CAPÍTULO 30

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Dona Mirtes tinha um sorriso agradecido quando Otávio puxou a cadeira pra sentar-se ao lado dela e já pegar a mão que a idosa lhe estendia.

_Meu bom amigo, que bom que você veio logo! Obrigada! Chegou a minha hora..._lamentou a mulher._Mas confesso que não estou com medo, pois sei que não vou sofrer e será uma partida tranquila, graças a você!

Otávio sorriu pra ela e beijou-lhe as mãos que já estavam frias e quase sem forças...realmente os sinais indicavam que chegara a hora de dona Mirtes. 

Ele sabia que já devia ter se acostumado com essas partidas, mas sabia também que cada pessoa era única, assim como a ausência que ficaria em seu coração. Realmente, sentia como se todos fizessem parte de sua família.

_Um bom momento para quem soube aprender as lições da vida, dona Mirtes._Otávio fez um carinho no rosto que aprendera a amar.

_Obrigada, doutor, pelo carinho de sempre. Deus é presente em sua face, em sua pessoa, em suas palavras._dona Mirtes deixou uma lágrima emocionada rolar pelo rosto._Sentirei saudades.

_Eu também. Saiba que sempre estará em meu coração, minha cara!

_Será que dona Zilda e Marlene estarão lá me esperando?_ela quis saber curiosa.

_Certamente, minha amiga, certamente..._ele torceu para que as duas estivessem ali escutando e que atendessem ao pedido da moribunda.

Otávio escutou com atenção e carinho as palavras que dona Mirtes queria deixar. Ele sabia que aquelas últimas palavras, o último legado ao mundo físico eram muito importantes para quem falava e também para quem escutava.

As pessoas em seus últimos momentos de vida pareciam  ser invadidas por uma luz e uma sabedoria que valiam a pena serem valorizadas, Otávio já sabia. Considerava um privilégio estar ali naquele momento!

Era um momento de muito respeito deixar que ela falasse o quanto quisesse...o quanto aguentasse, como se tivesse esperança de que ele registrasse as suas últimas palavras para sempre.

Não foi o relato  de seus bons tempos de criança, jovem, esposa e mãe que mais chamaram a atenção de Otávio, mas sim o que veio depois.

Dona Mirtes fez um gesto de cabeça que foi muito familiar para o médico e ele a olhou com as sobrancelhas franzidas e perguntou cautelosamente e ainda incrédulo:

_Dona Mirtes...quer me contar mais alguma coisa?

Ela deu um suspiro que não era condizente com a sua condição física atual, o que chamou mais ainda a atenção de Otávio que esperou ansioso pelas próximas palavras.

_O garoto precisa se sentir perdoado, amado, amparado por vocês dois, meu bom amigo. Ajude-o, Otávio!

Otávio sentiu um arrepio na nuca...uma sutil  corrente elétrica lhe sacudir o corpo e, mais uma vez, lembrou-se do episódio em que dona Zilda havia morrido.

_Dona Zilda?_perguntou cautelosamente._É a senhora?

_Zilda vibra por vocês três, mas em esferas mais elevadas, pois ela conquistou o merecimento de não mais precisar voltar a este plano, Otávio._explicou a mulher cautelosamente sorrindo pra ele com carinho.

Otávio abriu um largo sorriso:

_Marlene! Que satisfação ter você aqui novamente comigo, querida amiga!

Ela assentiu apertando as mãos dele entre as suas.

_Eu estou aqui e sempre estarei aqui para ajudá-lo, meu caro amigo.

A ÚLTIMA CHANCE-Armando Scoth Lee-Romance Espírita GayOnde histórias criam vida. Descubra agora