CAPÍTULO 19

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Conforme Otávio previra, ninguém de fora viera ao velório de Aldo, por isso, a cerimônia fora super rápida.

O médico buscou o homem amado para que juntos contassem a novidade aos internos que eram tão  carentes de milagres por ali.

As pessoas ficaram felizes pelo fato de Lucas ter recuperado a sua visão, porém, as comemorações eram quase num sussurro, super discretas,  visto que o luto ainda era muito recente.

O médico sentiu pena do homem que amava e que teve que também sussurrar e  se conter em sua felicidade ali naquele local tão impregnado de dor e de agonia pela perda de mais um dos internos. 

A sugestão veio de uma das funcionárias de forma discreta,  sussurrada no ouvido de Otávio:

_Acho que isso merece uma comemoração, doutor! Leve o Lucas para algum lugar, comemore com ele, tadinho! Deixe que nós cuidamos de tudo por aqui, fique tranquilo.

Otávio entendeu que diante de alguém como Aldo, o certo realmente seria não se abater a ponto de privar Lucas, o homem que amava, de sua merecida comemoração.

O médico adiantou todo o seu serviço, fez as recomendações necessárias e já deixou Lucas avisado de que à noite, quando todos já estivessem em seus quartos, os dois iriam discretamente sair pra comemorarem.

Lucas estava entusiasmado, pois poderiam considerar  que aquele seria oficialmente o primeiro encontro deles, num lugar totalmente neutro onde poderiam se soltar sem medo de julgamentos, sem medo de que alguém necessitasse da presença urgente do médico, sem receio de que a morte mais uma vez viesse fazer o seu papel.

Otávio nunca mais tinha saído para passear, depois que fora demitido do hospital por causa da morte de dona Zilda. Era mais de um ano de vida dedicada única e exclusivamente aos seus  pacientes de cuidados paliativos.

Irônico aquilo, dona Zilda dissera certa vez, ele ensinava às pessoas a tirarem o máximo de proveito  da vida, a aproveitarem  até o último momento e ele mesmo não fazia aquilo! 

_Você morre e  fica tudo aí!_uma das internas sempre dizia._Um homem bonito deste jeito e enclausurado feito um monge! Vai namorar, vai ser feliz! Depois, quando as pelancas tomarem conta de todo o seu corpo, quem vai te querer?

Estar quebrando aquele jejum de tanto tempo  ao lado de um homem tão especial encheu o coração do médico de ansiedade.

Saíram discretamente, com as bênçãos e o apoio de pessoas mais próximas. Lucas ia com um sorriso iluminado no rosto, olhando tudo a sua volta, pois quando viera para aquela cidade, ainda ao lado de Marlene/dona Zilda, ele ainda era cego e não pudera ver nada.

Otávio sorriu satisfeito vendo o entusiasmo de Lucas diante de cada coisa que via...diante de cada cor, cada movimento, cada imagem que lhe interessava. 

Lucas não acreditou quando Otávio manobrou para entrarem num motel!

_Jesus! Acho que este homem está muito mal intencionado..._brincou Lucas após um suspiro de satisfação.

_Completamente mal intencionado!_brincou  Otávio._Mas você ainda pode desistir, se quiser.

_Sem chance! Acelere aí, anda!_disse batendo no painel de maneira atrevida._Não temos a noite toda, homem!

Otávio controlou-se pra  não revelar que teriam sim a noite toda. Aquela informação seria uma surpresa pra mais tarde...

O médico acreditou que só de ver a expressão de surpresa e satisfação no rosto de Lucas já valia a pena estarem ali. Quis acreditar que o plano espiritual não lhes privaria uma noite de amor, antes de Cassius aparecer, claro.

A ÚLTIMA CHANCE-Armando Scoth Lee-Romance Espírita GayOnde histórias criam vida. Descubra agora