CAPÍTULO 9

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Lucas decidiu confiar completamente naquela mulher que tentara alertá-lo sobre tudo o que agora acontecia em sua vida.

Dona Marlene dirigiu por um longo tempo em silêncio, após informar que já havia buscado as coisas de Lucas. De sua antiga casa, ele preferia não levar nada, pois o que havia ali de mais importante não existia mais!

Foi estranho sair do hospital sem nunca ter visto os rostos dos médicos e dos enfermeiros...sem se despedir de parentes e amigos que agora ele sabia que já não deveria considerá-los assim mais. Era como se todos o houvessem abandonado e imaginou que ficariam aliviados quando descobrissem que ele não seria um fardo para nenhum deles.

O rapaz acreditou que já não tinha mais lágrimas pra derramar pelos pais, muito menos pela desgraça que invadira a sua vida. Uma certa apatia havia tomado conta dele com o passar dos dias e, por isso, ele  praticamente não trocou uma única  palavra com a sua acompanhante.

Em sua mente só lhe vinha a imagem dos pais caídos no chão da cozinha...a agonia por imaginar o quanto eles haviam sofrido até morrerem não lhe dava paz!

_Eles não sofreram, apenas desencarnaram juntos, em paz._Marlene, ao volante do carro,  falou como se lesse os pensamentos dele.

Lucas não sabia como deveria chamá-la...Marlene? Dona Zilda?

_Sou dona Zilda. Marlene não sabe dirigir._ela falou mais uma vez deixando claro que sabia  o que ele estava pensando.

Talvez Lucas tivesse ficado apreensivo, acreditando que o carro estava sendo dirigido por uma mulher que não tinha carteira...Se a polícia os parasse, como ela iria se virar? Descartou a preocupação, pois tinha outras maiores com que se ocupar.

_Eles foram esfaqueados, dona Zilda..._Lucas disse com a voz fraca pela emoção._Impossível não terem sofrido.

_Deus todo misericordioso já os havia arrebatado quando eles foram golpeados, já que a passagem deles já fora determinada. Que tipo de pai permitiria que o seu filho amado ficasse preso dentro de sua própria casa, ou o seu corpo físico, pra você entender melhor,  sentindo aquela  dor? Seres de luz foram destacados para que os seus pais fossem resgatados e se eles pudessem falar com você agora, talvez dissessem que foi um piscar de olhos o abandono do corpo que até então abrigava as suas almas._disse dona Zilda  com a sua voz calma e amigável. _Não deve mais sofrer tanto  por eles, Lucas. Eu lhe garanto que eles estão bem amparados, em paz.

Lucas não comentou nada, pois acreditou que ela  estava sendo misericordiosa ao tentar fazer com que ele não pensasse nos últimos momentos dos pais dele. Numa coisa ele concordava com ela: se alguém merecia ir para o céu e ficar  bem após a morte, com certeza seriam os seus pais, pois sempre haviam sido pessoas boníssimas. 

_Deve estar curioso sobre o lugar pra onde eu estou te levando._ela comentou.

_Não...não me importo, dona Zilda._ele falou deprimido._Na verdade, só queria sair dali, onde já me sentia rejeitado por todos. Quem quer cuidar de um homem cego e que não tem dinheiro algum, que não tem garantia alguma de que poderá novamente trabalhar pra se sustentar?

_Meu pai costumava dizer que a vida é uma eterna troca de figurinhas. É por causa do egoísmo que quase ninguém completa o álbum._ela sorriu saudosa._Tenho certeza de que se fosse o contrário, você os ampararia.

Lucas tinha que concordar. Certamente, se fosse algum de seus parentes, ou amigos, ele daria um jeito...não os abandonaria à própria sorte daquele jeito.

_Procure dormir um pouco, filho, ou pelo menos tente  descansar durante a viagem. Logo você estará  entre amigos verdadeiros  e não precisará  se preocupar com nada.

A ÚLTIMA CHANCE-Armando Scoth Lee-Romance Espírita GayOnde histórias criam vida. Descubra agora