CAPÍTULO 24

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Foi um prazo  curto para prepararem tudo o que precisavam para receberem o novo hóspede que já vinha com aquela fama negativa que o precedia.

Joaquim Francisco, filho do empresário Paulo,  seria o caçula da casa de ajuda aos portadores de doenças terminais e que recebiam cuidados paliativos sob a orientação  de Otávio.

_Por que você insiste em chamar aqui de casa, Otávio?_Paulo quis saber olhando em volta e sabendo que todos ali poderiam morrer a qualquer momento.

_Oferecemos assistência a pacientes que têm doenças graves incuráveis que ameaçam a continuidade de suas  vidas._explicou Otávio._ As pessoas que passam por aquela porta de entrada  sabem que não  encontrarão aqui a cura, mas apenas um tratamento paliativo que irá aliviar o sofrimento delas. Não somos um hospital, Paulo, não vamos curar ninguém. Quem está aqui já esgotou todas as esperanças de cura e, por isso, chamar de lar, chamar de casa, de instituição é melhor, na minha opinião, pois humaniza, dá um conforto, um aconchego maior para estas pessoas.

_E  você literalmente mora aqui.

_Moro. Esta é a minha casa...este é o meu lar e aqueles que vêm morar comigo esperam se sentir bem, serem aqui cuidados, sem dor, sem sofrimento para que possam aproveitar até o último momento de suas vidas. Seria bom se você explicasse tudo  isso ao seu filho.

Paulo ficou em silêncio e Otávio o respeitou, afinal era o filho único dele que logo entraria ali para não mais sair.

_Já aconteceu de alguém surpreender você e ser curado...tipo acontecer um milagre?_o pai perguntou esperançoso.

_Não trabalhamos contando  semanas, meses, anos..._explicou o médico._Trabalhamos com qualidade de vida, trabalhamos com períodos sem dor, isso é o que importa para cada uma dessas pessoas que estão aqui. Não me interessa a expectativa  de vida do seu filho, porque não é esse o meu foco, entende? Ele está vindo para ficar bem, isso é o que importa!

Paulo assentiu resignado.

O relatório dos últimos psicólogos de Joaquim Francisco eram desanimadores. Nenhum chegava a ter duas, três sessões com o rapaz. Certamente ele os desprezava, pelo que o pai havia relatado.

O rapaz era afrontoso, tinha problemas para seguir regras, respeitar hierarquias, obedecer autoridades, especialmente a do pai...usava palavras de baixo calão, era atrevido, arrogante, mal agradecido e o pior ainda estava por vir.

_Ele ainda não sabe que está morrendo._confessou o pai já sabendo que seria criticado por aquilo.

_Como assim?_Otávio olhou para o amigo confuso._Ele não sabe que tem uma doença terminal?

_Não tive coragem de contar pra ele, pois por muito menos ele já tentou contra a própria vida duas vezes!

_Mas como conseguiu esconder isso diante dos tratamentos, dos remédios, dos exames...

_Eu comprei todos que o rodearam até então apenas para que eles mantivessem sigilo absoluto quanto a isso. Aliás, somente as pessoas que realmente necessitavam saber disso, souberam disso. Para todos os outros, ele tem sim uma doença grave, mas acham que ele está fazendo tratamento e que vai ser curado ao final._esclareceu o pai.

Otávio negou com a cabeça revoltado:

_Eu não trabalho assim...eu não trabalho com uma mentira  dessas e me recuso a participar desta farsa! A vida é dele e ele tem o direito de escolher como quer viver o restante dela! Ele é jovem e certamente deve ter algum sonho que queira ainda realizar!  De repente ele quer passar os seus últimos  dias pescando, quer viver uma história de amor, ou escalar o Monte Everest, sei lá!

A ÚLTIMA CHANCE-Armando Scoth Lee-Romance Espírita GayOnde histórias criam vida. Descubra agora