CAPÍTULO 16

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As horas se tornaram dias...os dias se tornaram semanas e logo já haviam se passado duas semanas que  Lucas e Otávio  estavam se conhecendo melhor.

O respeito por Otávio foi medido pela discrição  que os internos e funcionários demonstraram sem fazerem perguntas, ou mesmo sem jogaram piadinhas quanto ao médico ir dormir no quarto de Lucas todas as noites.

_Que amizade o quê?! Deixa de ser boba! Eles estão namorando, Vilma!_Otávio ouvira  duas senhoras cochichando certa vez e fingiu que não escutava a conversa._E duro com duro não faz bom muro! Como vão fazer bebês?

As duas já com mais de oitenta anos,  já tendo a memória e as faculdades mentais em declínio devido inclusive às doenças terminais das quais eram portadoras, daí o médico não se sentir tão ofendido assim pelo preconceito.

_Pare com isso, Estela! São apenas bons amigos, não vê? Pra que colocar maldade? E mesmo que fosse...não vai ser você quem irá lá perguntar, não é mesmo?_a outra a repreendeu._E fale baixo que daqui a pouco ele escuta e botará  nós duas pra corrermos  daqui!

Estela bufou irritada por ter sido repreendida pela amiga.

_Eu estou falando baixo, você é que está gritando! Seja como for, talvez os dois se curem daqui a pouco desta veadagem, pois os dois têm cara de homem, jeito de homem, voz de homem, postura de homem...então ainda dá tempo de se curarem e se livrarem do inferno!_ela fez o sinal da cruz.

Por experiência, Otávio só esperou pra confirmar o que já sabia que iria acontecer...Um segundo depois, Estela perguntou:

_Gente, a minha cabeça tá ruim mesmo, menina...De que estávamos falando mesmo?

_Você só não esquece a cabeça na pia do banheiro,  porque ela está colado no pescoço..._a amiga riu superior._Eu estava te falando que hoje teremos peixe no almoço!

_Já tivemos, você quer dizer...porque já almoçamos, sua caduca! Esqueceu, Emília?_a outra riu trocando  o nome da amiga.

Otávio afastou-se discretamente das duas idosas que ainda discutiam, acreditando que ali estava um exemplo de que não haveria maiores problemas quanto a sua postura. Os problemas de saúde já tomavam grande parte do tempo dos internos, quase não sobrando espaço  para que eles se ocupassem a fundo das vidas das outras pessoas. Logo, logo os que ainda estavam curiosos  deixariam de especular, por isso ele não se preocupou.

O médico aproveitou aquele  período de folga antes do almoço e foi conversar com Lucas que gostava de ficar no jardim da clínica tomando sol.

_Você está calado hoje._disse Otávio chegando perto de Lucas.

Lucas sorriu, feliz por perceber o quanto os dois estavam ficando cada vez mais sintonizados. A esperança de que os céus os livrassem da aproximação e da ação de Cassius ainda estava viva no coração do rapaz  e ele ainda acreditava num milagre.

_Hoje a minha mãe faria aniversário, se ainda estivesse viva, Otávio._suspirou emocionado._A gente comprava um bolinho na padaria, alguns refrigerantes...ela assava o seu famoso empadão...era tão bom!

Lucas deixou que as lágrimas rolassem pelo seu rosto e Otávio segurou a sua mão com carinho.

_Meu pai sempre lhe dava rosas vermelhas, porque ela amava rosas vermelhas. Eu já gostava sempre de dar algo que ela estava precisando, como um vestido, um perfume, um par de  sapatos...nada caro, nada muito luxuoso, pois ela sabia que eu ganhava pouco e entendia que era de coração aquele agradinho...mas sabia que se eu pudesse, daria o céu pra ela! 

A ÚLTIMA CHANCE-Armando Scoth Lee-Romance Espírita GayOnde histórias criam vida. Descubra agora