera ao trabalho de vir acompanhá-lo em seus momentos finais?

Uma esperança insana invadiu o rapaz que teria gritado por socorro, se forças ainda tivesse para tanto...mas a fraqueza era mortal...

Será que aquele era um apelo para que ele não desistisse da vida ainda? Ele não deveria entregar os pontos ainda, era isso? Mas e aquela escuridão mortal? De onde vinha? Ele não entendia...

A presença daquela pessoa ali o encheu de esperanças alucinadas...Talvez os pais ainda pudessem ser socorridos...talvez ele ainda pudesse ser salvo também...

As náuseas foram cedendo quando ele sentiu o homem, com mão firme, fazer uma leve pressão em seu pulso, como se lhe devolvesse um pouco de vida até que o socorro chegasse...como se aquele estranho lhe cedesse um pouco de sua própria energia para que Lucas não partisse ainda...

A ÚLTIMA CHANCE-Armando Scoth Lee-Romance Espírita GayOnde histórias criam vida. Descubra agora