CAPÍTULO 26

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Instintivamente, Lucas agarrou o braço de Otávio quando Joaquim Francisco encarou os dois recém-chegados com uma certa malícia no olhar e com a mão enfiada debaixo da toalha branca semiaberta.

_Deixa eu ver se acertei: vocês são os dois veados que dirigem isso aqui, acertei? -perguntou o rapaz de forma desprezível.

Ele não esperou os dois responderem e caiu na gargalhada:

_Acham que me enganam? Um com cara de predador satisfeito  que voltou da caça e o outro com cara de quem deu o rabo a noite toda e que está bem satisfeito por ter sido muito bem  comido! 

Felizmente, as pessoas estavam fora do alcance de ouvirem aqueles comentários maldosos, mas mesmo assim, enquanto Otávio ficava sério e indignado com o comentário atrevido, Lucas ficou extremamente envergonhado!

_Agarrado ao seu macho deste jeito, deve estar até com as pernas bambas!_Joaquim gargalhou novamente._Falem o preço da orgia  e me metam logo no meio desta lambança, rapazes...e aproveitem que eu já estou pelado e de pau duro!

Otávio conhecia o tipo, pois eram anos de experiência com pessoas doentes! A negação era uma das maneiras que eles usavam como forma de defesa para encarar a realidade em que viviam.

Pessoas assim, o oncologista sabia, se escondiam  atrás de comportamentos que impediam as outras de sentirem pena, compaixão pelo seu estado. Ainda conservando o seu orgulho próprio,  Otávio já vira pacientes com câncer que gostavam de jogar com os sentimentos dos outros, manipular para se sentirem ainda no controle da situação. 

Ao mesmo tempo em que a agressividade impedia que a compaixão surgisse, também as vítimas daquelas agressões não tinham coragem de revidar na mesma moeda, por lembrarem-se exatamente que era uma pessoa doente ali a sua frente! Aquela primeira impressão já deixava claro que Joaquim sabia bem como fazer aquilo!

Otávio resolveu agir com autoridade e profissionalismo e  falou firme e com o semblante sério:

_Joaquim Francisco...

_Êita, porra!_Joaquim interrompeu o médico de maneira grosseira levantando a mão._Pode parar!

O rapaz...xerox do pai...era de estatura mediana, cabeça raspada, provavelmente pelas tentativas infrutíferas de quimioterapia. Joaquim era  negro, franzino  e longe de parecer ter dezoito anos! Quatorze anos seria o mais certo de se pensar a respeito de sua aparência.

_Eu não respondo por estes dois nomes ridículos de caipiras!_falou agarrando a cabeça como se fosse arrancá-la._Me chamem de Quim ou não terão a minha atenção!

Otávio não se importou em atender aquela primeira exigência, pois sabia que isso não interferiria em nada por ali:

_Quim, eu sou o Otávio, diretor desta casa...

O péssimo hábito de interromper as pessoas certamente havia sido herdado do pai, avaliou Otávio.

_O ativaço...o dominante..._Quim gemeu de maneira indecente e provocante._Saiba que o meu convite sempre estará de pé, é só arranjar uma cama pra três!

Otávio decidiu ignorar aquele comentário e continuou tentando manter o controle:

_E este é o Lucas, meu braço direito.

Quim gemeu mais uma vez apertando o pau por cima da toalha:

_Seu namorado com cara de quem geme gostoso e faz uma gulosa de revirar os olhos! Dois delícias vocês!

A ÚLTIMA CHANCE-Armando Scoth Lee-Romance Espírita GayOnde histórias criam vida. Descubra agora