CAPÍTULO 14

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Lucas e Otávio estavam muito emocionados com a experiência que tinham vivido juntos!

Para Otávio era bom finalmente ter revelado a Lucas que ele já sabia que haviam estado juntos em várias encarnações...era como se um peso enorme tivesse sido retirado de seus ombros.

Para Lucas, também, aquilo havia confirmado que ele não estava imaginando coisas, ou mesmo enlouquecendo, porém ele sabia que teria que dar um jeito de investigar se Otávio sabia sobre Cassius.

Otávio decidiu  não ir ao quarto de Lucas temendo parecer que ele estava forçando a barra. Porém, já havia mandado alguém ir olhar o rapaz três vezes naquele intervalo em que não se viam, pois parecia que Lucas preferiu permanecer dentro do quarto durante o jantar.

_Nunca vi a nossa casa tão serena, tão tranquila como hoje, doutor._disse uma das funcionárias._É como se Marlene e dona Zilda tivessem partido deixando uma bênção maravilhosa sobre todos nós. Até uns e outros que pedem uma segunda dose de analgésicos estão mais controlados hoje. Até mesmo o Matias,  viciado em morfina e que quer renovar o estoque a cada duas horas hoje está mais controlado.

Otávio sorriu saudoso da presença das duas amigas. Lembrava-se de dona Zilda um dia ter lhe falado a respeito de Matias, chamando-lhe a atenção:

_E por que não liberam a morfina pro infeliz, meu Deus? O que mais ele pode esperar da vida a não ser esta euforia de andar cantando e assobiando pelos corredores sob o efeito da droga? Um pouco mais ou um pouco menos não irá mudar o quadro dele! Os médicos deram dois meses pra ele e ele já está aqui há mais de um ano! Está claro que a morfina não está fazendo tão mal assim, não acha?

E era verdade...ele tomava a sua morfina e saía cantando e assobiando ruidosamente, pois já tinha perdido vários órgãos para o câncer, inclusive do trato gastro intestinal. Era impressionante ainda conseguir cantar e assobiar.

_Estar morrendo tem lá as  suas vantagens..._comentara um dos internos que era diabético e já fora desenganado justamente devido à falência dos órgãos como sequela da doença._Antes de vir pra cá, eu passava era fome, doutor! Por que raios me deixavam passando fome se já sabiam que não iria adiantar? Aqui é onde todos os nossos últimos desejos são realizados!  Eu estou morrendo mesmo, gente! Deixa eu comer os meus doces e ter uma partida bem açucarada e, de preferência, com uma latinha de Coca-Cola bem gelada na mão!

Otávio olhou em volta...tantas carinhas satisfeitas e sem dor...Diabéticos comendo doces...um dos internos que tinha câncer nos dois pulmões empregava o seu último fôlego fumando um cigarro num canto...e por incrível que pareça, satisfazer aqueles desejos pareciam dar uma energia nos pacientes desenganados  que a maioria surpreendia os médicos e familiares extrapolando o tempo de vida previsto.

_O que mata não é a doença, doutor! O que mata é a privação da vida que as pessoas que nos rodeiam nos impõem!_alguém ali lhe dissera._Agora que estou aqui no meio de tantas pessoas que vivem o mesmo drama que eu...que me entendem, acho que vou lutar pela vida até quinze minutos depois de morto!

_E eu?_outro havia completado._Se estivesse lá em casa, já estaria na terra dos pés juntos comendo capim pela raiz! Eu quero morrer é estando vivo, isso sim! 

_O senhor está com um semblante cansado. Sei que tinha um carinho especial por Marlene._comentou uma funcionária chegando perto dele e o tirando de seus pensamentos._Marlene vai fazer falta, viu?! Ela tinha um jeitinho todo especial  pra acalmar alguns internos quando eles se desesperavam! 

_É verdade...Ela vai fazer muita falta sim. O que nos conforta é ter a certeza de que nossa amiga teve uma boa morte, Martinha. Nenhum gemido ou sinal de dor foi percebido na hora da partida._suspirou com a sensação de dever cumprido._Eu não me perdoaria se Marlene tivesse ido no meio da dor, do sofrimento...Ela partiu tão tranquila...

A ÚLTIMA CHANCE-Armando Scoth Lee-Romance Espírita GayOnde histórias criam vida. Descubra agora